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terça-feira, 30 de maio de 2023

A força e o sorriso nas colunas góticas

Catedral de Exeter, Inglaterra
Catedral de Exeter, Inglaterra
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







O gótico é ao mesmo tempo forte e delicado. Por exemplo, suas formidáveis colunas !

Os medievais arranjaram um jeito de trabalhá-las de maneira a atenuar o que poderia haver de impressão de força quase brutal nelas.

O modo de atenuar foi esculpir a coluna dando a impressão que ela é um feixe de coluninhas que se amarram umas as outras para suportar.

E assim a pesadíssima coluna gótica deixa de ser pesada.

Ela sustenta o teto com muita firmeza, mas dá a impressão de leveza por causa das pseudo-coluninhas em que se decompõe.

Catedral de Lincoln, Inglaterra
Catedral de Lincoln, Inglaterra
A coluna gótica, mesmo do lado interior de uma catedral, dá a impressão que é uma coluna de combate.

Mesmo trabalhada de maneira a dar ilusão de um feixe de coluninhas, a coluna gótica tem qualquer coisa que é tranqüila, que não tem agitação, que não tem a tensão da luta.

Ela representa muito mais o guerreiro no seu repouso e na sua oração, do que o guerreiro batalhando.

E, como sempre acontece na guerra medieval quando ela é justa, visa a paz, visa uma solução, visa uma concórdia equilibrada.

E a ogiva exprime isso muito bem. São duas posições opostas que se resolvem num equilíbrio, ou seja, numa reconciliação entre as duas.

E por isso não é raro que no ponto de encontro das ogivas tenha florões, adornos, como quem festeja a paz.

Mas, ao mesmo tempo, a colunata gótica exprime uma alta noção do dever.

A colunata gótica nos dá idéia exatamente assim: um caminho apertado, estreito, sério, reto, sobretudo um caminho elevado.

Quer dizer, se nós nos sentirmos opressos pela proximidade de colunas de um lado e doutro, nossos olhos e nossa alma encontram os grandes espaços olhando para o alto.

O que em outros termos quer dizer: “Quando a vida está apertada, olhemos para o céu”. É a alma do católico.

Sainte-Chapelle, Paris
Sainte-Chapelle, Paris
As almas que construíram o gótico, tão entusiasmadas, tão amorosas, tão enlevadas com a força, tinham em si muito outros tesouros.

Depois de terem explicitado na pedra seu desejo de força, começaram a sorrir e explicitar a sua própria doçura, como quem conta em pedra como é a sua alma.

Então, os artistas puseram anjinhos ou mesmo animaizinhos, por exemplo esquilozinhos de pedra que sobem na coluna como num tronco de árvore, como os esquilozinhos reais sobem para o alto e depois dão um pulo para um outro galho.

O esquilo é muito gracioso, é muito bonitinho, é vivo, engraçadinho.

O sorriso de um anjo que tem como fundo a gravidade da coluna gótica completa o espírito humano.


(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, 11-2-1970. Texto sem revisão do autor).


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terça-feira, 23 de maio de 2023

A catedral, poderosa nave da Salvação

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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O artista medieval não era nem um rebelde, nem um “filósofo”, nem um precursor da Revolução.

É suficiente apresentá-lo como ele realmente era: simples, modesto e sincero.

Ele era um dócil intérprete das grandes idéias que para conseguir representar, ele engajava todo seu engenho. Era-lhe concedida pouca margem para a invenção.

A Igreja confiava à fantasia individual do artista apenas pequenas peças puramente decorativas.

Mas, ele tinha jogo livre para aplicar sua força criativa e tecer grinaldas com todas as coisas vivas para adornar a casa de Deus.

Plantas, animais, todas essas belas criaturas que suscitam curiosidade e ternura na alma da criança e do simples tomavam forma em seus dedos.

Por obra dele a catedral transformava-se numa coisa viva, uma gigantesca árvore transbordante de pássaros e flores, menos parecida a uma obra humana do que à natureza.

A convicção e a fé perpassavam a catedral de ponta a ponta. Até o homem moderno fica profundamente impressionado pela serenidade desde que queria em alguma medida se submeter à sua influência.

Ali as dúvidas e teorias humanas devem ser esquecidas por um certo tempo.

Vista de longe, a catedral com seus transeptos, agulhas e torres parece uma nave poderosa prestes a partir para uma longa viagem.

E toda uma cidade pode embarcar cheia de confiança em seus imensos conveses.

Quando o viajante se aproxima dela a primeira coisa com que se depara é a figura de Cristo, da mesma maneira que todo homem nascido neste mundo O encontra através de sua viagem pela vida.

Ele é a chave do enigma da vida.

Juízo Final, detalhe. Abadia de Saint-Foy, Conques, França.
Juízo Final, detalhe. Abadia de Saint-Foy, Conques, França.
Em torno d’Ele está escrita a resposta a todas as interrogações do homem.

O cristão apreende como o mundo começou e como vai acabar.

E as estátuas que simbolizam as diferentes idades do mundo lhe instruem sobre sua duração.

Diante de seus olhos estão todos os homens cuja história teve importância e que ele deve conhecer.

Trata-se daqueles que sob a Antiga ou a Nova Lei foram tipos de Cristo, por quem só vale a pena viver posto que participam da natureza do Salvador.



(Autor: Émile Mâle, “A arte religiosa na França no século XIII”, apud “The Dawson Newsletter", Summer 1993).




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terça-feira, 16 de maio de 2023

SANTIAGO DE COMPOSTELA:
fachada barroca e interior românico

A fachada da catedral apresenta uma sobrecarga fantástica,
mas ordenada, bonita e grandiosa.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Externamente, a catedral parece com uma sobrecarga fantástica.

Mas depois que a gente habitua bem a vista, percebe que essa sobrecarga é ordenada, bonita e grandiosa.

Internamente o problema não se põe. Ela é românica, anterior à fachada, e muito ordenada e bonita.

Pormenor muito espanhol: não tem vitrais. Tudo é murado.

Mas tem uma clarabóia bem estudada, por onde entra luz suficiente para a catedral inteira.

A imagem famosa de Santiago está no subterrâneo.

Os restos mortais do Apóstolo estão numa urna funerária muito bem trabalhada, pré-gótica, já anunciando o gótico; talvez de ouro.

Depois, pregada na parede, em cima, um pouquinho sem jeito, uma estrela de ouro que uma pessoa que não conheça História não percebe bem por que é que está lá.

Mas vem da origem do nome da cidade, "Campus stelle", o "Campo da Estrela": uma estrela indicou onde o corpo de Santiago Matamoros estava.

Depois, um altar-mor à la Bernini, o mais desgracioso e feio possível. Um órgão também lamentável, muito feio, tudo à la Bernini.

A gente vê que é muito posterior. Se a mulher do rei Carlos IV que aparece num quadro do Goya tivesse dons artísticos, ela desenhava esse altar e esses tubos. Um pesadelo de louco!

Há capelas laterais muito bonitas. E no centro, a meio termo entre o altar-mor e a porta de entrada, na nave que corresponde ao Evangelho, uma capela do Santíssimo Sacramento, do século passado, ou começo deste século, com exposição permanente do Santíssimo.

Urna de Santiago Apóstolo.
É um ambiente de adoração que realmente dá gosto de ver, muito bonito e piedoso; com uma imagem do Sagrado Coração de Jesus muito piedosa e muito digna. Eu pensei em mamãe logo que vi.

O que é uma maravilha é uma imagem mais bem pequena de Nuestra Señora del Perdón, que se encontra no lado externo de uma das paredes da capela do Santíssimo.

É do gênero da imagem medieval de Toledo Virgen Blanca, em madeira, é um encanto.

O altar principal tem três imagens de Santiago.

No mais alto do mais alto está Santiago Mata-mouros.

Tudo muito correto, digno, para quem não tem espírito liberal.

Altar mor com o busto do Apóstolo Santiago que os peregrinos costumam abraçar chegando por trás
Altar mor com o busto do Apóstolo Santiago que os peregrinos costumam abraçar chegando por trás
Há uma escada monumental na entrada, e pessoas entram sob um arco que há embaixo da escada. Por quê?

Era porque embaixo tem uma capelinha, em estilo românico, construída por Carlos Magno.

Eu fiz questão de visitar e rezar lá, porque queria prestar homenagem ao Imperador Carlos.

Meu culto a Deus Nosso Senhor foi glorificado por esse grande homem.


(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira. Texto sem revisão do autor).


CLIQUE NA FOTO PARA VER EM 360º




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terça-feira, 2 de maio de 2023

AQUISGRÃO: onde o imperador trocou o cetro pelo Crucifixo

Aquisgrão: interior da catedral
Luis Dufaur
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No ano de 1273, o arcebispo de Colônia sagrava na catedral de Aquisgrão (Aix-la-Chapelle em francês ou Aachen em alemão) o imperador Rodolfo de Habsburgo.

Terminada a cerimônia, o imperador, de cetro em punho, devia dar aos príncipes a investidura de seus domínios.

Como não foi possível encontrar logo o cetro, Rodolfo, tomando o crucifixo de prata do altar, disse:

Aquisgrão: trono do imperador Carlos Magno
feito com lajes do palácio de Pilatos
“Esta é a bandeira d’Aquele que derramou todo o seu Sangue por nós; é o sinal da Redenção, fonte de paz e de todo o direito. Este será também o meu cetro contra os inimigos meus e os do império.”

Esta confissão de fé causou em todos grande impressão, aumentando a veneração pelo imperador, a quem Deus concedeu um reinado próspero e afortunado sob a proteção da Cruz.



(Fonte: Tesouro de Exemplos — volume II – Pe. Francisco Alves — C. SS.R. — Ed. Vozes Ltda. — Petrópolis, RJ — 2a Edição — 1960, p. 206)




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