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terça-feira, 30 de abril de 2024

O gótico: estilo de uma sociedade que está bem com Deus

Transepto da catedral de Amiens, França.
foto David Iliff.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








O estilo gótico nasceu e cresceu dando passos aparentemente pequenos, até gerar um conjunto monumental como nenhum outro na História da Civilização.

Nenhum estilo histórico é uma produção de gabinete, mas é obra de uma sociedade inteira.

Os artistas não são os criadores do estilo usado por uma sociedade, mas seus intérpretes.

E isto é especialmente verdadeiro do estilo gótico ou medieval.

Nesse estilo produzido pela sociedade medieval, o prático e o belo, os elementos materiais e intelectuais se fundiram harmonicamente com a fé católica professada pela sociedade.

Do ponto de vista arquitetônico que foi tão decisivo, o estilo gótico tem como elemento característico a chamada ogiva gótica.

Segundo a tradição, num sonho, São Pedro e São Paulo teriam aparecido a um velho abade beneditino de nome Gunzo, que foi terminar seus dias na abadia de Cluny.

Os santos lhe ensinaram a ogiva, que depois se chamou gótica.

O velho monge narrou o sonho ao abade São Hugo.

Na época, por volta de 1080 d. C., Cluny estava construindo sua terceira grande igreja abacial, dedicada a São Pedro.

Ela foi a maior igreja da Cristandade até a construção da Basílica de São Pedro, no Vaticano, feita um metro maior, para afirmar assim sua superioridade universal.

O sonho do abade Gunzo que inspirou o arco gótico
na abadia de Cluny III.
Miscellanea secundum usum ordinis Cluniacensis
O monge Gunzo era cego, mas seu testemunho foi considerado fidedigno e convincente.

A parte final da nave de Cluny foi concluída no novo estilo ogival.

O exemplo de Cluny pegou fogo em toda a Europa. Construir catedrais foi um fenômeno correlato às Cruzadas.

O mesmo fervor animava os cavaleiros e os arquitetos.

O movimento se expandiu a partir da França em meados do século XII.

É por isso que na época medieval o estilo gótico era referido como art français, francigenum opus (trabalho francês) ou opus modernum (trabalho moderno).

O termo gótico foi cunhado pelo historiador renascentista da arte Giorgio Vasari (1511 —1574).

Para Vasari e seus colegas naturalistas, admiradores da arte pagã da Antiguidade, a arte da Idade Média, especialmente a arquitetura, era objeto de horror.

Eles a consideravam o oposto da perfeição, o símbolo do obscuro e do negativo que o catolicismo havia inoculado nas massas.

O século XIX recuperou o estilo gótico.
E deu o neogótico.
Catedral St Patrick, de New York
Vasari atribuiu esse horror aos godos, povo que destruiu a Roma Antiga em 410.

E inventou o termo gótico, com fortes conotações pejorativas. Ele quis designar um estilo digno apenas de bárbaros e vândalos.

No século XIX essa manipulação foi posta de lado. O gótico voltou a ser valorizado como merecia.

Poetas como Goethe ficaram fascinados pela imponência das grandes catedrais góticas na Alemanha. Literatos como Victor Hugo empolgavam seus leitores com os relatos dos monumentos medievais.

Restauradores como Viollet-le-Duc se engajaram em hercúleos trabalhos, ainda em andamento, para restaurar catedrais, abadias, castelos, palácios e outras obras insignes.

Chefes de Estado como o Kaiser da Alemanha, Luís II da Baviera, Napoleão III ou a rainha Victória promoveram essas fabulosas restaurações ou até novas realizações em estilo medieval.

O Parlamento de Londres e o Big Ben são um exemplo acabado da arte gótica.

A restauração do gótico ficou associada ao movimento contrarrevolucionário do século XIX.

E onde não havia catedral gótica para restaurar, os católicos se punham a erigir novas: St. Patrick, em Nova York, a catedral de São Paulo, ou as basílicas de Luján, na Argentina, e de Las Lajas, na Colômbia, para dar alguns exemplos.

Nesse momento nasceu o neogótico, marcado pelos elementos decorativos ogivais.


Cluny "alma da Idade Média" (reconstituição virtual)





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terça-feira, 16 de abril de 2024

A catedral esposa de Cristo

Catedral de Santo Estêvão, Viena, Áustria.
Catedral de Santo Estêvão, Viena, Áustria.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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A catedral é também esposa de Cristo, como lembra ainda o Apocalipse :

2. Eu vi descer do céu, de junto de Deus, a Cidade Santa, a nova Jerusalém, como uma esposa ornada para o esposo.

3. Ao mesmo tempo, ouvi do trono uma grande voz que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens. Habitará com eles e serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles.

4. Enxugará toda lágrima de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a primeira condição.

5. Então o que está assentado no trono disse: Eis que eu renovo todas as coisas. Disse ainda: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras.

6. Novamente me disse: Está pronto! Eu sou o Alfa e o Ômega, o Começo e o Fim. A quem tem sede eu darei gratuitamente de beber da fonte da água viva.

7. O vencedor herdará tudo isso; e eu serei seu Deus, e ele será meu filho.

8. Os tíbios, os infiéis, os depravados, os homicidas, os impuros, os maléficos, os idólatras e todos os mentirosos terão como quinhão o tanque ardente de fogo e enxofre, a segunda morte. (Apocalipse, 21, 2-8)

A catedral enquanto porta-voz e torre de vigia de Nossa Senhora

Catedral de Burgos, Espanha torres com campanários
Catedral de Burgos, Espanha torres com campanários
Normalmente todas as igrejas dispõem de um ou mais campanários, que na Idade Média eram chamados de Torre de David.

Pois essa parte constitutiva da igreja está associada à Santíssima Virgem, descendente e princesa da Casa Real de David.

O som dos sinos é a própria voz de Nossa Senhora, que chama à oração o povo disperso em meio às distrações da vida.

A torre do sino também é uma torre de vigia, de onde nossa Rainha, Sentinela do Deus Invisível, percebe e recebe os sinais do Deus Eterno.

A partir dessa torre que exorciza os demônios Ela age, “terrível como um exército em ordem de batalha” (Cant 6).

Ela lança flechas que expulsam os espíritos malignos, e atrai para junto de seu Divino Filho o povo que verdadeiramente acredita n’Ele.

Almas belas como as catedrais

Deus é a Beleza, Ele é a Bondade e a Verdade em sua forma absoluta e perfeita.

Para anunciar Deus no meio da civilização, a simplicidade e a pureza das catedrais e das igrejas são os melhores símbolos, armas e instrumentos.

Essas armas podem tocar os corações tíbios e desorientados, os espíritos desanimados pela mata escura de símbolos materialistas e sem alma. Símbolos que não são símbolos, mas negrumes que abrem para o abismo do vazio.

Falsos símbolos que falam sistematicamente contra a herança do simbolismo católico e que exercem hoje um atrativo que não deveriam exercer.

Fachada da catedral de Notre Dame de Paris, detalhe.
Fachada da catedral de Notre Dame de Paris, detalhe.
Não devemos, pois, ter medo do poder dos símbolos católicos.

Devemos conhecê-los, amá-los e saber explicá-los aos outros, sejam cristãos ou não.

O simples fato de fazer o Sinal da Cruz cada vez que passamos diante de uma igreja já é um exemplo de algo que todos podemos fazer.

Esses gestos exteriores, sobretudo quando animados por um amor interior encravado no nosso coração e no nosso intelecto pelo conhecimento racional do simbolismo, fazem de nós pessoas espirituais sinceramente atentas à voz de Deus, que fala por meio desses símbolos.

Poucas coisas podem ser tão meritórias e gratas a Deus do que acender nos corações e nos intelectos dos nossos contemporâneos esse amor e esses conhecimentos.

Tocados pela graça, eles também poderão resplandecer de Caridade e do amor que desce escachoante do Sagrado Coração de Jesus e do Coração Imaculado de Maria, Rei e Rainha dos templos sagrados.




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terça-feira, 2 de abril de 2024

Mont Saint-Michel, moradia do Príncipe da Milícia Celeste

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Em 966, a pedido do duque da Normandia, os monges beneditinos instalaram-se no Monte São Miguel.

O Monte é um promontório numa bahia, e construíram uma igreja onde até então havia uma capela.

No século XI, nova e magnífica igreja abacial ergueu-se no cume do rochedo, sobre um conjunto de criptas: os medievais a viam como figura da Jerusalém celeste.

Em 1204, uma parte da abadia foi destruída por um incêndio.

No mesmo ano o rei Filipe Augusto, avô de São Luís, venceu definitivamente os normandos, anexando o ducado à Coroa de França.

Para manifestar sua gratidão por essa conquista, fez uma doação à Abadia de São Miguel, o que permitiu a construção do conjunto gótico hoje conhecido como “a Maravilha”, em lugar do que fora destruído no incêndio.

O monumento comemorou mais de um milênio de existência.







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