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terça-feira, 18 de abril de 2023

Catedral de OURENSE: o Pórtico do Paraíso

Pórtico del Paraiso da catedral de Ourense
Pórtico del Paraiso da catedral de Ourense
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Segundo uma antiga lenda, a catedral de Ourense foi mandada construir por um rei suevo, povo que ocupava o norte da península ibérica.

O nome do rei era Carriarico, quem, tendo enfermado seu filho, pediu a intercessão de São Martinho de Tours e foi ouvido. SOBRE SÃO MARTINHO DE TOURS VEJA MAIS CLICANDO AQUI

Em agradecimento, o rei mandou construir um templo no lugar onde se encontra agora a catedral.

Séculos depois vieram os muçulmanos que em alguma de suas incursões destruíram o velho e venerado templo.

Em substituição se decidiu levantar a atual catedral em estilo românico, cuja construção se estendeu durante os séculos XII e XIII. A planta da catedral desenha uma cruz latina com três naves.

A construção começou em 1160 e em 1188 foi consagrado o altar- mor, retomando-se as Missas. A catedral foi terminada no século XIII.

A entrada da catedral se faz pelo Pórtico do Paraíso, o qual lembra o Pórtico da Glória da Catedral de Santiago de Compostela, também na Galícia.

Este Pórtico, ricamente colorido, nos recorda que a catedral é a porta do Céu, ao qual nos conduz se formos sensíveis aos apelos da graça divina que batem em nossas almas.

O esplendor das cores, a alegria profunda e sincera dos santos e dos anjos esculpidos, a ordem rigorosa, mas jeitosa, hierárquica e proporcionada das figuras nos anunciam o gáudio eterno dos bem-aventurados na Corte Celeste.

Catedral San Martiño de Ourense, fachada
Catedral San Martiño de Ourense, fachada
E também nos dão uma lição de como deve ser o feitio de alma dos católicos e do bom ordenamento nas suas relações nesta Terra, na ordem temporal e, especialmente, na Igreja

Trata-se de um dos melhores conjuntos escultóricos das catedrais galegas.

Entre 1499 e 1505, Rodrigo de Badajoz mandou construir uma grande torre no ponto em que se cruzam os dois corpos da catedral para formar uma cruz.

A catedral tem também duas capelas de excepcional valor e originalidade.

A mais importante é a do Santo Cristo. Nela se venera um Crucificado com uma força de expressão tão intensa que se chega a dizer que nele a barba cresce.

O ouro brilhando sobre cores escuras, a capela de pequena altura e quase sem janelas, como é costume no estilo românico, convidam a uma intimidade intensa com o Redentor.

A piedade que inspira esta imagem sempre atraiu a devoção dos que ali concorrem a implorar suas graças em meio às dificuldades, doenças e privações.

No Museu Catedralício se conserva o “Tesouro de São Rosendo” cuja principal relíquia é o Báculo de São Rosendo.

CLIQUE NA FOTO PARA VER EM 360º
Este santo monge beneditino foi famoso pelo seu caráter paternal e sua solicitação para com os débeis e desvalidos.

Nascido em berço de alta nobreza, foi árbitro político nas lutas entre os reis galegos.

Ele assumiu o governo de uma terra agitada pela rebelião e a conspiração. Liderou a nobreza galega na sua luta contra a invasão dos pagãos normandos de Gunderedo (968).

E foi bispo de Santiago de Compostela até se retirar no convento beneditino de Celanova, onde faleceu santamente no ano de 977.



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terça-feira, 21 de março de 2023

Catedral de BOURGES:
força, seriedade, recolhimento, luz

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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O gótico é forte. E porque é forte, ele tende ao perene.

Ele tem um visível desejo de durar sempre, de ser uma coisa que nunca mais será substituída.

Há uma seriedade no interior de todo edifício gótico. Há um recolhimento e uma compostura própria só a quem é muito sério.

A luz que entra dentro deles é tamisada por um colorido muito bonito.

Nos vitrais da catedral de Bourges, a luz do dia que entra não tem a cor comum do dia.

É um dia diferente, meio idealizado. É um dia ideal, que faz pensar num sonho que filtra através das janelas.

É um sonho? Não é.

A alma, à força de desejar o Céu, conjetura tanto quanto ela pode, como seria o Céu.

E uma igreja toda ela feita de vitrais da Idade Média, nos dá a impressão de entrar no Céu.

A colunata interna da catedral de Bourges merece ser aclamada. Aquela colunata simboliza um caminho alto, estreito, mas que conduz a uma grande solução.

É o caminho do Céu.

O caminho do Céu não é largo, folgado, espaçoso, agradável.

Ele é apertado, difícil. Ele está sempre a dois passos de precipícios, de problemas.

Os vitrais de Bourges são dos mais belos do mundo
A colunata representa uma coisa grandiosa, metódica, mas da qual não se pode afastar um passo, porque se perde de vista a meta, e se transvia.

Isto é a idéia que nós temos da nossa própria vida enquanto vivida à luz dos Mandamentos.

A Catedral de Bourges está dedicada a Santo Estevão, o primeiro mártir católico. Ela fica na região do Berry, no centro da França.

É considerada uma obra-prima de arquitetura gótica. Sua fachada, de 40 metros da largura é a maior do estilo gótico.

A construção iniciou-se em 1195, praticamente ao mesmo tempo com a Catedral de Chartres.

O coro de Bourges foi construído em 1214, a nave em 1225 e a fachada foi terminada em 1250. A catedral foi consagrada em 13 de maio de 1324.

O rei Luis XI, em 1423 e e o príncipe Luís II de Bourbon-Condé em 1621 foram batizados na catedral.

A planta da catedral possui uma abside circular e sem transepto.

Na fachada há 5 pórticos de acesso, um para cada nave, e outros dois encontram-se aos lados na metade das naves externas. Cada pórtico é ornamentado por esculturas notáveis, sendo a mais famosa a que ilustra o juízo final.

Para conferir estabilidade à estrutura foram utilizados contrafortes potentes – os arcobotantes – , mas como esta técnica era muito inovadora para a época, as paredes da catedral são muito mais espessas do que as catedrais que usavam o mesmo sistema.

Com exceção dos vitrais da capela, quase todos da zona absidal são os originais do século XIII e são considerados dos mais bonitos do mundo.

A iconografia que transparece das figuras representadas nos vitrais é insólita: pois seu simbolismo é portador de mensagens teológicas com uma finalidade catequética.

De fato o catecismo na Idade Média era ensinado explicando as estátuas e os vitrais. Dessa maneira os fiéis podiam a toda hora conferir suas crenças e desenvolviam um requintado senso estético, outrora exclusivo dos mestres e grandes teólogos que com a catedral ficavam ao alcance de todos.

Por isso as catedrais eram também chamadas de “Bíblias de Pedra”.

Por exemplo, os fiéis encontram os grandes eventos do Antigo Testamento e os episódios essenciais da vida de Jesus Cristo, e ainda outros sobre a vida dos santos, dos Atos dos Apóstolos e do Apocalipse ou do Evangelho.

Os medievais dominavam assim a linguagem simbólica sem necessidade de lerem densos tratados, deixando como analfabetos a muitos e muitos cidadãos modernos alfabetizados, mas desprovidos do senso dos valores e princípios transcendentais da cultura e da ordem do universo.



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terça-feira, 7 de março de 2023

Peregrinando dentro de um vitral

Rosácea lateral da catedral de Chartres, França
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Imaginemos um vitral em forma circular, ou seja, uma rosácea. Um mundo de cores diferentes.

Dentro do conjunto de cores, poder-se-ia fazer um passeio: ora “entrar” no céu cor de anil, ora no dourado absoluto, depois no verde total ou no vermelho bem rubro.

Os olhos “entram” em vários pedacinhos de céu, olham daqui, de lá e de acolá.

Em determinado momento, surge a maior alegria: a visão do conjunto.

Ao cabo de algum tempo, não sou mais eu que estou olhando para a rosácea, mas é ela que está como que olhando para mim.

Um imenso olhar de “alguém” que contém todos os estados de espírito correlatos com aquelas várias cores e que no seu conjunto me analisa.

Analisa não tal aspecto ou tal outro de minha psicologia, mas a mim como um todo, composto de proporções desiguais e irrepetíveis.

Nunca houve antes, nem haverá depois, um outro igual a cada um de nós.

Se eu olho em torno de mim e vejo outras pessoas também contemplando o vitral, noto como elas são diferentes de mim e para cada uma delas o vitral diz coisas diferentes.

Percebo a variedade inesgotável de interpretações que a alma humana, olhando para a rosácea, pode estabelecer, a ponto de se sentir compreendida por ela.

Gosto muito de ver fotografias de vitrais medievais. Aquelas que retratam aspectos isolados deles não dão, a meu ver, o melhor do vitral.

O melhor é quando a rosácea inteira projeta sua luz para nós.

Por quê?

Por causa da própria natureza da alma humana. Somos tais que podemos ter aspectos de alma lindos.

Entretanto, o mais belo não é nenhum deles.

O mais bonito é contemplar a alma humana enquanto criatura em que Deus vai formando, com aspectos vários, uma imagem d’Ele dentro da coleção quase incontável dos homens.

Desde o primeiro homem até o último, cada um ocupa um lugar sem o qual a coleção ficaria incompleta.

Como um vitral que recebeu uma pedrada e nesse ponto aparece um buraco.

Assim, analisando cada homem no seu conjunto, notamos uma porção de elementos individualmente lindos; mas o mais belo é, se cada um se santificar, observar no seu todo a plenitude de sua personalidade.





(Autor: Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, excertos da conferência proferida em 26/10/1980. Sem revisão do autor).



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terça-feira, 24 de janeiro de 2023

O sino: simbolismo e efeitos exorcísticos e benéficos

Sinos restaurados da catedral Notre Dame de Paris
Sinos restaurados da catedral Notre Dame de Paris
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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O sino dá ao Ângelus uma solenidade excepcional.

A oração do Ângelus compõe-se de duas partes essenciais: a oração e o som do sino.

Por que o sino toca o Ângelus de manhã, ao meio-dia e à tarde?

Por ordem da Igreja Católica, cumpre a palavra do rei profeta:

"À tarde, de manhã e ao meio-dia, cantarei os louvores de Deus, e Deus ouvirá a minha voz".

À tarde, canta o princípio da Paixão do Redentor no Jardim das Oliveiras.

De manhã, a sua Ressurreição, e ao meio-dia a sua Ascensão.

De manhã, dá o sinal do despertar, da oração e do trabalho.

Ao meio-dia, adverte o homem de que a metade do dia é passada, e que a sua vida não é mais que um dia.

À tarde, toca ao recolhimento e ao repouso.

Antigo carrilhão das horas em Notre Dame de PARIS:



"O ângelus", Jean-François Millet (1814-1875)
Diz ao homem: faze tuas contas com Deus, pois esta noite talvez Ele exigirá a tua alma.

Fazendo ouvir a sua voz três vezes por dia, recorda aos cristãos as lembranças de um glorioso passado, dessas belicosas expedições, da honra eterna dos Papas, que salvaram o Ocidente da barbárie muçulmana.

Toca três vezes, para recordar as três Pessoas da Trindade, às quais o mundo é devedor da Encarnação.

Toca nove vezes, em honra dos nove coros de anjos, para convidar os habitantes da Terra a abençoar com eles o seu comum benfeitor.

Sinos da abadia de ETTAL, Alemanha:


Entre cada tinido - ou melhor, entre cada suspiro - deixa um intervalo, para que sua voz desça mais suavemente ao coração e desperte com mais segurança o espírito de oração.

Por que, depois do tinido do Ângelus, o sino faz ribombar sua voz? Canta uma dupla redenção: a redenção dos vivos, pelo mistério da Redenção, e a redenção dos finados, pela indulgência ligada ao Ângelus.

Sinos da catedral de MAINZ, Alemanha :


Catedral de Aachen (Aquisgrão), Alemanha

Ao Purgatório toca uma felicidade, e a Maria a saudação de uma alma que entra no céu.

Assim opera a Igreja da terra, cheia de ternura por sua irmã padecente.

Por que chora o sino na agonia? Se reflete as alegrias deve refletir também as dores.

Para sustentar o jovem cristão nos combates da vida, o sino pede as nossas orações.

Como não solicitá-las nas lutas da morte? Entre todas, estas lutas não são as mais terríveis e as mais decisivas.

No toque da agonia, o sino diz: "Miseremini mei saltem vos amici" - Tende piedade de mim, pelo menos vós que fostes meus amigos!

Vinde orar por mim, vinde sepultar o meu corpo, vinde acompanhá-lo à igreja, depois ao dormitório, onde ele deve repousar até a ressurreição dos mortos.

O sino, nesse momento, assemelha-se a uma mãe que, na sua terna solicitude, não se permite nem paz nem trégua, para clamar em socorro de seus filhos desgraçados e obter a sua libertação.

Bourdon (o sino mor) da Catedral Notre Dame de PARIS:



Também o sino deve tornar o cristão invencível na sua guerra contra os demônios.

Ao estridor dos sinos - acrescenta um de nossos antigos liturgistas - os espíritos das trevas são penetrados de terror, da mesma forma que um tirano se espanta quando ouve ressoar nas suas terras as trombetas guerreiras de um monarca seu inimigo.

Toque de recolher: no inverno, nos países montanhosos, pelas nove horas da noite, o sino faz ouvir a sua voz mais forte.

Sino da Catedral de Bourges, França
Chama o viajante desencaminhado, e indica-lhe a estrada que deve seguir para chegar ao lugar onde achará a hospitalidade.

Uma imagem do que também acontece com as almas perdidas no pecado.

Eram inteiramente outros os sentimentos de nossos religiosos antepassados.

Testemunhas inteligentes das bênçãos e das consagrações praticadas pela Igreja no batismo dos sinos, devotavam-lhe um profundo respeito e santo pavor.



Sinos da catedral de COLONIA, Alemanha :


Daí vem que temiam infinitamente mais jurar sobre um sino consagrado do que sobre os próprios Evangelhos.


(Autor: Mons. Gaume, “L’Angelus au dix-neuvième siècle”)


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