quinta-feira, 21 de junho de 2018

O gótico e a conjugação da força com a delicadeza em Londres

St Giles, Cheadle, arquitectura de Augustus Welby Pugin
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Augustus Welby Pugin foi filho de um arquiteto francês de origem nobre, emigrado durante a Revolução de 1789.

Nasceu em Londres, a 1º de Março de 1812. Porém, foi educado pela mãe num rígido calvinismo.

Em 1834, aos 19 anos de idade, ele descobriu a arte medieval e se tornou católico.
“Fiquei perfeitamente convencido de que a Igreja Católica, Apostólica, Romana é a única verdadeira. Aprendi as verdades da Igreja Católica nas criptas das velhas igrejas e catedrais européias.

Procurei verdades na moderna igreja da Inglaterra (protestante anglicana) e vim a descobrir que ela, desde que se separou do centro da unidade católica, tinha pouca verdade e nenhuma vida. Dessa maneira, e sem que tivesse conhecido um só sacerdote, ajudado apenas pela graça e misericórdia de Deus, resolvi entrar na sua Igreja”.
Pugin exerceu um apostolado especial: ele reanimou a alma inglesa, ressequida pelo protestantismo. Para isso ele criou obras em estilo gótico medieval renovado. Hoje elas atraem e empolgam milhões de turistas. Por exemplo, o Parlamento de Londres e a celebérrima torre do Big-Ben.



Parlamento de Londres arquitetado por Augustus Welby Pugin
Nas igrejas que que construía, ele fez questão que as cerimônias sagradas fossem cheias de pompa e que só usassem a música gregoriana.

Uma testemunha que assistiu a missa inaugural da capela do seminário de Oscott afirmou se sentir num ambiente de sonho quando a luz do sol começou a jorrar através dos vitrais, fazendo as paredes resplandecerem em ouro e púrpura.

Catedral de Lincoln
Catedral de Lincoln
Na primeira missa de uma igreja em Derby, o lorde que construiu o templo, por conselho de Pugin, negou-se a permitir que usassem magníficos paramentos de ouro que ele doara, a não ser que se dispensasse um enorme coro polifônico, que incluía orquestra e mulheres, e só se cantasse o gregoriano.

A fachada do Parlamento inglês produz uma impressão parecida com a que dá a Sainte Chapelle de Paris.

Tem-se a sensação de que a Igreja Católica deixou algumas das melhores marcas de sua própria alma. De tal maneira aquilo é acertadamente católico.

Retamente católico, acertadamente católico, por causa do que? O que tinha aquilo de especial?

Não era, por exemplo, o que tem de especial a catedral de Colônia.

A catedral de Colônia é uma explosão de pedra, de uma grandeza extraordinária.

Lá a razão não está tão presente quanto a imaginação germânica no que ela tem de categórico.

Parlamento de Westminster e Big-BenNão é uma imaginação suave, poética, doce, mas é a imaginação de uma pessoa que quer uma epopéia grandiosa e marcar todos os séculos com uma nota de grandeza que fosse mais do céu do que da terra.

A nota saliente da catedral de Colônia é o fantástico que o espírito possante realiza.

Na catedral de Notre Dame de Paris nós encontramos a conjugação da fantasia com a razão. A fantasia imaginou algo extraordinário.

Depois a razão colocou tudo em ordem, introduziu simetrias, bons sensos, harmonias quase clássicas, sem tirar nada do medieval extraordinário.

Big-Ben, de Augustus Welby PuginA fachada do Parlamento e o Big-Ben representam a conjugação da força e da delicadeza. Há muita delicadeza naquela fachada.

Ela é toda feita de linhas longas que se repetem e de um grande amplitude de horizonte.

Ela não tem o élan de Colônia, nem a harmonia superlativa de Paris.

Ela uma grande dignidade, elevação, nobreza, com alguma coisa de sereno, de senhor de si e de afável, e ao mesmo tempo de sacral e de sério.

Ela reúne extremos opostos. E toda obra de arte quando reúne extremos opostos e até aparentemente contraditórios, realiza algo de supremo.

A idéia de grandeza estável, da grandeza que se senta sobre seu próprio poder e se põe a meditar.

O Big-Ben é uma maravilha que merece ser justaposta a esse edifício.

A ter uma torre, deveria ser daquele jeito: tão coerente, tão lógica, tão bela, mas com essa doçura, essa suavidade dos ingleses que o gênio católico colocou ali pela mão de Pugin, que soube comunicar um sopro católico àquilo tudo.

Como isso é diferente da imagem da Inglaterra protestante! Essa Inglaterra não é a Inglaterra do Palácio nem do Big-Ben.

É uma Inglaterra que o protestantismo deformou com o senso monetário.

No espírito inglês de antes do protestantismo havia ausência desse espírito monetário.

É uma Inglaterra feita para conquistas de ordem cultural e muito menos uma Inglaterra feita para conquistas de ordem material.

Plinio Corrêa de Oliveira. Texto sem revisão do autor.




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