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terça-feira, 25 de julho de 2023

ESTRASBURGO: “Quem lhe disse isso?” ‒ “A própria torre!”

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Das Memórias do poeta alemão Goethe:

Um outro fatinho me roubou os últimos dias. Eu estava numa casa de campo, em companhia de pessoas agradáveis, e dali se podia ver a parte anterior de um convento e a torre [da catedral de Estrasburgo] que sobressaía majestosamente.

Alguém comentou: “Pena que não está tudo terminado e que só tenhamos a torre para ver!”

Eu, porém, disse: “Também me causa pena que não se possa apreciar essa torre inteiramente; pois as quatro volutas são muito desajeitadas e melhor seria que houvesse, no lugar delas, quatro torrezinhas esguias, bem como uma mais alta no meio, onde está aquela cruz pesadona”.

Quando fiz esse comentário com minha costumeira simplicidade, um homenzinho vivaz se voltou para mim e disse:

‒ “Quem lhe disse isso?”

Respondi: “A própria torre! Eu a tenho contemplado tantas vezes, com tanta atenção, e lhe tenho demonstrado tanta veneração, que ela um dia me confessou esse segredo evidente”.

Então, aquele homenzinho me replicou:

‒ “Ela o informou com toda a exatidão! Eu sei isso muito bem, pois sou o encarregado da construção do edifício. Tenho em meus arquivos a planta original e esta confirma o que o senhor diz, e posso mostrar-lhe”.

Por causa da minha viagem, pedi que ele fizesse aquela amabilidade a todo vapor.

Ele mandou trazer a planta valiosa.

Reconheci imediatamente as torrezinhas que faltavam e que estavam desenhadas a óleo na planta e lamentei não ter sido informado disso antes.

Mas comigo acontece sempre isso: quando contemplo e analiso as coisas, só muito depois e com muito esforço é que chego a um conceito princeps que não me seria tão notável e frutífero quanto se o tivessem explicitado antes para mim!



Fonte: Johann Wolfgang von Goethe, das memórias autobiográficas, publicadas sob o título Dichtung und Wahrheit (Poesia e verdade), in Goethe – Werke in vier Bünden, Caesar Verlag, Salzburg, 1983, vol. 1, Parte III, Livro 11, p. 190. Apud “A inocência primeva e a contemplação sacral do universo no pensamento de Plinio Corrêa de Oliveira”, Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, São Paulo, 2008, p. 50.




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terça-feira, 11 de julho de 2023

A SAINTE CHAPELLE de PARIS e o sonho da catedral de cristal

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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Em algumas construções góticas começa a despontar um sonho.

É o sonho é de abolir o granito e transformar tudo em cristal.

Esse sonho germina na Sainte-Chapelle de Paris.

A Sainte-Chapelle conserva de pedra apenas o necessário para suportar o teto e servir de encaixe para os vitrais.

O espírito que concebeu a Sainte-Chapelle se pudesse fazer um edifício todo de cristal, sentir-se-ia realizado.

A alma do homem medieval era como uma arca com uma porção de tesouros.

Eles iam tirando tesouro por tesouro.

Os medievais tinham muitos tesouros e riquezas na sua alma profundamente católica.

Isso lhes vinha da devoção filial, enlevada e varonil a Nossa Senhora.

E por meio da Mãe de Deus subiam como um jato para Nosso Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador.

Eles foram lentamente manifestando essas riquezas.

Até que chegaram por fim ao gótico.

O que mais faltava?

Eles atingiram uma perfeição de alma profunda e verdadeiramente católica.

O sonho da catedral de cristal




The Sainte Chapelle of Paris and the Dream of a Crystal Cathedral



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terça-feira, 4 de julho de 2023

REIMS: catedral que venceu muitos séculos


A cidade de Reims (França) já comemorou os oito séculos de sua belíssima catedral com festividades religiosas e civis, além de apresentações culturais, vencendo todos os fatores de demolição.

Em 6 de maio de 1211, o Arcebispo Aubry de Humbert colocava a pedra fundamental da atual catedral de Reims. No mesmo dia, em 1210, um incêndio devastador destruíra parcialmente a cidade, atingindo a catedral anterior.

O essencial do monumento que hoje admiramos só ficou pronto em 1275, recebendo novos acabamentos e enfrentando novos desgastes, inclusive um incêndio da estrutura do teto (charpente) em 1481.

Alguns detalhes do projeto inicial tiveram de ser abandonados e na guerra de 1914-18 os alemães a bombardearam impiedosamente, destruindo todo o teto e todos os elementos mais frágeis.

Foram necessários 20 anos de árdua reconstrução e restauração das partes danificadas, muitas das quais podem ser vistas no Museu do Tau, antigo palácio arquiepiscopal, contíguo à catedral.

No dia 15 de maio p.p. celebrou-se a Missa solene comemorativa dos 800 anos da catedral medieval, construída sobre os fundamentos das catedrais anteriores.

Na nave central, uma pedra assinala: “Aqui São Remi batizou Clóvis, rei dos francos”.

São Remi (ou Remígio) era então Arcebispo de Reims. Além de Clóvis, ele batizou 3.000 de seus guerreiros no dia de Natal de 498.

São Remi disse então, ao rei franco, as célebres palavras referentes ao paganismo: “Queima o que adoraste, adora o que queimaste”.

O rei fora convertido por sua esposa, Santa Clotilde. Quando enfrentara os alamanos, dois anos antes, na lendária batalha de Tolbiac (em alemão Zülpich, perto de Colônia), Clóvis pediu ajuda “ao Deus de Clotilde” que lhe deu a vitória. Foi então que teria decidido converter-se.

Conta-se que durante o batismo uma pomba desceu do céu trazendo uma ampola que continha um óleo, utilizado para a unção do rei.

Essa ampola foi destruída pelos facínoras na Revolução Francesa, restando hoje apenas algumas gotas, conservadas na basílica de São Remi.

Mais tarde tornou-se tradição os reis se fazerem sagrar em Reims.

Na atual catedral foram sagrados nada menos que 25 reis de França: de Luís VIII e seus filhos São Luís IX (1223 e 1226) a Luís XVI e Carlos X (1775 e 1825).

Uma das sagrações mais célebres foi a de Carlos VII, em 1429, conduzido ao trono por Santa Joana d’Arc, presente no ato.

Apesar de seu projeto não ter sido inteiramente realizado, a catedral de Reims é das mais belas da França e da Europa. Viollet-le-Duc, o gênio da restauração medieval no século XIX, pensava em concluir as torres da catedral com suas agulhas apontando para o céu. Não foi possível.

De qualquer forma, a catedral é uma verdadeira jóia, figura da Jerusalém celeste, que nos convida ao desprezo das banalidades deste mundo para contemplar as belezas inefáveis do paraíso celestial.




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