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terça-feira, 21 de maio de 2013

Nomes, símbolos, carrilhões e significado dos novos sinos de Notre Dame

Bourdon Maria é o maior do novo conjunto
continuação do post anterior

Símbolos gravados em cada sino

Os novos sinos são:

O bourdon “Marie” (6.023 kg; 206,5 cm de diâmetro), consagrado a Nossa Senhora, a quem está dedicada a catedral. Ele é reprodução de idêntico bourdon que tocou de 1378 a 1792, ano do infame saque republicano. Nele estão gravados a “Ave Maria” e um medalhão de Nossa Senhora com o Menino Jesus rodeado de estrelas; tem friso representando a Adoração dos Reis Magos e as bodas de Caná, e por fim uma Cruz de Glória com a inscrição “Via viatores quaerit” (“Eu sou a Via em busca de viajantes”, referência a Jesus Cristo que é a Via, e que procura as almas que viajam por esta vida rumo ao destino eterno).

O sino “Gabriel” (4.162 kg e 182,8 cm de diâmetro) é dedicado ao arcanjo São Gabriel que anunciou a Nossa Senhora a encarnação do Verbo.

Neste sino está inscrita a primeira frase do Angelus “O anjo do Senhor anunciou a Maria” —, além de 40 faixas que simbolizam os 40 dias que Jesus passou no deserto e os 40 anos de travessia dos judeus pelo deserto do Sinai; na coroa do sino há flores de lis e, rodeados de estrelas, Nossa Senhora e o Menino Jesus. No corpo do sino há também uma Cruz de Glória com a inscrição “Via viatores quaerit” e um perfil da catedral no coração de Paris.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Notre Dame restaura sinos destruídos pela Revolução Francesa – 1

No dia da bênção dos novos sinos
No dia da bênção dos novos sinos

Uma multidão estimada em 30 mil pessoas pela polícia (que habitualmente minimaliza as manifestações católicas) lotou no Domingo de Páscoa a praça da catedral de Notre Dame e as ruas vizinhas, para ouvir a primeira reboada oficial dos novos sinos.

Nessa mesma data, 850 anos atrás, na presença do Papa Alexandre III, o bispo D. Maurício de Sully colocava a primeira pedra para a construção daquela grandiosa catedral dedicada a Nossa Senhora.

Os sinos originais foram destruídos barbaramente pela Revolução Francesa em 1792, com exceção de um, batizado com o nome “Emanuel”.

Por ocasião de sua bênção ritual os sinos recebem nomes que são gravados no seu bronze. O “Emanuel” foi doado há mais de 300 anos pelo rei Luis XIV e pesa 13 toneladas.

No século XIX, Napoleão III mandou preencher o vazio com sinos de menor qualidade e carentes de afinação. Os especialistas, sempre muito exigentes, diziam que se tratava do pior conjunto de sinos da Europa.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Notre Dame providencialmente salva pelo tufão da Revolução Francesa!


Quando aparece a Catedral de Notre Dame, aparece uma coisa que deixa todas as outras coisas de lado, mesmo São Marcos.

Na praça completamente vazia, Notre Dame aparece intensamente iluminada .

A pedra com que foi construída a Catedral, foi objeto há alguns anos atrás de uma limpeza.

Dessa restauração emergiu a pedra virgem. A catedral se mostra como os construtores a fizeram, com sua originária limpeza.

As três portas do primeiro pavimento têm lindíssimas ogivas, profundas, indicando bem a espessura das paredes da Catedral.

Em cada portal, há várias linhas com episódios da História Sagrada esculpidos de um lado e de outro.

Em cima há uma fileira formando a galeria dos antepassados de Nosso Senhor Jesus Cristo, rei de Judá, e que é interpretada como sendo dos Reis da França.

A Revolução Francesa, sempre igual a si mesma, e incomparável em infâmia, exceto a traição de Judas; não contente em decapitar Luis XVI, mandou uns bárbaros subirem até essas cabeças e degolá-las todas.

quarta-feira, 6 de março de 2013

A catedral de SIENA: formosura e praticidade


A Catedral de Siena é uma catedral lindíssima construída na técnica da basílica de Orvieto.

Não foto pode-se ver o aspecto global da fachada.

Notem aquele lindo mosaico em cima, nos tímpanos das portas os belos mosaicos.

Depois outras esculturas, e a torre, listrada de mármore branco de acordo com o estilo existente em Florença e em outras cidades da Toscana.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Mosteiro cisterciense do século XII renasce na Califórnia

Abadia de New Clairvaux, Califórnia
Abadia de New Clairvaux, Califórnia
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




No norte da Califórnia renasceu um mosteiro medieval cisterciense.

A notícia caiu como um raio em céu sereno, pois nunca se diria que o progressista estado californiano acolheria um dos símbolos mais opostos à modernidade.

Além do mais, trata-se de um autêntico mosteiro medieval espanhol do século XII.

Como?

O magnata William Randolph Hearst havia comprado e levado para a Califórnia no início do século XX as ruínas do mosteiro de Santa Maria de Óvila, da Espanha, desmontou-o, mas não conseguiu restaurá-lo.

A cidade de San Francisco se opôs e as pedras ficaram por décadas no Golden Gate Park. Veio depois a Grande Depressão, a Segunda Guerra Mundial e pareceu que o projeto estava totalmente morto, segundo o “The New York Times”.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A Igreja de Combray

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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[Em suas recordações de infância, Proust descreve a igreja de Saint Hilaire, em Combray, cidade na qual sua família costumava passar férias.]



Combray, de longe, a dez léguas em volta, vista da estrada de ferro quando lá chegávamos na última semana antes da Páscoa, não era senão uma igreja resumindo a cidade, representando-a, falando dela e por ela aos distantes.

E, de perto, mantendo apertados em torno de sua alta manta sombria, em pleno campo, como uma pastora protegendo do vento suas ovelhas, os dorsos lanudos e acinzentados das casas ajuntadas, que um resto de muralhas da Idade Média cercava aqui e acolá com um traço tão perfeitamente circular quanto uma cidadezinha num quadro de pintor medieval.

Como eu a amava, como eu me recordo bem de nossa igreja.

Seu velho pórtico pelo qual entrávamos, negro, esburacado como uma escumadeira, era irregular e profundamente gasto nos ângulos (da mesma maneira que a pia de água benta à qual ele nos conduzia) como se o doce roçar das mantas das camponesas entrando na igreja e de seus dedos tímidos tomando água benta pudesse, repetido durante séculos, adquirir uma força destrutiva, infletir a pedra e entalhar sulcos como traça a roda das carroças no marco contra o qual ela se choca todo dia.

Suas lápides mortuárias, sob as quais a nobre cinza dos vigários de Combray, lá enterrados, dava ao coro um como que chão espiritual, elas mesmas não eram mais de matéria inerte e dura, porque o tempo as havia tornado doces e feito escorrer como mel para fora dos limites de seu próprio alinhamento que aqui elas ultrapassavam por uma onda dourada, levando à deriva uma maiúscula gótica florida, afogando as violetas brancas do mármore; do lado de cá das quais, aliás, elas se tinham desfeito, contraindo ainda a elíptica inscrição latina, introduzindo um capricho a mais na disposição desses caracteres abreviados, aproximando duas letras de uma palavra da qual as outras haviam sido exageradamente afastadas.

Seus vitrais nunca reluziam tanto quanto nos dias em que o sol se mostrava pouco, de sorte que fizesse (tempo) cinza fora, estava-se seguro que seria bonito na igreja.

Um vitral era preenchido em toda sua grandeza por um só personagem semelhante a um rei de jogo de cartas, que vivia lá em cima, sob um dossel arquitetural, entre o céu e a terra.

Noutro, uma montanha de neve rósea, ao pé da qual se desenrolava um combate, parecia ter orvalhado a vidraçaria com turvos granizos, como um vidro no qual tivessem restado flocos iluminados por alguma aurora (pela mesma sem dúvida que cobria de púrpura o retábulo do altar de tons tão frescos que mais pareciam colocados ali momentaneamente por um luar vindo de fora prestes a se evanescer do que por cores aderida para sempre à pedra).

E todos eram tão antigos que se via aqui e ali sua velhice prateada faiscar da poeira dos séculos e mostrar brilhante e gasto até à corda o enredo de sua doce tapeçaria de vidro.

Havia um que era um alto compartimento dividido em uma centena de pequenos vitrais retangulares onde dominava o azul, como um grande jogo de cartas semelhante àqueles que deviam distrair o rei Carlos VI; mas, fosse um raio de sol que tivesse brilhado, fosse meu olhar que movendo-se tivesse passeado pelo vitral ora extinto ora aceso um fugaz e precioso incêndio, um instante depois ele tinha tomado o brilho cambiante de uma cauda de pavão, depois tremia e ondulava em uma chuva chamejante e fantástica que escorria do alto da ogiva sombria e rochosa, ao longo das paredes úmidas, como se eu seguisse meus pais, que levavam o seu missal, pela nave de alguma gruta irisada por sinuosas estalactites.

Um instante depois os pequenos vitrais em losango tinham tomado a infrangível rigidez de safiras que tivessem sido justapostas sobre algum imenso peitoral, mas atrás das quais se sentia, mais apreciável que todas estas riquezas, um sorriso momentâneo do sol.

Ele era também reconhecível tanto no jorro azul e doce com o qual banhava as pedras quanto sobre o calçamento da praça ou sobre a palha de chão do mercado.

E, mesmo em nossos primeiros domingos, quando chegávamos antes da Páscoa (durante o inverno), consolava-me que a terra estivesse ainda nua e negra, fazendo desabrochar, como numa primavera histórica e que datava dos sucessores de São Luis, esse tapete resplandecente e dourado de miosótis de vidro.

Duas tapeçarias, de tessitura vertical, representavam o coroamento de Ester, cujas cores, fundindo-se, lhes haviam acrescentado uma expressão, um relevo, uma iluminação: um pouco de rosa flutuava nos lábios de Ester para além do desenho de seu contorno, o amarelo de seu vestido se afirmava tão suntuosamente, tão abundantemente, que tomava uma espécie de consistência e sobressaia sobre a atmosfera intimidade; e o verdejante das árvores permanecendo vivo nas partes baixas do panejamento de seda e de lã, mas tendo ‘passado’ (desbotado) no alto, fazia destacarem-se, mais palidamente, acima dos troncos escuros, os elevados galhos amarelados, dourados e como que meio apagados pela brusca e obliqua iluminação de um sol invisível.

Tudo isso, e mais ainda os objetos preciosos vindos à igreja de personagens que eram para mim quase personagens de legenda (a cruz de ouro lavrada, dizia-se, por Santo Elói e doada por Dagoberto; o túmulo de porfírio e de cobre esmaltado dos filhos de Luis, o Germânico), em razão do que eu avançava na igreja, quando nos dirigíamos aos bancos, como num vale visitado por fadas, onde o camponês se maravilha de ver num rochedo, numa árvore, numa poça, o vestígio palpável de sua passagem sobrenatural.

Tudo isso fazia dela para mim alguma coisa de inteiramente diferente do resto de cidade: um edifício ocupando, se se pode dizer, um espaço em quatro dimensões ‒ a quarta sendo a do Tempo ‒ fazendo progredir através dos séculos sua nave que, de viga em viga, de capela em capela, parecia vencer e singrar, não apenas alguns metros, mas as épocas sucessivas das quais ela saía vitoriosa.

* * *

Reconhecíamos o campanário de Saint Hílaire de bem longe, inscrevendo sua figura inesquecível no horizonte no qual Combray não aparecia ainda.

Num dos mais longos passeios que fazíamos saindo de Combray, havia um lugar onde a estrada apertada desembocava de repente sobre um imenso ‘plateau’ limitado ao horizonte por florestas recortadas que somente a fina ponta do campanário de Saint Hilaire ultrapassava, mas tão esguia, tão rósea, que parecia apenas riscada no céu por uma unha que tivesse querido dar a essa paisagem, esse quadro só de natureza, essa pequena marca de arte, essa única indicação humana.

Quando nos aproximávamos e podíamos perceber o resto da torre quadrada e semi-destruída que, menos alta, subsistia ao lado dele, ficávamos surpreendidos sobretudo pelo tom avermelhado e sombrio das pedras; e em uma manhã brumosa de outono, dir-se-ia, elevando-se por cima do violeta tempestuoso das parreiras, uma ruiva de púrpura quase da cor de vinha virgem.

Com freqüência, sobre a praça, quando voltávamos, minha avó me fazia parar para observá-lo.

Das janelas de sua torre, situadas duas a duas, umas em cima das outras, com essa justa e original proporção nas distâncias que não pertence senão à beleza e à dignidade dos rostos humanos, ele soltava, deixava cair a intervalos regulares revoadas de corvos que durante um momento giravam grasnando, como se as velhas pedras que os deixavam divertir-se sem os parecer ver, tornadas de repente inabitáveis e libertando um princípio de agitação infinita, os tivesse batido e enxotado.


Então, depois de ter rajado em todos os sentidos o veludo violeta do ar da tarde, bruscamente acalmados, eles tornavam a se absorver na torre, de nefasta voltada a ser novamente propícia, alguns pousados aqui e ali, não pareciam mexer-se, mas abocanhando quiçá algum inseto, sobre a campânula de um sinozinho, como uma gaivota parada com a imobilidade de um pescador à crista de uma onda.

Sem muito saber bem por que, minha avó encontrava no campanário de Saint Hílaire essa ausência de vulgaridade, de pretensão, de mesquinharia, que a fazia amar e crer ricas de uma influência benfazeja, a natureza, quando a mão do homem não a havia apequenado, e as obras de gênio.

E sem duvida, toda a arte da igreja que se percebia a distinguia de outro edifício por uma espécie de pensamento que lhe era infuso, mas era em seu campanário que ela parecia tomar consciência de si mesma, afirmar uma existência individual e responsável. Era ele que falava por ela.

Creio que, confusamente, sobretudo o que minha avó encontrava no campanário de Combray era aquilo pelo que ela tinha maior apreço no mundo, o ar natural e o ar distinto (l’air naturel et l’air distingué).

Ignorante em arquitetura, ela dizia: “Meus filhos, riam de mim se quiserem, ele não é talvez belo segundo as regras, mas sua velha face bizarra me agrada.

“Estou certa que se ele tocasse piano, ele não tocaria ‘sec’”.

E olhando-o, seguindo com os olhos a doce tendência, a inclinação fervorosa de suas faixas de pedra que se aproximavam elevando-se como mãos juntas que rezam, ela unia-se tão bem à efusão da flecha, que seu olhar parecia lançar-se com ela; e ao mesmo tempo sorria amigavelmente às velhas pedras gastas das quais o poente não clareava senão o cimo, e que, a partir do momento em que entravam nessa zona ensolarada, suavizadas pela luz, pareciam repentinamente elevadas bem mais alto, longínquas, como um canto retomado ‘em voix de tête’ uma oitava acima.










(Autor : Marcel Proust, « À la recherche du temps perdu - Du coté de chez Swann », Librairie Gallimand, 1947, T. I, pp. 40 ; 47 a 51)





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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Notre-Dame de Paris: colorida na Era da Luz

Galeria dos Reis, restaurada em Notre Dame de Paris
Galeria dos Reis, restaurada em Notre Dame de Paris

Na Idade Média, a catedral Notre-Dame de Paris estava também toda pintada como a sua homônima de Amiens.

Em 1977, no subsolo do hôtel Moreau (20 de la rue de la Chaussée-d'Antin, Paris), foram encontradas as cabeças dos reis que ficavam na Galeria dos Reis, na fachada de Notre-Dame.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

No Natal, em Notre Dame, Nossa Senhora converte o filho perdido

A conversão do famoso diplomata, dramaturgo e poeta Paul Claudel (Villeneuve-sur-Fère, 1868 — Paris, 1955) membro da Academia Francesa de Letras, contada por ele próprio:

“Nasci em 6 de agosto de 1868. Minha conversão ocorreu em 25 de dezembro de 1886. Eu tinha, portanto, dezoito anos. Mas o desenvolvimento de meu caráter, nesse momento, já estava muito avançado.

“Fui educado, ou melhor, instruído, primeiramente, por um professor livre, em colégios (leigos) de província, e por fim no Liceu Louis-le-Grand.

“Desde meu ingresso nesse estabelecimento, tinha perdido a fé, que me parecia irreconciliável com a pluralidade dos mundos.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

São Germano de Auxerre: humilde bispo que lutou contra os pagãos e aterrorizou os demônios

A catedral de Milão é dedicada a Santa Tecla. Nela aconteceram fatos memoráveis.

Como, por exemplo, Santo Ambrósio, bispo de Milão, que tinha uma força de pregação extraordinária e que recebeu na entrada da catedral a um imperador romano que quis entrar nela sem direito.

Ele rachou o imperador com um discurso.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Tour virtual pelo Mosteiro dos Jerônimos, Lisboa, Portugal

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pelo Mosteiro dos Jerônimos
Lisboa, Portugal

sexta-feira, 29 de abril de 2011

quarta-feira, 27 de abril de 2011

terça-feira, 26 de abril de 2011

quarta-feira, 30 de março de 2011

Catedral de NOTRE DAME e os mais belos aspectos da alma católica


Na catedral de Notre Dame em Paris, bela em cada um de seus pormenores, consideremos inicialmente as três portas do primeiro pavimento, encimadas por lindíssimas ogivas.

Em cada portal aparecem vários episódios da História Sagrada, esculpidos de um e outro lado da ogiva.

Acima das portas ogivais, uma fileira de estátuas de reis da França. Não satisfeita em decapitar Luís XVI, a Revolução Francesa — cuja infâmia supera qualquer outro acontecimento histórico, exceto a traição de Judas — incitou alguns vândalos a subirem até essas esculturas e degolá-las.

Veja vídeo
Vídeo: catedral de Paris
Assim, os corpos dos reis permaneceram sem cabeça durante muito tempo. Após a Revolução foram colocadas outras cabeças, infelizmente de inferior qualidade.

Imaginemos que não existisse a parte superior do edifício, mas apenas o andar térreo coroado por essa espécie de balaústre acima das estátuas dos reis. Mesmo despojada dessa forma, ela seria uma edificação linda.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Como um medieval via a liturgia da Missa

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Os capítulos que Guilherme Durand (séc. XIII) consagrou à explicação da Missa então entre os mais surpreendentes de sua obra: “Rational”.

Eis aqui, por exemplo, como ele interpreta a primeira parte do Divino Sacrifício.

“O canto grave e triste do Introito abre a cerimônia: ele exprime a espera dos Patriarcas e dos Profetas. O coro dos clérigos representa o côro dos Santos da Antiga Lei, que suspiram antes da vinda do Messias, que eles, entretanto não verão”.

“O bispo entra, então, e ele aparece como a figura viva de Jesus Cristo. Sua chegada simboliza o aparecimento do Salvador, esperado das nações”.

“Nas grandes festas leva-se diante dele sete tochas, para lembrar que, segundo a palavra do Profeta, os sete dons do Espírito Santo repousam sobre a cabeça do Filho de Deus. Ele se adianta sob um pálio triunfal, do qual os quatro carregadores são comparados aos quatro Evangelistas.

“Dois acólitos caminham à sua direita e à sua esquerda, e representam. Moisés e Elias, que se mostraram no Thabor dos dois lados de Nosso Senhor. Eles nos ensinam que Jesus tinha por Si a autoridade da Lei e a autoridade dos Profetas”.

“O bispo senta-se em seu trono e permanece silencio. Ele parece não desempenhar nenhum papel na primeira parte da cerimônia. Sua atitude contém um ensinamento: ela nos recorda pelo seu silêncio, que os primeiros anos da vida de Nosso Senhor se desenrolaram na obscuridade e no recolhimento”.

“O Sub-Diácono, entretanto, dirige-se para a cátera, e, voltado para a direita, lê a Epístola em alta voz. Entrevemos aqui o primeiro ato do drama da Redenção.

“A leitura da Epístola, é a pregação de São João Batista no deserto. Ele fala antes que o Salvador tenha começado a fazer ouvir Sua voz, mas ele não fala senão aos judeus.

“Também o Sub-Diácono, imagem do Precursor, se volta para o norte, que é o lado da Antiga Lei. Quando a leitura termina, ele se inclina diante do bispo, como o Precursor se humilhou diante de Nosso Senhor”.

“O canto do Gradual, que segue a leitura da Epístola, se reporta ainda à missão de São João Batista: ele simboliza as exortações à penitência que ele fez aos judeus, à espera dos tempos novos”.

“Enfim, o Celebrante lê o Evangelho. Momento solene, porque é aqui que começa a vida pública do Messias, Sua palavra se faz ouvir pela primeira vez no mundo. A leitura do Evangelho é a figura de Sua pregação".

“O Credo segue o Evangelho, como a fé segue o anúncio da verdade. Os doze artigos do Credo se reportam à vocação dos doze Apóstolos”.

“Quando o Credo termina, o bispo se levanta e fala ao povo. Escolhendo esse momento para instruir os fiéis, a Igreja quis lhes recordar o milagre de Sua expansão.

“Ela lhes mostra como a verdade, recebida antes somente pelos doze Apóstolos, se espalhou em um instante, no mundo inteiro”.

Tal é o senso místico que Guilherme Durand atribuiu à primeira parte da Missa.

Depois dessa espécie de preâmbulo, ele chega à Paixão e ao Sacrifício da Cruz. Mas aqui, seus comentários tornam-se tão abundantes e seu simbolismo tão rico, que é impossível, por uma simples análise, dar uma idéia. É necessário que se vá ao original.

Nós dissemos bastante, entretanto, para deixar entrever alguma coisa do gênio da Idade Média.

Pode-se imaginar tudo que uma cerimônia religiosa continha de ensinamentos, de emoção e de vida para os cristãos século XIII.

Um uso tão constante do simbolismo pode deixar estupefato alguém que não esteja familiarizado com a Idade Média.

É preciso porém não fazer como fizeram os beneditinos do século XVIII, não ver ali senão um simples jogo de fantasia individual.

Sem dúvida, tais interpretações não foram nunca aceitas como dogmas. Não obstante, é notável que elas quase nunca variam. Por exemplo, Guilherme Durand, no século XIII, atribui a estola o mesmo significado que Amalarius no século IX.

Mas o que é mais interessante aqui, mais do que a explicação tomada em si, é o estado de espírito que ela supunha. E o desdém pelo concreto; é a convicção profunda de que, através de todas as coisas desse mundo se pode chegar ao espiritual, pode-se entrever Deus. Eis aqui o verdadeiro gênio da Idade Média.

(Autor: Emile Mâle, “L'Art Religieux du XIII Siècle en France”, Librairie Armand Colin, 1958, pag. 51)

quarta-feira, 9 de março de 2011

A decadência de Cluny e o ocaso da Cristandade medieval (7)


A cristandade alargava-se, as cidades eram novamente palco de transformações sociais. Nascimento da burguesia, novo impulso comercial.

Esse arranque teve início por volta do ano mil. Para as mentes de então, estava associado à busca religiosa. O próprio Raul Glaber, cluniacense, é sempre bom recordar, fala de uma paz divina após o flagelo da fome, como se Deus renovasse seu pacto com a humanidade. Sinta a fluência literária de um historiador cluniacense:

quarta-feira, 2 de março de 2011

São Bernardo: reação para segurar a queda de Cluny (6)


De qualquer modo, a independência, todo esse luxo e opulência e especialmente a velocidade com que Cluny passou de uma economia baseada na exploração direta de um vasto domínio (910-1080) para uma economia monetária (1080-1125) (DUBY, 1990: 123) despertou a ira de muitos setores eclesiásticos. Invejas.

Com a morte do abade Hugo de Sémur (1109), a eleição de Pons (que se demitiu) e Hugo II (que governou apenas alguns meses), a ordem entrou em crise. Crise de valores: foi acusada de corrompimento. Luxo, opulência, fausto. Degeneração. Sua expansão e enriquecimento provocara ciúmes. Mas também decadência moral.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Cluny, como viviam os monges da Jerusalém celeste encarnada (5)


O monetário oriundo das doações que afluiu para Cluny foi também direcionado pelo abade para os mais pobres. Como afirmei no início desse texto e volto a insistir, a economia monástica não visava o lucro, estava voltada para a comunidade ‒ num sentido mais amplo, para o corpo cristão.

Reitero: nem o abade, nem os monges, nem seu tempo tinham a mentalidade capitalista. É inútil vê-los com esse olhar moderno. Não era esse o foco.

Há de se fazer um esforço de compreensão, é necessário. Historiador, liberte-se de suas amarras materiais, sinta o ambiente e as prioridades de então. Coloque-se no lugar, pense na Idade Média, não a Idade Média (LIBERA, 1999: 68).

Perde-se perspectiva, claro, mas ganha-se compreensão, amplia-se o horizonte do entendimento histórico.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Cluny, monges-guerreiros e “anjos do Apocalipse” na Jerusalém celeste encarnada (4)



Dos sonhos aos mortos

Eles conquistaram as graças do povo. Um fato crucial para essa devoção popular foi a criação da liturgia dos mortos. Dia dos finados. Assumiam assim as funções eucarísticas.

Um “mistério magnífico” que trouxe grandes benefícios às almas dos fiéis defuntos. Os monges de Cluny eram guerreiros de luz que combatiam as trevas. Ao cantarem ininterruptamente, resgatavam as almas penadas, os perdidos, os errantes que estavam condenados ao abismo infernal.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Cluny: o “fasto” e a “hierarquia angélica” na Jerusalém celeste encarnada (3)


A expansão cluniacense

Até 926 Bernon aclimatou os irmãos no espaço, na pequena capela existente. Preparou-os para sua missão. Edificou a primeira igreja (Cluny I). Não se sabe nada nem da capela (Cluny A) nem da igreja (IOGNA-PRAT, 1998: 107).

Nesse mesmo ano de 926 Bernon legou Cluny a seu discípulo Eudes (927-942), já citado. Durante seu abaciado, Cluny recebeu um importante privilégio: o papa João XI (931-936) outorgou-lhe em 931 um direito de reforma: a partir de então, qualquer mosteiro que solicitasse ao abade cluniacense uma reforma monástica seria incorporado à casa mãe. O mesmo se daria com qualquer monge que desejasse ser acolhido (IOGNA-PRAT, 1998: 101).

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Cluny: o “exército do Senhor” na Jerusalém celeste encarnada (2)


Fundação de Cluny: a doação de Guilherme, duque da Aquitânia

O mais importante centro da reforma monástica foi Cluny.

Raul Glaber (†1044), o melhor historiador do ano mil, também ele cluniacense, nos conta que a abadia de Cluny era um asilo de sabedoria, pois fez renascer a Regra de São Bento ‒ embora com uma ênfase diferente, como veremos mais adiante.

A raça cluniacense tornou-se, segundo suas palavras, “um exército do Senhor que se espalhou rapidamente numa grande parte da terra” (citado em DUBY, 1986: 188).

Um modelo de perfeição, um modo de vida totalmente harmonizado com os desígnios do Criador, Cluny foi um dos maiores projetos monásticos de todos os tempos. Desde sua fundação em 932, a abadia não parou de crescer. Doado em 910 (ou 909) por Guilherme, mais tarde chamado de o Piedoso, duque da Aquitânia e conde de Mâcon, o domínio (villa) encontrava-se ao sul da Borgonha, no Saône e Loire, próximo do Ródano (MARTÍNEZ, 1997: 192).

Havia uma capela no local (chamada de Cluny A) - as escavações arqueológicas dataram-na entre os séculos VI e VIII (IOGNA-PRAT, 1998: 107).

Chegaram seis monges, liderados por Bernon (910-924), abade de Baume e Gigny, que se propôs construir um pequeno santuário (chamado pelos especialistas de Cluny I), com 35 metros de comprimento (HEITZ, s/d: 132).