Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Como foram feitas as catedrais medievais?
O renomeado historiador da arte Émile Mâle descreve alguns aspectos do ambiente de fervor na construção da catedral de Chartres, de causar admiração. Eis o texto:
A história da catedral de Chartres, aquela que temos sob os nossos olhos, marcou o início do século XII.
A velha catedral, que havia sido levantada pelo bispo D. Fulberto (952-970 –1028) nos primeiros anos do século XI e que fora restaurada por Santo Ivo (1040 – 1115), ainda estava de pé, mas começando a parecer modesta demais.
As gerações heroicas que fizeram as cruzadas tinham o amor da grandeza. Um pouco antes da metade do século XII, deliberaram levantar um campanário isolado a alguma distância da fachada.
Aconteceu que, no século XII, da mesma maneira que nos tempos antigos, a torre foi concebida como edifício separado que não se ligava ao resto da igreja.
Esta foi a origem da torre norte, que Jean de Beauce completou no século XVI com uma flecha de estilo gótico flamejante.
Mas logo o senso da simetria levou a reproduzir, fazendo pendant do lado sul, um campanário similar.
Decidiu-se que as duas torres já não mais ficariam isoladas, mas reunidas à catedral, que seria ampliada até encontrá-las.
Finalmente, decidiu-se construir, mais além da antiga fachada do século XI, uma outra, muito mais magnífica, que seria embelezada com esculturas e que tornaria a catedral verdadeiramente digna de Nossa Senhora.
Esta fachada deveria aparecer por trás das duas torres, que a emoldurariam com sua poderosa projeção e a banhariam com uma meia luz propícia para ressaltar o mistério das esculturas.
Tal era a intenção primitiva da nova fachada que alguns anos depois foi mudada para frente e reedificada entre as duas torres.
Essas altas torres, que se erguiam em louvor de Nossa Senhora, suscitaram na região de Chartres um entusiasmo que nos pareceria inacreditável se não fosse atestado por muitos relatos contemporâneos.
Nós entrevemos aqui algo do gênio do século XII, que é um dos grandes séculos de nossa história.
Em 1144, Robert de Torigni, abade do Monte Saint-Michel, escreveu em sua Crônica:
Robert de Torigni nos assegura que o exemplo veio de Chartres, e nada é mais exato.
Em uma carta escrita no ano seguinte, Haimon, abade de Saint-Pierre-sur-Dives, confirma ponto por ponto esta narração. Ele conta aos monges ingleses de Tutbury os eventos extraordinários que aconteciam nesse momento sob seus olhos na Normandia.
No mesmo ano de 1145, uma carta de Hugo, arcebispo de Rouen, dá a conhecer a Thierry, bispo de Amiens, eventos em tudo similares.
Ele lhe informa que os normandos, tendo ouvido falar do que estava acontecendo em Chartres, ficaram determinados a imitar aquilo que tinham visto.
Eles constituíram associações e, após terem confessado seus pecados, se atrelaram às carroças sob a liderança de um chefe.
“Nós permitimos – acrescenta o arcebispo – a nossos diocesanos praticarem esta devoção em outras dioceses”.
Esta preciosa passagem nos prova que muitas outras igrejas, cujos nomes ficaram desconhecidos para nós, foram construídas dessa maneira.
A fecundidade artística do século XII tem qualquer coisa de prodigioso. Há na França vastas regiões onde quase não há uma igreja de aldeia que não remonte ao século XII.
Ficamos espantados quando pensamos em todo o talento, todo o trabalho e todos os recursos empregados para realizar essa imensa obra.
Houve então um impulso de fé, de abnegação, um espírito de sacrifício, do qual a construção das torres de Chartres é o mais belo exemplo.
A velha catedral, que havia sido levantada pelo bispo D. Fulberto (952-970 –1028) nos primeiros anos do século XI e que fora restaurada por Santo Ivo (1040 – 1115), ainda estava de pé, mas começando a parecer modesta demais.
As gerações heroicas que fizeram as cruzadas tinham o amor da grandeza. Um pouco antes da metade do século XII, deliberaram levantar um campanário isolado a alguma distância da fachada.
Aconteceu que, no século XII, da mesma maneira que nos tempos antigos, a torre foi concebida como edifício separado que não se ligava ao resto da igreja.
Esta foi a origem da torre norte, que Jean de Beauce completou no século XVI com uma flecha de estilo gótico flamejante.
Mas logo o senso da simetria levou a reproduzir, fazendo pendant do lado sul, um campanário similar.
Decidiu-se que as duas torres já não mais ficariam isoladas, mas reunidas à catedral, que seria ampliada até encontrá-las.
Finalmente, decidiu-se construir, mais além da antiga fachada do século XI, uma outra, muito mais magnífica, que seria embelezada com esculturas e que tornaria a catedral verdadeiramente digna de Nossa Senhora.
Esta fachada deveria aparecer por trás das duas torres, que a emoldurariam com sua poderosa projeção e a banhariam com uma meia luz propícia para ressaltar o mistério das esculturas.
Tal era a intenção primitiva da nova fachada que alguns anos depois foi mudada para frente e reedificada entre as duas torres.
O entusiasmo das multidões
Essas altas torres, que se erguiam em louvor de Nossa Senhora, suscitaram na região de Chartres um entusiasmo que nos pareceria inacreditável se não fosse atestado por muitos relatos contemporâneos.
Nós entrevemos aqui algo do gênio do século XII, que é um dos grandes séculos de nossa história.
Em 1144, Robert de Torigni, abade do Monte Saint-Michel, escreveu em sua Crônica:
“Neste ano, se viu em Chartres fiéis que se atrelavam a carros carregados com pedras, madeira, trigo e tudo o que poderia ser usado nos trabalhos da catedral, cujas torres cresciam como por arte de magia.
“O entusiasmo tomou conta da Normandia e da França: em todos os lugares se viam homens e mulheres arrastar fardos pesados através de pântanos lamacentos; por toda parte se fazia penitência, em todo lugar perdoavam-se os inimigos”.
Robert de Torigni nos assegura que o exemplo veio de Chartres, e nada é mais exato.
Em uma carta escrita no ano seguinte, Haimon, abade de Saint-Pierre-sur-Dives, confirma ponto por ponto esta narração. Ele conta aos monges ingleses de Tutbury os eventos extraordinários que aconteciam nesse momento sob seus olhos na Normandia.
“Acabam de formar-se confrarias – disse-lhes – à imitação daquela que nasceu na catedral de Chartres. Vemos milhares de fiéis, homens e mulheres, se atrelarem a pesados carros carregados com tudo o que é necessário para os operários: madeira, cal, vinho, trigo, óleo.
“Entre aqueles servos voluntários há senhores poderosos e mulheres de nobre berço. Entre eles reina a mais perfeita disciplina e um profundo silêncio.
“Durante a noite, eles se reúnem num acampamento com suas charretes, o iluminam com velas e entoam cânticos.
“Eles trazem seus doentes, na esperança de que serão curados.
“Está estabelecida a união dos corações; e se alguém está tão endurecido que não perdoa seus inimigos, a sua oferenda é removida da charrete como algo impuro, e ele próprio é expulso com nota de ignomínia da sociedade do povo santo”.
No mesmo ano de 1145, uma carta de Hugo, arcebispo de Rouen, dá a conhecer a Thierry, bispo de Amiens, eventos em tudo similares.
Ele lhe informa que os normandos, tendo ouvido falar do que estava acontecendo em Chartres, ficaram determinados a imitar aquilo que tinham visto.
Eles constituíram associações e, após terem confessado seus pecados, se atrelaram às carroças sob a liderança de um chefe.
“Nós permitimos – acrescenta o arcebispo – a nossos diocesanos praticarem esta devoção em outras dioceses”.
Esta preciosa passagem nos prova que muitas outras igrejas, cujos nomes ficaram desconhecidos para nós, foram construídas dessa maneira.
A fecundidade artística do século XII tem qualquer coisa de prodigioso. Há na França vastas regiões onde quase não há uma igreja de aldeia que não remonte ao século XII.
Ficamos espantados quando pensamos em todo o talento, todo o trabalho e todos os recursos empregados para realizar essa imensa obra.
Houve então um impulso de fé, de abnegação, um espírito de sacrifício, do qual a construção das torres de Chartres é o mais belo exemplo.
Vídeo: construção da catedral Notre Dame de Paris
(Autor: Émile Mâle, da Académie Française, Notre-Dame de Chartres, Flammarion, Paris, 1994, 190 páginas, p.23-26.)
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