Altar do voto de Luís XIII |
Os limites deste artigo nos levam a saltar para o reinado de Luís XIII, no século XVII. O soberano, casado com a princesa espanhola Ana d’Áustria, aproximava-se da maturidade sem filhos, com graves problemas de saúde e uma guerra difícil contra os calvinistas, entrincheirados em La Rochelle.
O rei recorreu então à Santíssima Virgem: fez-lhe o voto de construir uma igreja, se fosse atendido. Em 1628, depois de 13 meses de cerco, os calvinistas renderam-se.
Em agradecimento, o soberano fundou a igreja de Nossa Senhora das Vitórias, em Paris. Em 1630, ele se viu curado de uma grave disenteria. Mas nenhum sinal de um herdeiro!
Ao longo de uma década, o voto de Luís XIII sofreu alterações em sua formulação, sendo finalmente apresentado ao Parlamento em 1637. Ele instituía uma celebração anual em todas as igrejas do reino, a 15 de agosto, com procissão solene em honra da Assunção da Virgem.
No mesmo ano, um religioso agostiniano teve uma visão da Mãe de Deus segurando em seus braços o herdeiro do trono que, disse Ela, Deus queria dar à França.
Nossa Senhora de Paris, imagem principal no centro da catedral |
Efetivamente, no ano seguinte, depois de 22 anos de casamento, Ana d’Áustria deu à luz Louis Dieudonné (Luís dado por Deus), que viria a ser o Rei- Sol. Em 1643 falecia Luís XIII.
Uma parte importante de seu voto fora cumprida. Luís XIV terminaria de cumpri-la por seu pai in extremis, no fim de seu reinado.
Para marcar sua consagração a Nossa Senhora Luís XIII prometera “construir de novo o altar-mor da catedral de Paris, com uma imagem da Virgem tendo em seus braços seu precioso Filho descido da Cruz; nós (o próprio rei) seremos representados aos pés de ambos, oferecendo-lhes nossa coroa e nosso cetro”.
A cena foi esculpida em 1715 no mais puro estilo do Grand Siècle por Guilherme Couston, em contraste com a austera sacralidade gótica da catedral. Foi preciso, ademais, refazer todo o claustro do coro.
Mas ninguém nega tratar-se de uma grande obra. Além da Pietà e da expressiva escultura de Luís XIII, figura também na cena o próprio Luís XIV.
Em Notre-Dame foram sepultados os dois maiores gênios militares do século de Luís XIV: Turenne e o Grand Condé.
Como Luís II de Bourbon-Condé era primo de Luís XIV, quis o rei oferecer-lhe “a mais bela, a mais magnífica e a mais triunfante pompa fúnebre jamais realizada”, conforme os superlativos de Madame de Sevigné.
Para pronunciar seu elogio fúnebre na catedral, diante do Rei-Sol, subiu ao púlpito o mais célebre dos oradores: o borguinhão Jacques Bénigne Bossuet, bispo de Meaux.
Não era sem razão que o príncipe de Condé morria coberto de glória: ele era o mais brilhante dos improvisadores numa batalha, surpreendendo o inimigo pelo seu ímpeto e pela sua audácia.
O que supõe um golpe de vista preciso e um discernimento notável nas batalhas. Assim foi ao atirar seu bastão de comando no meio de um quadrado de “tercios espanhóis”, desafiando seus homens a recuperá-lo… O recalcitrante pelotão ibérico foi destroçado!
Ao marechal Henri de La Tour d’Auvergne, visconde de Turenne, nobre protestante convertido ao catolicismo, atribui-se, ao contrário, um estilo militar em que prevalece a estratégia, o método, o planejamento, a análise do terreno e o cuidado na execução. Tudo isso conduzia quase implacavelmente suas tropas à vitória.
A perfeição da arte de guerrear talvez esteja numa sábia combinação desses dois estilos.
continua no próximo post
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