Transepto da catedral de Amiens, França. foto David Iliff. |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
O estilo gótico nasceu e cresceu dando passos aparentemente pequenos, até gerar um conjunto monumental como nenhum outro na História da Civilização.
Nenhum estilo histórico é uma produção de gabinete, mas é obra de uma sociedade inteira.
Os artistas não são os criadores do estilo usado por uma sociedade, mas seus intérpretes.
E isto é especialmente verdadeiro do estilo gótico ou medieval.
Nesse estilo produzido pela sociedade medieval, o prático e o belo, os elementos materiais e intelectuais se fundiram harmonicamente com a fé católica professada pela sociedade.
Do ponto de vista arquitetônico que foi tão decisivo, o estilo gótico tem como elemento característico a chamada ogiva gótica.
Segundo a tradição, num sonho, São Pedro e São Paulo teriam aparecido a um velho abade beneditino de nome Gunzo, que foi terminar seus dias na abadia de Cluny.
Os santos lhe ensinaram a ogiva, que depois se chamou gótica.
O velho monge narrou o sonho ao abade São Hugo.
Na época, por volta de 1080 d. C., Cluny estava construindo sua terceira grande igreja abacial, dedicada a São Pedro.
Ela foi a maior igreja da Cristandade até a construção da Basílica de São Pedro, no Vaticano, feita um metro maior, para afirmar assim sua superioridade universal.
O sonho do abade Gunzo que inspirou o arco gótico na abadia de Cluny III. Miscellanea secundum usum ordinis Cluniacensis |
A parte final da nave de Cluny foi concluída no novo estilo ogival.
O exemplo de Cluny pegou fogo em toda a Europa. Construir catedrais foi um fenômeno correlato às Cruzadas.
O mesmo fervor animava os cavaleiros e os arquitetos.
O movimento se expandiu a partir da França em meados do século XII.
É por isso que na época medieval o estilo gótico era referido como art français, francigenum opus (trabalho francês) ou opus modernum (trabalho moderno).
O termo gótico foi cunhado pelo historiador renascentista da arte Giorgio Vasari (1511 —1574).
Para Vasari e seus colegas naturalistas, admiradores da arte pagã da Antiguidade, a arte da Idade Média, especialmente a arquitetura, era objeto de horror.
Eles a consideravam o oposto da perfeição, o símbolo do obscuro e do negativo que o catolicismo havia inoculado nas massas.
O século XIX recuperou o estilo gótico. E deu o neogótico. Catedral St Patrick, de New York |
E inventou o termo gótico, com fortes conotações pejorativas. Ele quis designar um estilo digno apenas de bárbaros e vândalos.
No século XIX essa manipulação foi posta de lado. O gótico voltou a ser valorizado como merecia.
Poetas como Goethe ficaram fascinados pela imponência das grandes catedrais góticas na Alemanha. Literatos como Victor Hugo empolgavam seus leitores com os relatos dos monumentos medievais.
Restauradores como Viollet-le-Duc se engajaram em hercúleos trabalhos, ainda em andamento, para restaurar catedrais, abadias, castelos, palácios e outras obras insignes.
Chefes de Estado como o Kaiser da Alemanha, Luís II da Baviera, Napoleão III ou a rainha Victória promoveram essas fabulosas restaurações ou até novas realizações em estilo medieval.
O Parlamento de Londres e o Big Ben são um exemplo acabado da arte gótica.
A restauração do gótico ficou associada ao movimento contrarrevolucionário do século XIX.
E onde não havia catedral gótica para restaurar, os católicos se punham a erigir novas: St. Patrick, em Nova York, a catedral de São Paulo, ou as basílicas de Luján, na Argentina, e de Las Lajas, na Colômbia, para dar alguns exemplos.
Nesse momento nasceu o neogótico, marcado pelos elementos decorativos ogivais.
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