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terça-feira, 11 de novembro de 2025

REIMS: catedral para coroar o rei da França

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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Após os horrores revolucionários da Revolução Francesa e as não menos revolucionárias nem menos sangüentas guerras de Napoleão, os príncipes legítimos da casa de Bourbon, retornaram a Paris.

O primeiro em entrar na antiga capital do reino, foi o Conde de Artois ‒ futuro Carlos X ‒ irmão caçula do decapitado rei Luis XVI.

A entrada do Conde de Artois em Paris foi um episódio de fábula.

Se não fosse o caráter pagão das “Mil e uma Noites”, a gente diria uma fábula das “Mil e uma Noites”.

Entrada do conde de Artois em Paris
Ele era um príncipe feito mais de cristal do que de carne, tendo todas as graças e os charmes da delicadeza francesa, tendo todas as finuras, os raffinements, as cortesias da elegância francesa.

Tendo, ao mesmo tempo, uma atitude paternalíssima em relação ao povo.

E o povo notou essa paternalidade e ficou encantado, chegou a abraçar os cavalos dele, não sem algum perigo do cavalo de repente dar um coice.

E o Conde de Artois avançava sem se perturbar, enquanto o povo abria caminho.

O povo da Áustria fica simplesmente derretido e emocionado quando um arquiduque da casa imperial volta, depois de uma longa perseguição.

É a volta de um pai inocente.

No caso da França não. 

Nossa Senhora, Reims
O príncipe é o sonho que todo o mundo gostaria de ter, que gostaria de viver, com o qual se pensava quando os canhões brutais soavam perto de Paris anunciando as violentas vitórias de Napoleão.

No fundo os corações do povo de Paris pensavam no toque dos sinos da Catedral de Reims quando era coroado um rei da França.


Eles batiam pensando na cerimônia da coroação, uma das mais belas cerimônias da Cristandade.

A catedral de Reims é a catedral feita pela França monárquica para prestar culto ao representante temporal de Deus na Terra.



(Fonte: Plinio Corrêa de Oliveira, 31/3/95. Sem revisão do autor)



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terça-feira, 28 de outubro de 2025

A luz dos vitrais refletida na catedral

Cena com elementos do campo num vitral da catedral de Chartres
Cena com elementos do campo num vitral da catedral de Chartres
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Além dos temas de decoração propriamente religiosos — cenas bíblicas que mostram as correspondências do Novo Testamento com o Antigo, pormenores da vida da Virgem e dos Santos, quadros grandiosos do Juízo Final ou da Paixão de Cristo — os pintores e escultores tiraram largo partido do que a natureza lhes punha diante dos olhos.

Toda a flora e fauna do nosso país renascem sob o pincel ou o cinzel, com precisão e golpe de vista de um naturalista, aliados ao que a fantasia lhes sugeria.

Foi possível estudar nos pórticos das catedrais as diferentes espécies reproduzidas e descobrir flores e folhagens da Ilha de França: aqui em botão, lá em pleno desabrochar, acolá sob o aspecto recortado da folhagem outonal.

Utilizaram com igual à-vontade os motivos de decoração geométrica — folhagens, entrançados, animais estilizados — cujo modelo lhes havia sido fornecido pelo Oriente, e que os monges irlandeses tinham feito renascer com exuberância singular nas suas miniaturas.

O simbolismo das catedrais escapa ainda à ciência moderna, embora nos últimos anos se tenha dado um grande passo em frente, graças sobretudo aos trabalhos admiráveis de Emile Mâle.

Descobriu-se recentemente o simbolismo das pirâmides do Egito, e deve-se ver nelas o testemunho de uma ciência muito profunda, de autênticos monumentos de geometria, matemática e astronomia, embora ressalvando os exageros de alguns ocultistas.

Resta-nos descobrir o simbolismo das catedrais, dessas igrejas familiares que são um apelo à oração, ao recolhimento, talvez à mais maravilhosa das sensações humanas, que é o espanto.

Nossa Senhora de Amiens, em sua catedral.
Nossa Senhora de Amiens, em sua catedral.
Estamos longe de dominar o seu segredo.

Ainda não penetramos a fundo no porquê dos pormenores de arquitetura ou de ornamentação que as compõem, apenas sabemos que todos esses pormenores tinham um sentido.

Não há uma única dessas figuras — que rezam, fazem carantonhas ou gesticulam — colocada gratuitamente, todas possuem a sua significação e constituem um símbolo, um signo.

Nos vitrais, os nossos sábios ainda não foram capazes de descobrir a sua completa interpretação, embora os simples camponeses lessem neles como num livro.

Nem sempre conseguimos identificar esses rostos, que outrora uma criança teria podido nomear.

Sabemos que as nossas catedrais estavam orientadas, que o seu transepto reproduz os dois braços da Cruz, mas faltam-nos ainda muitas noções para podermos penetrar no seu mistério.

(Autor: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge”, Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)


Vídeo: Chartres: catedral da luz imaterial e do sacrifício litúrgico perfeito





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terça-feira, 14 de outubro de 2025

A Missa numa catedral medieval

Luis Dufaur
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Os capítulos que Guilherme Durand (séc. XIII) consagrou à explicação da Missa então entre os mais surpreendentes de sua obra: “Rational”.

Eis aqui, por exemplo, como ele interpreta a primeira parte do Divino Sacrifício.

“O canto grave e triste do Introito abre a cerimônia: ele exprime a espera dos Patriarcas e dos Profetas. O coro dos clérigos representa o côro dos Santos da Antiga Lei, que suspiram antes da vinda do Messias, que eles, entretanto não verão”.

“O bispo entra, então, e ele aparece como a figura viva de Jesus Cristo. Sua chegada simboliza o aparecimento do Salvador, esperado das nações”.

“Nas grandes festas leva-se diante dele sete tochas, para lembrar que, segundo a palavra do Profeta, os sete dons do Espírito Santo repousam sobre a cabeça do Filho de Deus. Ele se adianta sob um pálio triunfal, do qual os quatro carregadores são comparados aos quatro Evangelistas.

“Dois acólitos caminham à sua direita e à sua esquerda, e representam. Moisés e Elias, que se mostraram no Thabor dos dois lados de Nosso Senhor. Eles nos ensinam que Jesus tinha por Si a autoridade da Lei e a autoridade dos Profetas”.

“O bispo senta-se em seu trono e permanece silencio. Ele parece não desempenhar nenhum papel na primeira parte da cerimônia. Sua atitude contém um ensinamento: ela nos recorda pelo seu silêncio, que os primeiros anos da vida de Nosso Senhor se desenrolaram na obscuridade e no recolhimento”.

“O Sub-Diácono, entretanto, dirige-se para a cátera, e, voltado para a direita, lê a Epístola em alta voz. Entrevemos aqui o primeiro ato do drama da Redenção.

“A leitura da Epístola, é a pregação de São João Batista no deserto. Ele fala antes que o Salvador tenha começado a fazer ouvir Sua voz, mas ele não fala senão aos judeus.

“Também o Sub-Diácono, imagem do Precursor, se volta para o norte, que é o lado da Antiga Lei. Quando a leitura termina, ele se inclina diante do bispo, como o Precursor se humilhou diante de Nosso Senhor”.

“O canto do Gradual, que segue a leitura da Epístola, se reporta ainda à missão de São João Batista: ele simboliza as exortações à penitência que ele fez aos judeus, à espera dos tempos novos”.

“Enfim, o Celebrante lê o Evangelho. Momento solene, porque é aqui que começa a vida pública do Messias, Sua palavra se faz ouvir pela primeira vez no mundo. A leitura do Evangelho é a figura de Sua pregação".

“O Credo segue o Evangelho, como a fé segue o anúncio da verdade. Os doze artigos do Credo se reportam à vocação dos doze Apóstolos”.

“Quando o Credo termina, o bispo se levanta e fala ao povo. Escolhendo esse momento para instruir os fiéis, a Igreja quis lhes recordar o milagre de Sua expansão.

“Ela lhes mostra como a verdade, recebida antes somente pelos doze Apóstolos, se espalhou em um instante, no mundo inteiro”.

Tal é o senso místico que Guilherme Durand atribuiu à primeira parte da Missa.

Depois dessa espécie de preâmbulo, ele chega à Paixão e ao Sacrifício da Cruz. Mas aqui, seus comentários tornam-se tão abundantes e seu simbolismo tão rico, que é impossível, por uma simples análise, dar uma idéia. É necessário que se vá ao original.

Nós dissemos bastante, entretanto, para deixar entrever alguma coisa do gênio da Idade Média.

Pode-se imaginar tudo que uma cerimônia religiosa continha de ensinamentos, de emoção e de vida para os cristãos século XIII.

Um uso tão constante do simbolismo pode deixar estupefato alguém que não esteja familiarizado com a Idade Média.

É preciso porém não fazer como fizeram os beneditinos do século XVIII, não ver ali senão um simples jogo de fantasia individual.

Sem dúvida, tais interpretações não foram nunca aceitas como dogmas. Não obstante, é notável que elas quase nunca variam. Por exemplo, Guilherme Durand, no século XIII, atribui a estola o mesmo significado que Amalarius no século IX.

Mas o que é mais interessante aqui, mais do que a explicação tomada em si, é o estado de espírito que ela supunha. E o desdém pelo concreto; é a convicção profunda de que, através de todas as coisas desse mundo se pode chegar ao espiritual, pode-se entrever Deus. Eis aqui o verdadeiro gênio da Idade Média.

(Autor: Emile Mâle, “L'Art Religieux du XIII Siècle en France”, Librairie Armand Colin, 1958, pag. 51)

terça-feira, 30 de setembro de 2025

Abadia de SOLESMES: arca de salvação

A vida na solidão acompanhado por Deus
A vida na solidão acompanhado por Deus
Luis Dufaur
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Às cinco da manhã ainda está escuro no verão e no inverno faz muito frio.

A cidade toda de Solesmes dorme bem arroupada enquanto o velho sininho da abadia se põe a repicar com sua milenar nota.

Os monges estão sendo convocados a cantar a primeira Hora do dia.

Silhuetas silenciosas se encaminham para a igreja fazendo deslizar seus hábitos pretos sobre o chão de pedra.

De ali a pouco suas vozes entoam as antífonas, leituras e salmos à glória dAquele que os convocou ali.

“Qui bene cantat, bis orat” “Quem canta bem, reza duas vezes”) ensinou Santo Agostinho.

Em Solesmes os monges cantam sete vezes por dia, trinta e cinco horas por semana, explica o Pe. Paul-Alain.

No brilho do olhar dos monges percebe-se a plenitude do gáudio sobrenatural que enche suas almas.

O costume se repete há mil e quinhentos anos na abadia de Saint Pierre de Solesmes, na região da Sarthe, França, num antegosto terrestre da vida eterna.

Não foi um milênio e meio fácil.

O inferno se abateu sobre Solesmes que foi preciso reconstruir em 1869.

Solesmes foco de restauração do canto gregoriano.
Solesmes: foco de restauração do canto gregoriano.
A Revolução Francesa não tolerou essa antessala da Corte Celeste cujo nome o igualitarismo revolucionário não conseguia sequer pronunciar sem blasfemar, e a arruinou.

Em 1833, entre as ruínas deixadas pelo tufão do ódio revolucionário, um jovem sonhava com os monges que outrora animaram aquele lugar destruído onde os anjos pareciam chorar.

Seu nome era Prosper Pascal Guéranger, nascido em 1805, fervente admirador dos magníficos grupos escultóricos de “Les Saints de Solesmes” entalhados nos séculos XV e XVI.

Ele haveria de se tornar eclesiástico e reunir os recursos para comprar e restaurar o priorado.

Acabaria sendo o homem símbolo da recuperação da Ordem Beneditina no século XIX e o grande restaurador do canto gregoriano.

Dom Guéranger abriu a avenida mística dos homens que por vezes com menos de 20 anos ouviram o chamado de Deus e se embrenharam pelo que os comuns chamam de deserto, mas que comunica uma prelibação do Céu.

Mas eles percebem que o deserto do desespero está na agitação do mundo.

'Quem canta bem, reza duas vezes' ensinou Santo Agostinho
'Quem canta bem, reza duas vezes', ensinou Santo Agostinho
O Pe. Rafael tinha se graduado em Minas e um belo futuro se abria diante dele. Mas algo de enorme lhe faltava.

“A sociedade moderna só funciona por e para o dinheiro. Mas essa não é a finalidade da vida humana! Foi então que Cristo veio me colher.

“Era como se uma luz apontasse para mim e me penetrasse completamente. Eu percebia uma inteligência, uma pessoa por trás dessa luz que me dizia: ‘Eu te conheço e eu te amo’.”

No 8 de dezembro de 2011, Rafael ingressava no noviciado de Saint Pierre de Solesmes.

A agenda do monge é extraordinariamente cheia. Acordar às 5:00 horas para cantar em gregoriano: Matinas às 5:30 e Laudes às 7:30h. Missa às 10:00. Canto de Sexta às 13:00; Nona às 13:50; Vésperas às 17 e Completas às 20:30.

“O canto gregoriano, como toda forma de beleza, tem qualquer coisa de Deus”, explica o prior Pe. Geoffroy.

“Se há tantos visitantes tocados por Solesmes é porque eles fazem a experiência sensível da fé por meio do canto.

“Frequentemente as pessoas as mais afastadas da Igreja são as mais tocadas por esta experiência, ainda quando não entendem o latim, que lhes revela o caráter infinitamente sagrado de Deus”.

A soma das idades rumo à eternidade.
A soma das idades rumo à eternidade.
“Por vezes me ocorre a ideia, diz o escritor Julien Green, que estes religiosos vivem um imenso sonho litúrgico quando, na realidade, são eles que estão na verdade e somos nós que vivemos num sonho que a todo momento vira pesadelo”.

Toda manhã antes da Missa, cada beneditino lê um trechinho da Bíblia ou dos escritos dos Padres e Doutores da Igreja.

Alguns fazem verdadeiros trabalhos de pesquisa que culminam em publicações. Livros são lidos durante as refeições e a biblioteca da abadia é de uma riqueza inaudita.

Além do trabalho intelectual, eles têm o manual: alguns são padeiros, outros alfaiates, sapateiros, jardineiros, encadernadores, carpinteiros ... Todos ao serviço da comunidade monástica.

O irmão Lionel diz “eu rezo trabalhando a madeira. Com o trabalho manual, o homem está chamado a participar na obra da Criação.

O trabalho manual é obrigatório
O trabalho manual é obrigatório
“E ainda cometendo erros o trabalho humano é infinitamente preferível ao da máquina.

“À perfeição maquinal se opõe a perfeição da alma humana, e de Deus que está nela, completando a obra criadora.

“Olhe esta tábua de madeira com seus nós e imperfeições: não é a imagem da alma humana com suas asperezas e seus limites que Deus vem a encher com sua graça?”

O irmão Lionel parte para atender seus pobres miseráveis que vem de toda parte da França porque sabem que em Solesmes, em conformidade com a Regra de São Bento, são recebidos como se eles fossem o próprio Cristo.

E então para o que é que serve um monge no século XXI?

“O monge por definição não serve para nada aos olhos do mundo, responde frei Geoffroy.

“Não se pode esperar de nós nem eficácia nem rentabilidade”.

Eles só fazem uma coisa aos olhos de outros: fascinam. São procurados ainda que mais não seja para passar perto deles um instante, de vê-los rezar e sentir um pouco da paz que reside neles.

“O homem no seu cerne está animado pelo desejo do infinito, diz frei Boralevi,

A vida monástica, reflexo da vida celeste.
A vida monástica, reflexo da vida celeste.
“Ele tem a necessidade de sentir que é possível existir uma relação como a que nós temos com Deus.

“Essa relação constante de coração a coração com nosso Criador é a vocação derradeira de todo ser humano”.

Alguns que batem na porta do mosteiro estão a anos luz da religião cristã, mas todos são acolhidos.

O atrativo é enorme, mas poucos são os que se engajam. É difícil renunciar às solicitações da vida moderna.

“Elas oferecem uma ilusão de liberdade e uma ideia aliás muito pálida da felicidade.

“Só a fé em nosso Salvador pode encher a alma humana, porque ela comunica uma esperança imensa”, completa frei Geoffroy.


(Fonte: “No segredo de uma abadia milenar”, Ghislain de Montalembert, “Le Figaro Magazine”, 20 de dezembro de 2019, págs. 50-61)


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