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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

A busca da perfeição em Notre Dame de Paris

O arcebispo, o abade e o rei começaram a sonhar a futura catedral
Continuação do post anterior

É o momento de nos ocuparmos da história da construção da catedral de Nossa Senhora (Notre-Dame) de Paris.

A Paris de 1160 devia ter pouco mais de 20 mil habitantes quando Maurício de Sully, com o favorecimento do rei Luís VII, foi escolhido para ocupar sua Sé episcopal.

O rei fora educado na infância pelo Abade Suger, o qual, como vimos, concluiu com sucesso a primeira basílica em estilo ogival.


D. Maurício apresentou ao rei, naquele mesmo ano, seu projeto de construir em estilo gótico uma nova catedral em honra da Santíssima Virgem (o padroeiro da Sé anterior era Santo Estêvão).

O povo da cidade tomou-se de entusiasmo pela ideia. Obtida a ampliação do terreno em volta da antiga igreja carolíngia, os trabalhos começaram em 1163.






A pedra fundamental foi colocada pelo Papa Alexandre III, ocasionalmente refugiado na França para escapar à ira do imperador germânico Frederico Barba Roxa, que teve a ousadia de fazer eleger um antipapa e por isso foi excomungado.

Em 1182, estavam concluídos o coro e seus dois deambulatórios. Paris crescera, tendo então mais de 50 mil habitantes.

A catedral, incompleta, foi consagrada pelo legado papal, com a presença do rei Filipe Augusto. Mas faltava ainda muito para concluir a obra.

Em 1196 faleceu Maurício de Sully, sendo sucedido na Sé episcopal no ano seguinte por Odon de Sully.

Apesar do mesmo nome de família, este último, de sangue nobre, não tinha nenhum parentesco com D. Maurício, que era de origem modesta. D. Odon continuou os trabalhos com afinco.

Seguiu-se a construção da nave, da fachada e dos campanários. O campanário sul foi terminado em 1240, decidindo-se então que as torres não seriam mais encimadas pelas flechas que figuravam no projeto inicial.

Em muitas ocasiões faltou dinheiro e foi preciso recorrer ao rei, aos nobres, aos burgueses e à população em geral.

Finalmente ficou pronta a torre norte, em 1250. A catedral estava então em condições de ser aberta ao culto, embora faltassem muitos detalhes, aperfeiçoamentos e correções, por vezes de importância.

Mas a obra já aparecia em todo o seu vulto, como fruto e símbolo de uma nova era.

Rex regum et Dominus dominantium

D. Simon Matifas de Bucy, bispo de Paris
Nessa ocasião reinava em França Luís IX, o rei santo. Em 10 de agosto de 1239, junto com seu irmão o conde Roberto de Artois e sua mãe Branca de Castela, ele foi receber a Coroa de Espinhos de Nosso Senhor Jesus Cristo em Villeneuve-l’Archevêque, antigo burgo perto de Sens.

A sagrada relíquia, símbolo da derrisão com que os homens coroaram o Divino Mestre, foi conduzida em cortejo a Paris, venerada solenemente pelo caminho nas catedrais e abadias.

Em Paris, as relíquias são recebidas ao som de hinos e cânticos, enquanto ressoam os sinos da catedral e das 17 igrejas capelas circundantes.

Recentemente, em uma bela edição da revista “Le Figaro”hors-série sobre Notre-Dame de Paris,(10) Irina de Chikoff fornece os elementos dessa descrição.

A Coroa de Espinhos fora encontrada juntamente com a Santa Cruz e outras relíquias da Paixão pouco depois do Concílio de Niceia, no século IV, por Santa Helena, mãe do imperador Constantino. Tais relíquias passaram às mãos dos cruzados após a queda de Constantinopla, em 1204.

Mais tarde, cruzado também ele, São Luís empregou todos os recursos para obter as sagradas relíquias, agora por fim em suas mãos.

Para abrigá-las faz edificar a Sainte Chapelle, junto ao seu palácio na Île de la Cité, distante apenas 300 metros da catedral.

Enquanto essa jóia da arquitetura gótica era construída, as relíquias permaneceram em Notre-Dame.

Coroa de Espinhos em Notre Dame
As relíquias da Paixão — a Coroa de Espinhos, três cravos e um fragmento da verdadeira Cruz onde morreu Nosso Senhor — constituem o mais precioso tesouro da catedral.

São expostas à veneração pública todas as primeiras sextas-feiras de cada mês, à tarde, sob a custódia dos Cavaleiros da Ordem Hospitalar de São João de Jerusalém, em cuja capela, atrás do altar-mor, ficam guardadas.

A santidade, o heroísmo e a sabedoria de governo caracterizam o longo reinado de São Luís, que marcou a fundo seu tempo.

Para Germain Bazin, o século de São Luís é o grande século da arte gótica, comparável ao 5º século grego:

“Vê-se então, na Idade Média, o primeiro estabelecimento de um sistema político e social coerente; o dogma religioso e o pensamento filosófico são fixados em obras como a Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino; o verdadeiro centro dogmático e intelectual da Cristandade não é Roma, mas a Universidade de Paris, onde ensina o italiano Santo Tomás”.(11)

E também seu conterrâneo São Boaventura. Esse sistema não é senão o Reinado social de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei dos reis.

(Autor: Gabriel J. Wilson)

continua no próximo post



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3 comentários:

  1. Cara, sabe onde posso encontrar músicas como a do vídeo da construção da catedral? Aquela música é linda demais!!!

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    1. Prezado Helder,
      A música é a "Prose de la Dédicace" e se encontra no CD "Grandes Heures Liturgiques à Notre-Dame" .
      Encontra-se à venda na Internet, por vezes com o nome trocado por "Prose de la Pentecote". Por exemplo no endereço http://www.lastfm.com.br/music/Pierre+Cochereau/Grandes+heures+liturgiques+a+Notre-Dame+de+Paris, é o que aparece com o número 8.
      Atenciosamente,

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