Catedral São Pedro de Beauvais. |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Entrando na catedral medieval, a primeira coisa que impressiona a alma é a sublimidade das grandes linhas verticais.
A nave da catedral de Amiens comunica uma insofismável sensação de purificação, porque a beleza pura da imponente catedral age como um sacramento.
Ali, mais uma vez, a catedral é uma imagem condensadora do universo.
Do mesmo modo que a planície ou a floresta, a catedral tem atmosfera e perfume, esplendor, crepúsculo e penumbra.
A grande rosácea da fachada olha para o sol do Ocidente na tardinha e a janela refulgindo por obra do sol parece ser o sol ele próprio desaparecendo no âmago de uma maravilhosa floresta.
Na atmosfera transfigurada da catedral a luz brilha mais intensamente que no dia e as sombras têm mais mistérios que no mundo real.
Nesse mundo transfigurado o homem se sente no coração da Jerusalém celeste e saboreia a profunda paz da cidade futura.
Notre Dame de Paris, capela do Santíssimo Sacramento |
Ai está a arca indestrutível contra a qual os ventos não prevalecerão.
Nenhum lugar no mundo enche os homens de um sentimento tão profundo de segurança.
Quanto mais vividamente isto deve ter sido sentido pelos homens da Idade Média!
Para eles a catedral era a súmula da Revelação.
Nela todas as artes estavam combinadas: a palavra, a música, os dramas vivos dos Mistérios e os dramas mortos da escultura.
Mas havia algo a mais que a arte: era a luz puríssima antes de sua refração pelo prisma em múltimples raios.
Basílica de Nossa Senhora, Cracóvia, Polônia. |
Catedral de Amiens: pórtico da Virgem, colorido com luzes na noite |
Os fiéis representavam a humanidade, a catedral o universo, e o espírito de Deus enchia os homens e toda a Criação.
As palavras de São Paulo tornavam-se realidade, e os homens viviam e agiam em Deus e atingiam sua plenitude.
Algo disto era experimentado profundamente pelos homens da Idade Média quando na gloriosa festa de Natal ou da Páscoa, apertados ombro a ombro, todos os habitantes da cidade enchiam a imensa catedral.
A catedral era símbolo da fé, mas também da caridade. Todos os homens trabalharam nela.
Os camponeses ofereceram tudo o que tinham: o trabalho de seus fortes braços.
Eles empurraram carretas, carregaram pedras nas suas costas com a boa vontade do gigante São Cristóvão.
Os burgueses doaram sua prata, o barão feudal sua terra, o artista seu talento.
A vitalidade que se irradia desde essas obras imortais é o resultado da colaboração de todas as forces vivas da França durante mais de duzentos anos.
Os mortos associavam-se com os vivos e por isso a igreja está coberta de lápides mortuárias.
As gerações passadas com as mãos postas em atitude de oração continuavam rezando na velha igreja onde o passado e o presente estavam unidos numa só coisa e no mesmo sentimento de amor sobrenatural.
A catedral era a boa consciência em paz da cidade.
(Autor: Émile Mâle, “A arte religiosa na França no século XIII”, apud “The Dawson Newsletter", Summer 1993).
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