Nave central da catedral de Amiens, França |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
continuação do post anterior: Fidelidade às origens bíblicas e canônicas. “Feias como o pecado ou antecâmaras do Céu?– 2
O arquiteto suíço Le Corbusier criou dois exemplos típicos da nova arquitetura em sintonia com a nova teologia.
“Sua Notre Dame du Haut (1950-1954) em Ronchamp, França, é talvez o epítome de uma igreja desenhada como uma escultura abstrata. O mosteiro dominicano de La Tourette (1951), [...] com seus espaços áridos e opressivos, foi um fracasso monumental” (T, 101-102).(3)
Convento de la Tourette, França
Le Corbusier sustentava que a casa é uma “máquina para morar”.
Portanto, máquina, e não a figura humana, seria o paradigma para a arquitetura
Este critério insano “foi aplicado na arquitetura eclesiástica católica dos anos 60, enquanto que a Igreja, desorientada como foi pelo novo movimento litúrgico, sucumbiu à idéia de que a arquitetura da nova igreja deveria explorar os materiais e os métodos modernos.
Igreja do Jubileu 2000, paróquia de Tor Tre Teste, Roma
Então, a maioria das obras desta época foram efetuadas com aço, vidro e concreto, desenhadas como grosseiras massas, obedecendo à forma de conchas, navios, arcas e outros temas náuticos; ziggurats, naves espaciais, colméias, toldos de índio, artefatos para pouso lunar, e vários tipos de origami” (T, 102).(4)
Entre esses templos revolucionários, Dr. Rose cita a catedral do Rio de Janeiro. Igreja cônica, algo sem precedentes no catolicismo, lembra ela os templos babilônicos, dos quais o maior foi a Torre de Babel (T, 100).
O autor alude também à catedral de Brasília — que compara a uma torre para esfriar água — e à de Maringá, cuja forma cônica reporta-se ao satélite soviético Sputnik, lançado em 1957.
O desconcerto e o mal-estar cresciam. Mas o pior estava por vir.
No ano 2000, segundo o arquiteto americano, três projetos visaram marcar a arquitetura do novo milênio. O primeiro foi a Igreja do Jubileu 2000, na paróquia romana em Tor Tre Teste, construída pelo arquiteto Richard Meier.(acima)
Catedral de Los Angeles, Califórnia |
Reúne uma “série de paredes de concreto retilíneas e curvilíneas recheadas com vidro, todas num plano horizontal, como se o prédio pudesse ser arrancado qualquer dia e transportado a alguma outra superfície” (T, 104).
Para os críticos, evoca mais a Opera de Sydney ou uma sala protestante perfeitamente puritana.
O segundo foi a catedral de Nossa Senhora, de Los Angeles, EUA.
Teve-se em vista uma catedral que “com o seu aspecto grosseiramente volumoso, contrastes agudos, estrutura assimétrica desprovida de ângulos retos, rompesse deliberadamente com a continuidade histórica de dois milênios de arquitetura católica para as igrejas.
Mas paga tributo aos últimos cinqüenta anos de estruturas para escritório, banais e sem inspiração, que têm poluído a paisagem do centro de Los Angeles e da maioria das outras cidades americanas” (T, 105).
Catedral Christ the Light, em Oakland, Califórnia |
A terceira grande experiência foi a Catedral Christ the Light, em Oakland, Califórnia.
O projeto vencedor, de Santiago Calatrava, propôs “uma concha gigante semi-aberta, uma caixa torácica ou pança de uma baleia.
Foi a primeira catedral que iria ter um teto retráctil. [...] “The San Francisco Chronicle” descreveu a proposta como 'uma estrutura de costelas de aço pintado, vidro e concreto, que parece tão futurista como os restos de um esqueleto de uma criatura pré-histórica corcunda’” (T, 106-107).
Após descrever a divergência existente nas origens das duas tendências, o autor desce aos pormenores das oposições.
A arquitetura eclesiástica católica bem sucedida é uma corporificação material das doutrinas da fé.
Dr. Rose exemplifica isso com a catedral Notre Dame de Paris. Ela é a jóia-da-coroa da Cidade Luz, o verdadeiro epicentro, a alma da capital francesa.
Notre Dame, catedral de Paris |
Ela é a representação do Cristianismo na sua totalidade: desde o império universal de Nosso Senhor Jesus Cristo até os sofrimentos dos precitos no inferno.
Nela, o peregrino percebe a luta entre o bem e o mal, entre o sagrado e o profano, entre o eterno e o passageiro.
Notre Dame, ele insiste, é arte no sentido mais nobre do termo, é arquitetura da mais alta classe, um “lugar sagrado” que espelha as realidades eternas. Ela é, antes de tudo, a casa onde Deus habita na Terra.
continua no próximo post: Visibilidade, hierarquia e simbolismo da igreja. “Feias como o pecado” ou antecâmaras do Céu? – 4
Notas:
3. Nesse mosteiro acabou se suicidando o dominicano frei Tito de Alencar, religioso envolvido com a guerrilha no Brasil.
4. Origami: arte milenar japonesa, que consiste em dobrar papel a fim de formar objetos sem o auxílio de tesoura ou cola.
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