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terça-feira, 27 de julho de 2021

A sacralidade das abadias e mosteiros – O concerto dos campanários 2

Campanário da catedral de Toledo, Espanha
Campanário da catedral de Toledo, Espanha
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Continuação do post anterior: O concerto dos campanários – 1



A sacralidade das abadias e mosteiros


Hoje são cada vez mais raros os mosteiros e as abadias tradicionais com religiosos reclusos que consagram suas vidas à oração, ao estudo e ao trabalho numa Ordem religiosa.

Outrora a sua influência nas respectivas regiões era incalculável. Por que esse abandono, hoje?

O timbre dos sinos de uma abadia em geral é grave, solene, compassado. Sinos há que mais parecem feitos para anunciar a eternidade do que o tempo. “Ora et labora” é o lema dos beneditinos.

Reza e trabalha: na paz, na serenidade, no sofrimento aceito, por vezes na luta contra a tentação, mas sempre obediente à regra que conduz o religioso ao Céu.

As vidas de santos estão cheias de fioretti encantadores a respeito desses heróis da fé que civilizaram o mundo bárbaro e construíram a Europa cristã.

Pois foram sobretudo os beneditinos e também outras Ordens religiosas que secaram os pântanos, fizeram progredir a agricultura e por vezes até certas indústrias.

A invenção do champanhe no século XVII, por exemplo, é atribuída ao monge beneditino Dom Pérignon, da Abadia de Saint-Pierre d'Hautvillers, perto de Epernay, na região de Champanhe.

Numa visita à Abadia de Lérins, situada na ilha de St-Honorat, próximo de Cannes, na Côte d’Azur, ele conheceu o método de vinificação de vinhos espumantes ali criado, e aplicou-o com sucesso em sua terra.

Discretamente dava-se início à história do mais célebre vinho da Terra, com o qual se festejam todas as grandes comemorações.

A influência de uma abadia vai muito além dos limites onde chega o som de seus sinos.

Porque a presença de almas votadas ao sobrenatural lhes confere uma sacralidade que as transforma em símbolos permanentes do destino eterno dos homens.



Simplesmente por existirem, elas são como um farol, uma fortaleza, um refúgio e um estímulo para o comum dos mortais. E o toque do sino é um veículo sensível dessa mensagem que vem do Céu.

Felizes são as abadias que conservaram o tradicional canto chão, o canto gregoriano. Este é uma criação verdadeiramente divina da vida religiosa, de tal modo a sua melodia dá glória a Deus, eleva as almas e as predispõe para a contemplação.

Sinos da abadia de ETTAL, Alemanha:

A solenidade das catedrais

A catedral é a mãe das igrejas ou paróquias. O bispo é o pai dos fiéis. Não são os bispos os continuadores dos Apóstolos?

Campanário da capela dos Penitentes em St Côme d'Olt, França
Campanário da capela dos Penitentes em St Côme d'Olt, França
Por isso é bom e salutar que a catedral seja dotada de maior solenidade, que ela tenha o melhor templo, o melhor coral, o melhor órgão.

Pela mesma razão o carrilhão da catedral em geral é mais rico, a fim de exprimir a força da mensagem apostólica que da Sé deve partir.

Há muitos anos visitei a catedral de Bourges, no centro da França. Seus vitrais são lindíssimos e grande parte deles está à altura da vista do visitante.

Mas o que mais me impressionou foi ver a lista dos bispos daquela arquidiocese nos seus primeiros séculos: eram quase todos “santos de altar”, ou seja, canonizados, num tempo em que não se podiam dispensar as virtudes...

Talvez o leitor se surpreenda, pois hoje a ideia dominante sobre os bispos é voltada para a administração dos bens materiais da diocese, ou para insuflar a luta dos pobres contra os ricos.

Depois do Concílio Vaticano II, pode-se dizer que o bispo deixou de ser “pai” para ser administrador, político, comunicador ou manipulador de massas…

Com certo exagero, tudo, menos o pastor realmente preocupado em salvar as suas ovelhas. Que triste orfandade a destas últimas!

Sinos da igreja de São Sebaldo, em NÜRNBERG, Alemanha :


Como consequência dessa revolução silenciosa, quantas catedrais e igrejas foram depenadas, abandonadas, demolidas, para dar lugar a monstruosidades estéticas consideradas “obras de arte” por uma mentalidade modernista doentia.

Assim ficou rico o conhecido comunista carioca Oscar Niemeyer, arquiteto da sede do Partido Comunista Francês, em Paris, e da catedral de Brasília, entre outras numerosas “obras de arte” bastante discutíveis, para não dizer rejeitáveis.

Por que os modernistas destroem o que é tradicional e constroem o que é “moderno”?

Porque este último é igualitário, estapafúrdio, arbitrário, vulgar… Em suma, em vez de conduzir à ideia de Deus, produz o efeito contrário.

Campanário da capela de Santa Ana, La Baule, França
Campanário da capela de Santa Ana, La Baule, França

O modernismo é a arte do igualitarismo. O igualitarismo é a revolta contra todas as desigualdades, mesmo aquelas que são justas e proporcionadas, contra toda autoridade, toda superioridade, toda quintessência.

Seu lema poderia ser “non serviam”: não servirei, não aceito nenhuma superioridade. 

É o brado de revolta de Satanás contra Deus.

Mais de cinquenta anos de reformas litúrgicas introduzidas na Igreja a partir dos anos 60, e até bem antes, vão nesse sentido.

Qual o resultado? A apostasia em massa no clero e nos fiéis. Cito como exemplo a Ordem dos Jesuítas, que tinha 36.000 sacerdotes antes do Concílio. 

Dez anos mais tarde, nos anos 70, havia caído para 25.000…

Como exemplo de devastação do rebanho, lembro que o Brasil possuía entre 92 e 95% de católicos antes do Concílio.

Hoje, esse número está em cerca de 65%, sem contar que o número de praticantes é ínfimo e superficial. O protestantismo dito evangélico ganhou a maior parte dessa diferença.

Quem são os responsáveis por esse desastre?


Sinos da catedral de LIMBURG an der Lahn, Alemanha:

(Autor: Gabriel J. Wilson, CATOLICISMO, dezembro 2014)



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2 comentários:

  1. Salve Maria!
    Meu Deus, eu fico me perguntando, como pode alguém abandonar o sacro, a arte para eregir monstruosidades como são construídas as igrejas de hoje.
    Aqui em angra dos reis, que faz parte da diocese de Itaguaí, as igrejas de angra são belíssimas, barrocas de esplêndida beleza, em contrapartida a catedral de Itaguaí, é de uma arquitetura inacreditavelmente desprovida de beleza. Basicamente seria um galpão com uma fachada envidraçada.
    Enquanto a humanidade estiver com essa doença da esquizofrenia continuaremos a eregir monstruosidades como se fossem artes.

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  2. Sobre a questão do sacerdócio, peço perdão, mas eles estão pouco se queixando quanto a isso.
    Eu que sinto o amor de Deus me chamando a vocação, sinto-me frustrado em saber que por três anos consecutivos aqui em nossa diocese não há pastoral vocacional. Já há a falta de padres e se nada for feito em pouco tempo o povo estara jogado nas mãos do demônio.
    Se atém as questões seculares e esquecem que Jesus chamou e instruiu os apóstolos para pastorearem os que foram-lhes confiado.

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