Outras formas de visualizar o blog:

terça-feira, 29 de agosto de 2023

Os três Reis Magos na catedral de COLÔNIA

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Belíssima e imponente catedral, a mais alta do mundo, escrínio para os preciosos restos mortais dos primeiros reis que adoraram, nesta Terra, o Rei dos Reis, o Senhor dos Senhores

Renato Murta de Vasconcelos

Fotos ou quadros da Catedral de Colônia tornaram-se conhecidíssimos em todo o mundo. Imponente, com suas duas torres elevando-se a quase 160 m do solo, ela é uma jóia da arte gótica medieval às margens do Reno.

Oppidum Ubiorum: Esse era o nome do florescente núcleo urbano estabelecido pelos romanos, no ano 38 a.C., ao norte das fronteiras de seu Império em terras germânicas.

Quase um século mais tarde, em 50 d.C., o núcleo tomou o nome de Colônia Agripina, em homenagem à esposa do Imperador Cláudio, mãe de Nero.

Com a conversão dos bárbaros ao cristianismo, surgiram nessa cidade, ao longo dos séculos, grandes varões reputados por sua ciência ou santidade de vida, a ponto de Colônia haver sido qualificada de a cidade santa junto ao Reno, ou a Roma do Norte, devido ao grande número de suas igrejas.

Por sua importância, tornou-se sede episcopal e, séculos mais tarde, seus Arcebispos tornaram-se Príncipes-Eleitores do Sacro Império Romano Alemão.

Relíquias dos Reis MagosEm meados do século XII, o Imperador Frederico Barba-roxa invadiu Milão e apoderou-se das relíquias dos Reis Magos.

Elas se encontravam na igreja de Santo Eustórgio, dessa cidade, desde o início do século VI.

E o então Arcebispo de Colônia, Rainald von Dassel, encarregou-se de fazer o traslado para a Roma do Norte.

No dia 23 de julho de 1164, ao som dos carrilhões das igrejas, o Arcebispo Rainald entrava na antiga catedral conduzindo as veneráveis relíquias.

Para guardá-las e servir-lhes de escrínio, planejou-se a confecção de um grande relicário de ouro e pedras preciosas, trazendo no frontispício a cena da adoração dos três Reis Magos1.

Esse relicário, começado por Nikolaus von Verdun em 1181 foi terminado por seus discípulos em 1220.

Ele constitui — juntamente com o relicário que guarda os restos mortais de Carlos Magno — um dos pontos altos da ourivesaria medieval.

A mais alta torreContudo, a piedade popular queria mais.

Era preciso um relicário ainda maior, no qual a pedra rendilhada e o vitral multicolorido protegessem e envolvessem de esplendor o escrínio de ouro e de pedras preciosas.

Planejou-se então uma imensa catedral, a maior do mundo, cuja pedra fundamental foi lançada pelo Arcebispo Konrad von Hochstaden em 1248, no lugar da antiga catedral erigida no século IX.

Colônia tornou-se, já a partir de fins do século XIII, grande centro de peregrinações: juntamente com Roma e Santiago de Compostela, constituiu um dos três maiores locais de peregrinações da Idade Média.

E isso durou até fins do século XVIII, como constata Goethe em sua famosa obra Italienische Reise (Viagem à Itália).

Contudo, a construção não foi concluída no século XIII.

Embora Colônia fosse uma cidade rica, as torres só ficaram prontas em 15 de outubro de1880, sob o reinado de Guilherme I da Prússia.

A Catedral de Colônia era então o edifício mais alto do mundo. Majestosa, altaneira, ela sobrepujava também as demais catedrais pela extensão de sua fachada.

Sólido escrínio dos veneráveis restos daqueles três varões que tiveram o privilégio de estar entre os primeiros a adorarem o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores!

Em sua grandeza monumental, desafiando o destrutivo dente do tempo, à famosa catedral bem se poderiam aplicar as palavras de Cícero: "Alios ego vidi ventos; alias prospexi animo procellas”2 (Eu vi outros ventos e contemplei outras tempestades).

O ódio revolucionário

Contra esse estupendo monumento de fé e de piedade, no qual se refletem os melhores lados da alma alemã, voltou-se ao longo dos tempos o ódio dos ímpios, ateus e revolucionários de toda espécie.

Em fins da primeira metade do século XIX, quem melhor representou tal ódio foi Heinrich Heine, em sua época um expoente do pensamento ateu e republicano de tintas comunistas.

Amigo de Marx e exilado na França por causa de seus escritos incendiários, Heine conseguiu, após 13 anos de exílio, autorização para retornar a seu país.

As impressões de seu reencontro com o solo pátrio após tão longo tempo, ele as consignou em sua famosa sátira Deutschland, ein Wintermärchen (Alemanha, um conto de inverno).

Escrita em verso, a obra, considerada um texto clássico da literatura alemã, é objeto de acurado estudo em colégios e liceus. Ou em cursos de literatura alemã para estudantes estrangeiros.

Heine escreve que, dirigindo-se a Hamburgo, onde reviu sua mãe, chega a Colônia e contempla com olhar de ódio a vetusta catedral, símbolo do "fanatismo" e da "superstição". Não estavam longe os ecos dos impropérios da Revolução Francesa contra a Igreja...

Horror demoníaco à Catedral

Heine hospeda-se próximo à Catedral, e durante a noite sonha de modo estranho. Ele se vê penetrando no templo, acompanhado de um "espírito familiar, à maneira do `petit homme rouge' (o pequeno homem vermelho) que acompanhava Napoleão por todas as partes”.

Na obscuridade do templo, um ponto luminoso o atrai. Ele aproxima-se do escrínio de ouro, onde repousam os três Reis: Gaspar, Baltazar e Melquior.

Ali estão concentrados, a seu ver, quase dois milênios de "obscurantismo”, inconcebível depois do "século das luzes”.

Desprezando sarcasticamente a morte, a realeza e a santidade, ele faz um sinal ao "executor de suas vontades” (o tal "espírito familiar"), o qual, brandindo então uma pesada maça de ferro, quebra, espandonga, reduz a pó aquilo que ele chama de "restos da superstição”. Satisfeito com seu vandalismo ímpio, Heine acorda.

Fora apenas um sonho, é verdade. Mas quão expressivo de seus mais íntimos sentimentos.

Ele desejava que as torres da Catedral jamais fossem concluídas, e que o velho edifício se transformasse, no futuro, em estrebaria para os cavalos das tropas da Revolução3.

Em séculos anteriores ao de Heine, houve também inimigos da Igreja que quiseram transformar templos católicos em estábulos.

Essa foi, aliás, a ameaça de chefes muçulmanos que, tanto às vésperas da batalha de Lepanto, em 1571, quanto durante o cerco de Viena, em 1683, manifestaram sua intenção de entrar na Basílica de São Pedro a cavalo.

O sonho de Heine exprime bem o grau de intensidade do ódio que os revolucionários votam não só a relíquias veneráveis, mas também e sobretudo a institui
ções e valores da Civilização Cristã, mesmo a edifícios.

O Islã e o sonho de Heine

Esse ímpio escritor alemão morreu há mais de 150 anos. Desapareceu com ele esse ódio? Não, evidentemente. Ele continua vivo.

Talvez até mais virulento em sua latência. E só espera a primeira ocasião favorável para mostrar sua face hedionda, seja pela violência, seja pela lenta corrosão empreendida pela Revolução cultural.

Exemplo típico dessa corrosão é a atual tentativa de transformar a cidade de Colônia na capital homossexual da Alemanha!

Tem-se falado muito aqui que a Europa — e em particular a Alemanha — encontra-se na alça de mira de terroristas islâmicos.

E que não seria surpresa alguma se, de um momento para outro, ocorresse algum grave e pavoroso atentado terrorista.

Não seria a magnífica Catedral de Colônia — com suas veneráveis relíquias e suas esplendorosas obras de arte — alvo preferencial?

Um ataque terrorista contra Colônia atingiria de cheio o coração da Alemanha católica. Que os três Reis Magos protejam nossa Catedral!


Notas:
1.Em 1903, o relicário foi aberto e dele retiradas três porções das relíquias dos Reis Magos. Constatou-se então que se conservam ainda tanto o crânio como quase todos os demais ossos.
2.Cícero, Familiares, 12, 25, 5.
3.Heinrich Heine, Deutschland, ein Wintermärchen, Insel Verlag, Frankfurt, 1993, pp. 31-34.









GLÓRIA CRUZADAS CASTELOS ORAÇÕES HEROIS CONTOS CIDADE SIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

terça-feira, 22 de agosto de 2023

O pórtico colorido de Santa Maria de Laguardia, Espanha

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Na igreja de Santa Maria de los Reyes de Laguardia, na província de Álava, se conserva um dos melhores templos góticos da Espanha.

O templo é especialmente visitado e considerado em virtude de sua fachada.

Nos primórdios, a igreja provavelmente pertenceu a um mosteiro templário.

Ela possui um excecional pórtico gótico concluído no século XIV, mas a policromia das imagens é do século XVII.

Veja vídeo
Todo o pórtico é feito em pedra como é tão frequente no estilo gótico.

O portal, ou arranjo arquitetônico que decora a porta de entrada, está composto por um arco gótico central muito afiado.

Em torno dele, mais cinco arquivoltas, ou arcos góticos harmonizados com o arco principal, todas eles ricamente decoradas.

Na Idade Média, em geral as imagens e ornamentos das catedrais e igrejas góticas eram pintadas com riqueza de cores, e até recebiam um banho de ouro.

Também os muros eram pintados com cenas religiosas. E isto se dava nas igrejas mais “pobres”.

Nas mais “ricas” ou que dispunham de materiais coloridos ou artistas especializados – algo muito frequente na Itália, por exemplo – utilizavam-se mármores valiosos e mosaicos requintados.

É o caso por exemplo da catedral de Orvieto, ou até da antiga basílica de São Pedro, no Vaticano.

Essa foi demolida para dar lugar à atual que retomou com novos estilos e muito maior riqueza o antigo costume de decorar a igreja com mármores e metais valiosos além de mosaicos em lugar de quadros pintados.

Hoje tenta-se reproduzir o colorido dessas catedrais góticas policromadas recorrendo a raios laser. Porém ficam muitas poucas igrejas com as pinturas originais, com ou sem restauração.

Em Laguardia há um dos poucos pórticos góticos policromados que se conservam na Espanha. Na igreja colegiada de Toro, Zamora, existe mais um, mais antigo, porém, menos requintado.

No pé das arquivoltas encontramos as imagem dos apóstolos, excetuado Judas que é substituído por São Paulo.

Cada Apóstolo porta atributos e inscrições que esclarecem sua identidade.

São Pedro aparece com as chaves de ouro e prata, símbolos do poder do Papa sobre a ordem eclesiástica (ouro porque é universal e direta, e prata porque é indireta e com certos conformes).

São Paulo com a espada símbolo de sua luta; Santo André com o cruzeiro em X em que foi crucificado; São Mateus com o Evangelho que compôs inspirado pelo Espírito Santo; São Tiago o maior com o cajado e chapéu de romeiro de Compostela; São Joao Evangelista com a águia símbolo do voo de amor admirável que caracterizava o discípulo amado; São Filipe com os peixes e paes que apresentou a Nosso Senhor para a multiplicação milagrosa, etc.

Sobressaem também as estátuas de santos, anjos, profetas e reis.

O tímpano está dividido em três franjas com cenas da vida de Nossa Senhora:

A Anunciação,

a Visitação,

a Adoração dos Reis Magos,

a Dormição da Virgem,

a Assunção ao Céu em corpo e alma, etc.

Por fim, na parte superior: a Coroação como Rainha do Céu e da Terra.

A decoração vegetal é habitual neste tipo de portadas.

Na coluna central: a Virgem dos Reis.

Ela é nossa rainha e a nossa Mãe,

A Ela devemos toda forma de devoção, serviço e fidelidade enlevada.



Vídeo: Santa Maria dos Reis: o portal do deslumbramento




GLÓRIA CRUZADAS CASTELOS ORAÇÕES HEROIS CONTOS CIDADE SIMBOLOS Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAIS*ORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

terça-feira, 15 de agosto de 2023

Jovem amante das catedrais impediu com sua mochila o apunhalamento de quatro crianças

Imigrante árabe tenta matar crianças e rapaz da mochila reage
Imigrante árabe tenta matar crianças e rapaz da mochila reage
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Abdalmasih H., imigrante do Meio Oriente de 31 anos, esfaqueou selvagenmente quatro criancinhas que estavam em seus carrinhos passeando em Annecy, turística cidade dos Alpes franceses, egundo descreveu “La Nación”.

Um jovem francês de 24 anos de nome Henri que passava casualmente pela praça usou sua mochila para enfrentar o agressor e pô-lo em fuga.

Muitos franceses depositaram flores na área de jogos infantis, e a mídia, sempre acobertadora dos atentados islâmicos, desta vez se encheu de elogios a Henri, apelidado “o héroe da mochila” – “le héros au sac a dos”, em francês.

O imigrante feriu gravemente a quatro crianças de entre 22 meses e 3 anos de idade, e também a dois adultos.

Até o presidente Emmanuel Macron, muito criticado pelo seu laxismo diante da criminalidade islâmica foi à cidade alpina de Annecy, para agradecer a médicos, policiais, bombeiros e até a Henri!

Henri se defendia com uma mochila na mao enquanto o atacante tentava esfaqueá-lo. Mas Henri o perseguiu até se afastar.

Imigrante tenta apunhalar crianças em playgroun de Annecy
Imigrante tenta apunhalar crianças em playground de Annecy
O jovem, que estuda filosofia e administração explicou que reagiu desse modo porque era vontade de Deus que ele estivesse ali para intervir.

Como católico disse que uma força dentro dele, presumivelmente uma graça, o empurrou a reagir. “Deixei-me guiar pela Providencia e pela Virgem Maria. Pronunciei meu adeus à vida e deixei que eles decidissem o que aconteceria.

“Só sei que não foi por acaso. Em minha viagem às catedrais, encontrei esse homem e agi instintivamente. Era impensável não fazer nada”, declarou a CNEWS. “Tentei agir como todos os franceses deveriam ou iriam agir”.

Fez muito bem, mas infelizmente não são todos, neste mundo descristianizado, que reagem assim com espírito de Fé.

Momentos em que o jovem católico enfrenta assassino e o põe em fuga
Momentos em que o jovem católico enfrenta assassino e o põe em fuga
Henri tem o perfil de Instagram “Le chant des cathédrales” (“A canção das catedrais”), onde ele narra suas aventuras percorrendo a pé as 280 catedrais francesas.

O pai de Henri, François, contou que “ele não parou de correr atrás do agressor por muitos minutos, para evitar que ele voltasse e matasse ainda mais crianças. Acho que evitou a carnificina assustando-o. Realmente muito corajoso”.

François pediu que seu sobrenome não fosse publicado, para preservar a sua família aos olhos do público em um momento de choque e indignação na França provocado pela brutalidade do ataque e pelo desamparo das jovens vítimas, semelhante ao de outros casos análogos.

Catedral Notre Dame de Paris antes do incêndio
Catedral Notre Dame de Paris antes do incêndio.
O amor das catedrais vivia no jovem herói da mochila
“Atacar crianças é o ato mais bárbaro que se possa imaginar”, disse o chefe de Estado que, segundo a primeira-ministra Elisabeth Borne, quatro menores “foram submetidos a cirurgia e estão sob vigilância médica permanente”.

Abdalmasih obteve asilo na Suécia em 2013 e teria chegado à França no final de 2022.

Após ser submetido a exame psiquiátrico, o tribunal prorrogou a sua prisão preventiva. A promotoria de Annecy descartou um ato terrorista e disse que o agressor agiu sob efeito de álcool ou drogas.

Ainda que for verdade, o povo francês tende a achar que crimes com estas características são estimulados pelo Corão, ainda que os promotores do ecumenismo católico digam o contrário.




GLÓRIA CRUZADAS CASTELOS ORAÇÕES HEROIS CONTOS CIDADE SIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

terça-feira, 8 de agosto de 2023

Teófilo, o clérigo que vendeu a alma ao diabo, segundo uma 'Biblia dos pobres'

Catedral de Toledo
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Encravados nas modernas cidades europeias, erguem-se autênticos gigantes de pedra desafiando o tempo.

São as catedrais medievais, construídas por almas fervorosas que quiseram ver sua fé imortalizada através dos séculos.

Contemplando no silêncio o correr de eras históricas, constituem elas um ensinamento vivo da sabedoria da Igreja Católica.

Em suas esculturas de pedra e delicados vitrais coloridos espelha-se uma ordem ideal do universo. A catedral foi por isso chamada "Bíblia dos pobres".

Algumas estátuas constituem verdadeiras obras-primas, tanto da escultura românica quanto da gótica.

Nesta "Bíblia de pedra e de cristal", os artistas de outrora esculpiram inúmeras parábolas, que ensinam de modo vivo as virtudes que o fiel católico deve praticar.

Uma dessas histórias retratadas em pedra é a de Teófilo.

O fato ocorreu na Sicília, e deu origem à famosa legenda que inspirou a auto sacramental "O milagre de Teófilo", dos mais célebres da literatura medieval.

Catedral de Palermo, na Sicília.
Catedral de Palermo, na Sicília.
Foi escrita pelo clérigo Eutiquiano de Constantinopla, como testemunha ocular que foi do fato. Segundo o padre Crasset, confirmam-no S. Pedro Damião, S. Bernardo, S. Boaventura, S. Antônio e outros.

Qual era o caso de Teófilo? Vigário da Igreja de Adanas, na Sicília, ele dirigira durante muito tempo, com dedicação e acerto, os bens eclesiásticos, facilitando a seu bispo a direção das almas.

Porém, veio o dia em que o prelado entregou sua alma ao Criador, para grande desconsolo e tristeza dos fiéis.

Quem ocuparia a sede vacante? Não havia dúvida: Teófilo — dizia-se por toda parte.

Gargouilles de Notre Dame de París. Esses seres quiméricos lembram a presença do demônio tentando assaltar os homens nos locais menos esperados.
Gargouilles de Notre Dame de París. Esses seres quiméricos
lembram a presença do demônio
tentando assaltar os homens nos locais menos esperados.
O povo o estimava e o queria para bispo, dignidade que ele por humildade recusou, respondendo que sua vocação era continuar exercendo as funções de vigário. Por fim, outro bispo ocupou a sede vacante.

O novo prelado não confiava em Teófilo, e algum tempo depois removeu-o de seu cargo. A desolação invadiu então a alma do eclesiástico.

Enquanto ele vagava pela cidade, o demônio lhe sussurrava:
— Perder o cargo! A carreira! Como foram fazer isso a ti, Teófilo? Isso não pode ficar assim!

Foi nesse estado que o infeliz sacerdote bateu à porta do feiticeiro. Este, porém, negava-lhe uma solução fácil:
— Há só uma saída: invocar a ajuda dos infernos.

Teófilo vacilou por um instante. Porém o ressentimento lhe corroía o coração, e acabou aceitando a proposta. Invocado pelo feiticeiro, o demônio apareceu imediatamente em toda sua hediondez.

Com gritos, blasfêmias e palavrões, foi ditando a Teófilo os termos dos atos, que deviam ser escritos em pergaminho com o próprio sangue do ex-vigário e selados com seu anel.

Devia renunciar à Fé, à Igreja, à Santíssima Virgem e a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Catedral de Palermo, Sicília, Itália.
Catedral de Palermo, Sicília, Itália.
Ajoelhando-se, o ex-vigário prestou vassalagem ao demônio, em sua forma monstruosa (na cerimônia medieval de vassalagem, o servo juntava suas mãos e o senhor feudal as cobria com as mãos, significando assim que concederia proteção àquele que se submetia à sua autoridade).

No dia seguinte o bispo reconheceu a falsidade das acusações contra Teófilo e pediu-lhe perdão, restituindo-lhe o cargo que ocupara. A fortuna e o prazer lhe sorriam, mas um profundo mal-estar o atormentava no interior.

Chorava sem cessar, tendo a consciência dilacerada de remorso pelo enorme pecado que havia cometido.

Era como se uma mão o prendesse pelo coração. Ademais, só ao pensar que sua felicidade iria terminar algum dia, tornava-se sumamente infeliz.

Sobretudo, enchia-o de terror o saber de quem era servo!

Finalmente, não podendo suportar mais tal situação, entrou um dia na igreja, e lançando-se aos pés de uma imagem da Santíssima Virgem, chorou amargamente e lhe disse:
— Ó Mãe de Deus, não quero desesperar-me. Ainda Vós me restais, Vós que sois tão compassiva e poderosa para me ajudar.

O 'milagre de Teófilo' entalhado na pedra
para lição dos fiéis (detalhe) Notre Dame de Paris
Fez a mesma coisa durante quarenta dias, renovando sempre suas súplicas e pedindo perdão.

Uma noite apareceu-lhe a Mãe de Misericórdia e disse-lhe:
— Que fizeste, Teófilo? Renunciaste à minha amizade e à de Meu Filho e te entregaste àquele que é teu e meu inimigo!

Teófilo, sem deixar de chorar, implorou a misericórdia da Mãe de Deus. Recordando o exemplo de outros pecadores como o Profeta-Rei David, Santa Maria Madalena e S. Pedro, terminou por dizer:
— Senhora, haveis de me perdoar e de me obter o perdão de vosso filho.

Ela respondeu-lhe que o perdoaria tê-la negado, mas não poderia perdoar a negação de Seu Filho:
— Consola-te, que vou rogar a Deus por ti.

Após ouvir estas palavras, reanimado, redobrou Teófilo as lágrimas, as preces e as penitências, conservando-se sempre aos pés da imagem de Maria. Reapareceu-lhe a Mãe de Deus, e amavelmente lhe disse:
— Teófilo, enche-te de consolação. Apresentei a Deus tuas lágrimas e orações. De hoje em diante guardo-lhe a gratidão e fidelidade.

O infeliz replicou:
— Senhora minha, ainda não estou plenamente consolado. Ainda conserva o demônio o ímpio documento em que renunciei a Vós e a vosso Filho. Podeis fazer que me restitua?

Nossa Senhora enxota o demônio e salva o clérigo Teófilo
Nossa Senhora enxota o demônio
e salva o clérigo Teófilo. Notre Dame de Paris
Compadecida, Ela mesma ofereceu-se para ir buscar o pergaminho no inferno. Durante três dias Teófilo aguardou prostrado em terra, ao cabo dos quais reapareceu a Virgem trazendo o pacto maldito, que entregou a Teófilo como símbolo do seu perdão.

No dia seguinte foi Teófilo à Igreja, e ajoelhando-se aos pés do bispo, que naquele momento oficiava, contou-lhe por entre soluços tudo quanto lhe havia acontecido.

Entregou-lhe o ímpio documento, que o bispo fez queimar imediatamente diante dos fiéis presentes, enquanto choravam todos de alegria, exaltando a bondade de Deus e a misericórdia de Maria para aquele pobre pecador.

Teófilo voltou à igreja de Nossa Senhora, e ao fim de três dias morreu contente, cheio de gratidão para com Jesus e sua Mãe Santíssima.

Na escultura que representa o fato, bem se pode ver esse auge de bondade de Maria. Enquanto o vigário arrependido ora fervorosamente, a Santíssima Virgem obriga, com a espada na mão, o demônio a devolver-lhe o pergaminho.

Três fisionomias marcam a cena: confiança e calma em Teófilo; proteção maternal e força de Nossa Senhora; ódio cínico e desespero profundo no demônio.

(Fonte: S. Afonso Maria de Ligório, "Glórias de Maria")


GLÓRIA CRUZADAS CASTELOS ORAÇÕES HEROIS CONTOS CIDADE SIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS