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terça-feira, 9 de julho de 2024

Abadia de JUMIÈGES: em pé atraía as bênçãos de Deus.
Hoje quem reza por nós?

A neve acumulada sobre as ruínas da abadia fala do esfriamento na fé e do esquecimento de Deus
A neve acumulada sobre as ruínas da abadia
fala do esfriamento na fé e do esquecimento de Deus
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Enriquecido às portas de Paris pelas verdes águas de seu principal afluente oriundo do Leste, o rio Marne, o Sena serpenteia preguiçosamente a partir da capital francesa rumo ao mar, passando pela bela e vetusta capital da Normandia: Rouen, fundada no século II.

Nesse trecho final, suas imponentes falésias de calcário branco formam um verdadeiro paredão junto a sua margem direita, dando abrigo a inúmeras habitações ditas “trogloditas”, como as denominam os franceses modernos. Muitos ali fazem suas caves, depósitos, moradias, e até igrejas.

Normandia! Uma das mais belas e típicas regiões da França, com suas lindas choupanas de traves aparentes, cobertas de colmo (palha de trigo ou centeio).

Sua população risonha e amável, como era a normanda Santa Teresinha do Menino Jesus, nem parece reportar sua origem aos terríveis vikings vindos do Norte, especialmente da Noruega e da Dinamarca.

Entretanto, assim foi.

A França, como se sabe, provém da antiga Gália, dominada pelos romanos 50 anos antes de Cristo.

Mais tarde, os francos, oriundos da Germânia, estabeleceram-se ao norte da Lutécia romana para conquistar o coração do que seria mais tarde o seu reino.

A conversão de Clóvis, em 496, foi de algum modo para os francos o que a conversão de Constantino representara para o Império Romano, em 313.

Cristianizada a partir do século II, Rouen e sua região foram ocupadas por Clóvis em 497. Os primeiros mosteiros aí fundados datam do século VI.

Na metade do século VII, durante a época merovíngia, o rei Dagoberto teve como chanceler Ouen, ligado por estreita amizade a Filisberto e Wandrille.

A vida dos monges girava em torno da oração para Deus se manifestar propício aos homens
A vida dos monges girava em torno da oração
para Deus se manifestar propício aos homens
Os três amigos foram canonizados pela Igreja, numa época em que se levava a sério a santidade...

Santo Ouen (pronuncia-se “uã”) tornou-se bispo de Rouen e fundou nessa cidade a célebre abadia que ainda hoje tem seu nome.

Wandrille fundou a abadia de Fontenelle em 649, hoje chamada de São Wadrille, também junto ao Sena.

Pouco depois, em 654, São Filisberto erigiu a abadia de Jumièges, situada entre as duas anteriores, à margem direita do terceiro meandro do Sena depois de Rouen, a pouco mais de 20 quilómetros dessa capital.

Após a morte do fundador, em 685, a abadia foi dizimada por uma epidemia que teria tirado a vida de mais de 400 monges.

Não obstante, como Fontenelle, Jumièges teve um rápido desenvolvimento. Um documento registra 114 monges em 826: é o Livre de confraternité, da abadia de Reichenau, à qual a abadia de Jumièges estava vinculada por uma comunidade de orações.

Outras fontes, menos confiáveis, falam em 900 monges no século anterior.

Favorecida por doações de reis e grandes senhores, a abadia de Jumièges tornou-se conhecida pela sua generosidade em relação aos necessitados e aos peregrinos.

Mas sua história ainda estava apenas no começo. Com efeito, desde o século II as costas do Canal da Mancha vinham sendo regularmente invadidas pelos audazes guerreiros vikings, oriundos da Escandinávia.

Em princípios do século IX, os homens vindos do Norte — daí o nome de normandos — voltaram para ficar. Em 841, penetrando pelo vale do Sena, incendiaram Rouen e Jumièges, e chegaram a sitiar Paris (885).

A paz foi obtida com um tratado através do qual o rei dos francos conferia ao chefe viking Rollon o título de duque da Normandia.

Foto aérea das ruínas da grande abadia
Foto aérea das ruínas da grande abadia
O rei Carlos, o Simples, cedeu-lhes terras em 911 e 924. O rei Raul cedeu outro tanto em 933. E os normandos, pacificados, permitiram a volta dos monges aos seus mosteiros.

Quando o segundo duque da Normandia, Guilherme Espada Longa, em uma saída de caça deparou com as ruínas de Jumièges, decidiu mandar reconstruir a abadia.

E pediu a sua irmã, casada com o conde de Poitiers, que obtivesse monges para habitá-la. Com o apoio do duque, os monges puderam assim reconstituir Jumièges. Isto ocorreu em 940, ou pouco antes.

Com o assassinato do duque Guilherme em 942, a Normandia sofreu novas convulsões.

O governador de Rouen, Raul Torta, mandou então destruir a abadia para utilizar suas pedras no reparo de uma fortaleza.

Um novo alento veio, entretanto, por volta do ano mil, quando o duque Ricardo II mandou vir da abadia de Cluny o monge Guilherme de Volpiano, cujo discípulo, Thierry, tornou-se abade de Jumièges, com autoridade também sobre as abadias de Bernay e do Monte St-Michel.

Ele decidiu mandar reconstruir e restaurar a igreja abacial de Nossa Senhora. Mas a obra só foi concluída por seu sucessor, Roberto Champart, em 1040.


Continua no próximo post: Abadia de Jumièges: onde a oração dos monges atraia as bênção de Deus para perdoar a humanidade pecadora


(Autor: Gabriel J. Wilson, in “Catolicismo”, junho de 2016).

Abadia de Jumièges: as mais belas ruínas da França (Victor Hugo)




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terça-feira, 25 de junho de 2024

Notre-Dame de PARIS e COLÔNIA duas catedrais co-irmãs como um par de asas

Notre-Dame no outono
Notre Dame de Paris, catedral da simetria e da proporção
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







A Igreja, sempre sábia e sempre única no supra-sumo de sua sabedoria, proíbe de se fazer comparação de santo com santo. Porque todo santo é incomparável.

Por razões análogas, é um pouco impróprio comparar certos monumentos góticos uns com os outros.

E, portanto, comparar Notre-Dame com a catedral de Colônia.

É a Cristandade que fez essas catedrais.

O que inspirou aqueles monumentos foi o Sangue que Cristo Nosso Senhor derramou na Cruz, e as lágrimas que Maria chorou. Isto é que de fato produziu as catedrais e a outras maravilhas. O resto são pormenores.

Sem fazer a menor comparação entre povo francês e povo alemão, eu olho para a fachada de Notre-Dame e me extasio!
Notre Dame de Paris, catedral da beleza e da harmonia
Notre Dame de Paris, catedral da beleza e da harmonia

Tão bem arranjada, tão simétrica!

Nela, a fantasia e a boa ordem se completam, o rigor da lógica floresce num sorriso cheio de distinção.

A Catedral parece dizer:

“Olha, o ponto final da harmonia, da beleza, da dignidade... Procure pela terra inteira, a ver se encontras mais longe, e tu não encontrarás!”

E a gente olha, e diz da Catedral o que a Escritura diz de Jerusalém:

“Eis a cidade de uma beleza perfeita, alegria do muito inteiro.

Eis a Catedral de uma beleza perfeita, alegria do mundo inteiro!”

Colônia é muito bonita.

Mas, se fossem me perguntar se ela é tão bonita quanto Notre-Dame, eu não optaria por Colônia. Eu diria: “indiscutivelmente é Notre-Dame”.

Entretanto, tudo bem pesado, eu digo: “é discutível que seja Notre-Dame”.

Por causa de um ponto só. Mas, esse ponto só, supera Notre-Dame de tal maneira, que a gente fica sem saber o que dizer. E é o seguinte.

Colonia, catedral do impulso ascensional audaz
Colônia, catedral do impulso ascensional audaz
Aquelas torres de Colônia se levantam do chão com um élan, e se lançam para o ar com uma altaneria, tão inesperadamente, que a vontade da gente é perguntar: “Quereis voar?!”

Elas proclamam uma tal vitória do homem sobre a lei da gravidade!

A lei da gravidade atrai o homem para baixo, torna pesados os seus movimentos, torna difícil a vida.

Essa lei fica esmagada nesse movimento audacioso de alma desejando o inimaginável.

E esse impulso da alma é mais belo do que tudo quanto em Notre-Dame foi imaginado e realizado.

Colônia não é a harmonia perfeita, a simetria incomparável, a proporção entre o chão e o edifício.

É o esplendor da desproporção, daquilo que se arranca não por subversão, mas por superação, se arranca a todas as regras e as transcende, e diz:

“Positivamente! Universo, com tuas lindas regras, eu te venero, eu te quero, eu faço parte de ti, mas de dentro de ti eu levanto a mão até o Autor do universo!”

Quem no mundo tem autoridade para criticar um monumento como o de Colônia?

Colonia, par de asas subindo ao céu
Colônia, catedral que toca o Céu!
Entretanto, eu gostaria que aquelas torres fossem mais distantes um pouco uma das outras. Que houvesse um pouco mais de lugar para a fachada.

Aquilo parece um pouco apertado. Por causa disso, janelas, vitrais, tudo é um pouco apertado também.

Quando eu comparo Colônia com aquele espaço harmoniosamente preenchido por Notre-Dame, eu digo:

“Mas, Notre-Dame tem outro estar à vontade do que essa Catedral que parece estar posta num colete.

Linda! Tão bonita que a gente teria vontade de tirá-la do colete!”

Mas, mas, mas... aquelas duas torres tão próximas uma da outra parecem um par de asas subindo para o céu...

O meu comentário seria: nunca dos nuncas um avião subiu tão alto.

Todos nós já voamos a dez mil metros. Olhamos para a terra...

O que é aquilo? É a minha sepultura, se eu cair. Não é outra coisa senão aquilo.

Agora, olhamos para a Catedral e dizemos: “Aquilo toca no Céu”.

Porque ali é a alma humana que tem a sensação do Céu que foi tocado.

(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, 13/10/79. Sem revisão do autor.)



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terça-feira, 11 de junho de 2024

Na luz espiritual está o segredo das catedrais

Catedral de Aquisgrão, Alemanha
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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Os medievais às vezes chegavam até a fantasiar, a compor, por exemplo, canções de gesta, que exprimiam o desejo deles de participar de gestas.

O medieval, quando não participava de uma proeza, julgava-se frustrado na vida.

O medieval via na religião católica uma luz diferente porque ele tinha uma noção muito mais povoada de sublimidade, de maravilhoso, de luzes intelectuais e morais de toda ordem que o homem posterior não teve.

Isso vinha de um certo modo de ver a religião católica, que se faz sentir numa catedral gótica. Mas, não numa igreja barroca, embora bela e sagrada.

Catedral de Nottingham, Inglaterra
Como é que a gente poderia encontrar uma palavra que dissesse o imponderável da catedral medieval?

Se aparecesse um Anjo que tivesse inteiramente o espírito das catedrais e dos castelos góticos, ele teria uma de cara de catedral e uma alma de catedral ou de castelo forte.

Ele simbolizaria isto para todo mundo.

Ele resplandeceria de luz e de sublimidade.

E esse é o espírito das catedrais medievais.

Elas convidam a ver a sublimidade em todas coisas, inclusive na ordem temporal.

Na hora de fazer as casas, de comerciar nas feiras, de fazer um vitralzinho para a janela do quarto, o medieval fazia tudo procurando aquela forma de sublimidade da Idade Média que as catedrais ensinavam.

Catedral de Peterborough, Inglaterra

Esse espírito que procura a sublimidade antes de tudo é uma coisa prévia à estrutura feudal medieval.

Sem ele não se compreende o feudalismo.

Quer dizer, a vassalagem vista à luz da Idade Média e não de um modo meramente funcional, a vassalagem é um dos pontos aonde mais brilha esse espírito.

Mas esse desejo de procurar em tudo a sublimidade é anterior ao problema da vassalagem.

E, ele resplandece no estilo e em todos os aspectos da catedral medieval.




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terça-feira, 28 de maio de 2024

Catedral de ELY: símbolo da Nave da Salvação

A catedral de Ely, apelidada “o navio do Fens”
A catedral de Ely, apelidada “o navio do Fens”
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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A catedral de Ely (Cambridgeshire, Inglaterra) é conhecida localmente como “o navio do Fens”, devido à sua forma proeminente que se eleva acima da paisagem plana e húmida de Fens.

A primeira igreja cristã no local foi fundada por Santa Etheldreda, filha do rei de East Anglia.

Em 673, após ficar viúva de um príncipe de Northumbria , ela fundou e governou um mosteiro, onde faleceu.

A urna com suas relíquias foi centro de romarias na Idade Média.

O mosteiro original foi destruído pelas invasões nórdicas no século IX.

No século X foi erguida outra igreja, substituída pela atual catedral a partir de 1082.

A Torre Ocidental foi erigida entre 1174 e 1197 no estilo românico e mede 66 metros de altura.

A “torre da lanterna” no transepto, centro da catedral
A “torre da lanterna” no alto do transepto, centro da catedral
A “torre da lanterna” no transepto, centro da catedral foi construída no século XIV.

O gótico foi introduzido na Inglaterra pelos normandos católicos sucessores de Guilherme o Conquistador.

A planta do edifício tem forma de cruz, com o altar voltado para o Oriente, de onde Cristo há de vir no Fim do Mundo.

O cumprimento total da catedral é 163,7 metros.

Só a nave mede 75 metros de extensão, sendo a maior da Inglaterra.

Em 1539, quando o rei Henrique VIII precipitou Inglaterra no protestantismo anglicano e dissolveu os mosteiros, a urna de Santa Etheldreda foi selvagemente destruída.

Acompanhando a tendência protestante de acabar com a devoção aos santos, também as estátuas representando os bem-aventurados foram severamente danificadas.

A estrutura da catedral porém salvou-se da depredação.

Em séculos posteriores, os efeitos da barbárie anti-católica foram corrigidos por diversas grandes restaurações. A última aconteceu entre 1986-2000




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