Escritor, jornalista,
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O simbolismo das catedrais escapa ainda à ciência moderna, embora nos últimos anos se tenha dado um grande passo em frente, graças sobretudo aos trabalhos admiráveis de Emile Mâle.
Descobriu-se recentemente o simbolismo das pirâmides do Egito, e deve-se ver nelas o testemunho de uma ciência muito profunda, de autênticos monumentos de geometria, matemática e astronomia, embora ressalvando os exageros de alguns ocultistas.
Resta-nos descobrir o simbolismo das catedrais, dessas igrejas familiares que são um apelo à oração, ao recolhimento, talvez à mais maravilhosa das sensações humanas, que é o espanto.
Estamos longe de dominar o seu segredo.
Ainda não penetramos a fundo no porquê dos pormenores de arquitetura ou de ornamentação que as compõem, apenas sabemos que todos esses pormenores tinham um sentido.
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Augustus Welby Pugin foi filho de um arquiteto francês de origem nobre, emigrado durante a Revolução de 1789.
Nasceu em Londres, a 1º de Março de 1812. Porém, foi educado pela mãe num rígido calvinismo.
Em 1834, aos 19 anos de idade, ele descobriu a arte medieval e se tornou católico.
“Fiquei perfeitamente convencido de que a Igreja Católica, Apostólica, Romana é a única verdadeira. Aprendi as verdades da Igreja Católica nas criptas das velhas igrejas e catedrais européias.
“Procurei verdades na moderna igreja da Inglaterra (protestante anglicana) e vim a descobrir que ela, desde que se separou do centro da unidade católica, tinha pouca verdade e nenhuma vida. Dessa maneira, e sem que tivesse conhecido um só sacerdote, ajudado apenas pela graça e misericórdia de Deus, resolvi entrar na sua Igreja”.
Pugin exerceu um apostolado especial: ele reanimou a alma inglesa, ressequida pelo protestantismo. Para isso ele criou obras em estilo gótico medieval renovado. Hoje elas atraem e empolgam milhões de turistas. Por exemplo, o Parlamento de Londres e a celebérrima torre do Big-Ben.
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Os medievais às vezes chegavam até a fantasiar, a compor, por exemplo, canções de gesta, que exprimiam o desejo deles de participar de gestas.
O medieval, quando não participava de uma proeza, julgava-se frustrado na vida.
O medieval via na religião católica uma luz diferente porque ele tinha uma noção muito mais povoada de sublimidade, de maravilhoso, de luzes intelectuais e morais de toda ordem que o homem posterior não teve.
Isso vinha de um certo modo de ver a religião católica, que se faz sentir numa catedral gótica. Mas, não numa igreja barroca, embora bela e sagrada.
Sem querer penetrar os imperscrutáveis desígnios de Deus, imaginemos que a humanidade realize aquele grande retorno, que ela afinal retorne a casa paterna, cansada de comer as bolotas do exílio.
Essa conversão operará uma mudança radical na concepção de vida que, em extensas camadas da sociedade hodierna, se baseia no laicismo e no mais desenfreado apego às coisa terrenas, as quais se converteram e fins em si mesmas.
Pressuposta essa conversão e a volta da verdadeira concepção católica da existência, que é o que realmente importa, que mudanças surgiram nos vários aspectos da vida cultural por todo o mundo?
A simultânea florescência da alta escolástica e do alto gótico não representa mera coincidência, mas se deve a uma verdadeira relação de causa e efeito.
O Prof. Erwin Panosfsky nos faz uma substanciosa exposição da influencia escolástica na elaboração dos princípios que favoreceram o nascimento desse estilo característico do apogeu da Idade Média.
Seria necessário um estudo à parte, fora dos limites desse trabalho, para mostrar como esses princípios diretores da alta escolástica aparecem com toda a clareza na arquitetura do alto gótico, o que o torna um estilo genuinamente próprio de uma grande civilização católica.
Enceremos estas notas com outro fato que vem confirmar mais uma vez esta verdade.
Sabem os estudiosos da história da filosofia que a data convencional para a passagem da alta escolástica à fase de decadência da escolástica tardia é o ano de 1340, quando as teses de Guilherme Ockham marcaram o verdadeiro inicio dos tempos modernos.
Os espíritos que engendraram o gótico não se consumiam no desejo puramente estético de descobrir uma nova forma de expressão. Cumpre que constantemente tenhamos em mente a força e a vida que inspiraram esse estilo arquitetônico.
Esse imponderável elemento espiritual é que explica a arte gótica como manifestação da alma medieval. Não nos esqueçamos daquilo que mais importa: o gótico é fruto de uma época em que se reconhecia o valor de cada alma resgatada pelo Sangue do Divino Salvador.
E, até nos menores detalhes dos ornatos, esta verdade transparece. Ruskin estabeleceu a diferença que há entre os ornatos servis – gregos, ninivitas, egípcios – e os devidos ao artífice medieval.
Nem o artífice grego, por exemplo, “nem aqueles para os quais ele trabalhava podia suportar a aparência de imperfeição em qualquer coisa e, portanto, qualquer ornato... era composto de meras formas geométricas – bolas, sulcos e folhagens perfeitamente simétricas...
E a decoração também assume aspecto novo e característico, do mesmo modo que a estrutura. Assim é que a escultura puramente ornamental toma um papel cada vez maior de elemento revelador da verdade.
A estatuaria, afastando-se da excessiva estilização da arte romana e oriental, passa a ser não apenas decorativa, mas também meio de expressão espiritual e até de formação catequética. São temas que se apresentam à meditação dos observadores, são lições que não faltam muitas vezes um tom ingênuo e mesmo grotesco.
Por exemplo: a inconstância é figurada por um monge que abandona seu habito à porta do convento. Os ornatos são tirados de motivos simples da vida quotidiana, da fauna e da flora que cercava o homem medieval.
Os vitrais, recém descobertos, passam a guarnecer os vãos abertos nas muralhas e paredes, vazados por janelas ogivais ao longo das naves, ou, nas fachadas, por rosáceas que iluminam o interior co luz difusa e colorida, por preferência às pinturas murais ou afrescos, para os quais não há lugar.
O principio básico do sistema é a decomposição dos elementos construtivos em ativos e passivos. São considerados elementos ativos as nervuras das abobadas, os pilares, os arcobotantes e os contrafortes.
Os passivos são as muralhas, as paredes de vedação, o recheio das abobadas, que, por não exercerem nenhuma função ativa, podem simplificar-se e até mesmo suprimir-se.
Consequência desse principio vem a ser uma estrutura elástica, isto é, uma combinação de elementos construtivos que atuam uns sobre os outros em intima correlação, mas com certa liberdade de movimento.
Ao contrario, por exemplo, da construção românica, na qual todo o edifício é um imenso bloco monolítico.
No estilo gótico, aquilo que delimita o espaço, ou seja, as muralhas e as paredes sólidas e maciças, fica como que anulado, e as funções construtivas e estéticas recaem sobre as ossaturas do edifício, sobre os elementos estáticos ativos da estrutura.
Esta fundamental mudança na maneira de conceber o conjunto arquitetônico havia de produzir seu efeito natural na configuração externa.
Se observarmos uma catedral do alto gótico por dentro, teremos a impressão de musica solidificada. Parece inconcebível como podem descansar as abobadas sobre os pilares tão frágeis.
“A catedral gótica, diz Charles Morey, é de fato o equivalente arquitetônico da síntese escolástica; como esta ultima resolveu pela dialética os problemas impostos pela fé, assim também os arquitetos do século XIII atingiram uma unidade integrada num conjunto de infindáveis detalhes, apesar de sua procura de espaço indeterminado.
É o espaço gótico, na arquitetura gótica, que finalmente determina seu efeito. O movimento e subtil comunicação com o espaço exterior, que dá a impressão de ligar o observador com o infinito, são potentes fatores na levitação espiritual que um interior gótico pode proporcionar; mas que ele proporciona em completa medida somente quando reforçado por sua panóplia de vitrais”[1].
O espaço gótico deixa de comensurável, de regularidade geométrica, como nos antigos interiores bizantinos, para apresentar irregular em volume e expansão.
O gótico surge como fruto de um movimento iniciado na “Ile de France”, verdadeiro núcleo geográfico dessa arquitetura e também da escolástica.
Dali se irradia, tomando características locais, mas mantendo sempre seus elementos fundamentais.
Um circulo de cinquenta léguas, ou aproximadamente 330 quilômetros, traçado de Paris como centro, abarca senão todas as igrejas ogivais do primeiro período, pelo menos aquelas em que a arte gótica primitiva se manifesta com toda a exuberância e em todo o seu esplendor.
É ali que, segundo todos aceitam, começa a alta escolástica por volta do século XII, justamente quando o sistema do alto gótico lograva seus primeiros triunfos em Chartres e Soissons; e ali é que se chegou a uma fase decisiva ou clássica em ambos os campos durante o reinado de São Luiz (1226 – 1270).
Foi no dito período que floresceram, entre os filósofos da alta escolástica, figuras como as de Alexandre de Hales, Alberto Magno, Guilherme de Auvergne, São Boaventura e São Tomás de Aquino.
A civilização medieval foi um todo orgânico e coeso, em suas partes. E seus inimigos não deixam de proclamá-los ao reconhecer essa identidade de espírito que uniu o gótico à escolástica.
Quando não vão frontalmente contra a Igreja, que foi a verdadeira criadora dessa civilização, investem ora contra a escolástica, ora contra o gótico, mas sabem que, atacando um, atingiram também os outros.
A revolução religiosa, política e social dos Tempos Modernos teve como uma de suas primeiras brigadas de choque o humanismo renascentista, que atuou sobretudo no campo estético.
E vem da Renascença a palavra “gótico”, tomada em sentido pejorativo, para designar algo de bárbaro, de grosseiro, que cumpria substituir pelas belezas do classicismo neopagão.
Semelhante ódio a essa expressão estética da civilização católica aparece, através dos séculos, junto a outras formas de destruição revolucionária.