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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A Catedral da beleza perfeita nas tempestades da História

Notre Dame de Paris.
Fundo: Grande Cruz das Três Ordens Militares (Cristo, Santiago, Avis)
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Continuação do post anterior


A França possui ainda hoje um número elevado de catedrais, abadias, igrejas e capelas góticas. Alguns desses monumentos são merecidamente célebres, como as catedrais de Reims, Chartres, Amiens, Bourges, Estrasburgo, para citar apenas estas.

Mas existem inúmeras outras igrejas como que perdidas em longínquas províncias ou em cidades modernizadas.

Sem dúvida, cada catedral possui sua beleza específica, algumas de valor excepcional. Mas nenhuma terá inspirado tanto os poetas, artistas e escritores quanto Notre-Dame de Paris.

Bastaria o privilégio insigne de abrigar as relíquias da Paixão. Também tem seu peso o fato de ser a Sé da capital do reino, do império e da república.

Mas possui ainda outros trunfos que fazem dela a rainha das catedrais. A respeito de Notre Dame de Paris, exclamou Plinio Corrêa de Oliveira: “Igreja de uma beleza perfeita, alegria do mundo inteiro”.

Ocupando a metade leste da Île de la Cité (Ilha da cidade), que é o coração de Paris, a catedral situa-se num lugar privilegiado, como uma grande nave acariciada pelas águas do rio Sena.

No século XX, a população de Paris teve o bom senso de opor-se à construção de arranha-céus no centro histórico. Assim, de vários ângulos a catedral pode ser vista, total ou parcialmente, em sua beleza única.

Veja vídeo
Veja igrejas de beleza perfeita
A sua agulha aponta para o céu com a doce violência de uma prece, como uma flecha que arranca os maiores perdões do Coração divino.

Sua fachada e suas torres são de uma harmoniosa força e doçura, que conquistam qualquer alma aberta à beleza.

“Em uma extraordinária vertical, sua fachada associa o mistério da Encarnação a Cristo Juiz, mostrando seu corpo martirizado e os instrumentos da sua Paixão no momento de separar os eleitos dos condenados.

“Jesus Cristo como Mestre no tremó (a coluna que divide a porta central) alinha-se à Cruz de glória sobreposta, no coro, à Virgem das Dores que oferece a Deus seu Filho supliciado para expiar os nossos pecados”, observa Michel De Jaeghere.(12)

Se analisarmos os detalhes, descobriremos novas riquezas: a doçura incomparável da harmonia de cores de suas rosáceas, especialmente a do portal Sul; a majestosa e maternal imagem de Nossa Senhora de Paris no transepto, à direita da mesa da comunhão; os altos-relevos coloridos que circundam o coro, visíveis do deambulatório, ilustrando episódios da história da salvação; a sua estatuária externa hierática e monumental, com toda a sua riqueza simbólica; as suas gárgulas representando figuras hediondas, a lembrar a presença do maligno, sempre à espreita para perder as almas…

Sob o signo da luta entre o bem e o mal, entre anjos e demônios, manifesta-se um dos aspectos mais interessantes de Notre Dame de Paris.

O neto de São Luís contra o Papa!

De acordo com M. De Jaeghere, se Notre Dame de Paris ocupa um lugar especial no imaginário dos franceses, não é apenas por ser um catecismo em pedra, mas também um compêndio e palco da História, conforme um dito do Cardeal Feltin: [Em Notre-Dame] “a França recita o rosário perpétuo das suas alegrias, dos seus lutos e das suas glórias”.

Com efeito, se aí ocorreram acontecimentos gloriosos, também se cometeram pecados imensos. Assim a transformação da catedral em templo da deusa razão, figurada por uma mulher impúdica que nela se exibiu nua num episódio da Revolução Francesa – classificada por Plinio Corrêa de Oliveira em sua obra-mestra (13) como a segunda Revolução.

Também a primeira Revolução, fautora da destruição da Cristandade medieval, está ligada à história da catedral de Paris. Com efeito, foi em Notre Dame que o rei Filipe IV, dito o Belo, presidiu os primeiros Estados-Gerais em abril de 1302.

Com que objetivo? — Obter apoio para a sua política religiosa. O rei inaugurara um novo estilo absoluto de governo, cercando-se de legistas.

Eliminou costumes e privilégios locais da antiga sociedade feudal e criou novos impostos, provocando descontentamento geral.

Extinguiu a isenção da Igreja de pagar tributos e por fim mandou prender D. Bernardo Saisset, bispo de Pamiers, que representava o baluarte da ortodoxia católica na luta contra a heresia cátara ou albigense na sua diocese ao sul de Toulouse.

Esses fatos levaram o Papa Bonifácio VIII a enviar ao rei, em 1301, a bula Ausculta, fili (Ouça, meu filho), em defesa da autoridade papal, e a pedir um tribunal especial para julgar o bispo de Pamiers.

No ano seguinte, o Pontífice escreveu a bula Unam sanctam, demonstrando a supremacia do poder espiritual sobre o poder temporal.

Enviados do rei Filipe o Belo
esbofeteam o Papa Bonifácio VIII em Anagni
Em 1303, dois enviados do rei — Guilherme Nogaret e Sciarra Colonna – partiram ao encalço de Bonifácio VIII, retirado em Anagni (pois Roma encontrava-se em poder dos Colonna).

O Pontífice foi por eles insultado, acusado de heresia, humilhado e esbofeteado, vindo a falecer de desgosto poucos dias depois.

Esse episódio, conhecido como o Atentado de Anagni, constitui um marco na História.

É o começo do fim da Cristandade medieval e o anúncio da primeira Revolução, inaugurando a era do absolutismo real, do humanismo e do renascimento do paganismo.

Mais tarde o protestantismo veio selar essa revolução no campo doutrinário e especificamente religioso.

Ao ver a obra demolidora de seu neto, o grande São Luís deve ter-se movido de indignação em seu túmulo!

Mas Filipe o Belo foi mais longe: mandou prender os cavaleiros Templários e confiscou seus bens (a Ordem possuía muitas propriedades na França).

Há algum tempo já circulavam contra esses religiosos as lendas mais abjetas. “Menti, menti. Algo sempre ficará”, dirá mais tarde o ímpio Voltaire.

Depois de um processo iníquo a Ordem foi dissolvida, e no dia 18 de março de 1314, em frente de Notre-Dame de Paris, seu grão-mestre Jacques de Molay e outros cavaleiros foram queimados vivos.

Em novembro do mesmo ano Filipe o Belo, o rei maldito, teve de prestar contas de seus atos a Deus.

Martírio e reabilitação de Santa Joana d’Arc

Santa Joana d'Arc comanda a vitória de Patay
Santa Joana d'Arc comanda a vitória de Patay
Em dezembro de 1431, Henrique IV da Inglaterra foi sagrado rei da França em Notre-Dame, na presença de D. Pierre Cauchon, bispo de Beauvais e depois de Lisieux.

Aliado dos ingleses, este bispo fora o carrasco de Santa Joana d’Arc no julgamento iníquo que a condenou a ser queimada viva como feiticeira na praça do mercado de Rouen.

A coroação de Henrique IV era uma impostura, pois o rei legítimo, Carlos VII, já fora sagrado em Reims.

Em 1437, Carlos VII recuperou o trono e em 1455 abriu-se em Notre-Dame o processo de reabilitação de Joana d’Arc, beatificada por São Pio X em 1909 e canonizada por Bento XV em 1920.

(Autor: Gabriel J. Wilson)+
continua no próximo post



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