Altar-mor do santuário de Compostela |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
continuação do post anterior: Indispensável posição monárquica do presbitério. “Feias como o pecado” ou antecâmaras do Céu? – 5
Michael Rose descreve o ambiente típico de uma igreja americana moderna.
As cadeiras circundam o altar. Não há genuflexórios, e as poltronas convidam a cruzar as pernas, passar o braço por cima do espaldar do vizinho ou pôr os pés no respaldo da frente.
As posturas informais calham bem com a atmosfera criada pela nova arquitetura.
Não há espírito de oração nem reverência. Não há arte sacra.
Há burburinho e bate-papo entre os fiéis. Uns procuram amigos e parentes com o olhar, e trocam “tchauzinhos”.
Não há ponto monárquico. Não raro o altar está baixo demais para ser visível.
O sacerdote, quando senta, desaparece. Se alguém está lendo, só se fica sabendo por causa das caixas de som.
Nossa Senhora Rainha da Polônia, Cracóvia. A imagem pretende ser de Jesus Crucificado |
A igreja moderna não é hierárquica: tudo é igual. Não há lugar sagrado.
O presbitério não se distingue da nave. Esta foi decapitada. É mais um local de reunião.
A igreja de Cristo Rei, em Las Vegas, é reconfigurada de tempos em tempos. Por vezes o altar está no centro, outras vezes junto a uma das paredes.
As cadeiras, ora em torno do altar, ora dispostas em asas. Os paroquianos não sabem o que os espera a cada domingo.
O atril ou ambão (pequena tribuna em forma de plano inclinado, onde se colocam livros ou pautas para serem lidos) está em alguma parte perto da mesa.
Ambiente de recolhimento e oração na catedral de Regensburg |
Coro, pianista, guitarrista, violinista, baterista ficam olhando para a assembléia.
O chamado “ministério da música” é mais perceptível que o do altar.
E como o agradável e o comum são objetivos da nova arquitetura, a música também tem que ser prazenteira e popular.
Os cânticos dos fiéis são abafados pelo sistema de som.
O altar não faz referência ao sacrifício, assemelha-se a uma mesa de jantar.
Não há iconografia sacrifical, e poucas vezes um Crucifixo destacado.
Na hora da comunhão, muitos leigos distribuem as hóstias; e se colocam em tantos lugares, que é difícil escolher de qual deles se aproximar.
Quando a Missa termina, os fiéis saem conversando, rindo. Em instantes o “espaço de culto” fica abandonado, folhetos cobrem as cadeiras e o chão fica como após o término de partida de beisebol. Domina a sensação de vazio.
Tabernáculo no convento agostiniano de Nossa Senhora das Graças, Ontário, Canadá |
O tabernáculo do novo estilo pode assemelhar-se a uma gaiola de passarinhos ou até a um totem, como no convento agostiniano de Nossa Senhora das Graças, em Ontário, Canadá.
Outros são cilíndricos ou cônicos, conhecidos como “torres do sacramento”.
O ambiente em torno nada tem de sacral, acolhedor, nobre ou elevado, e não convida à adoração.
O que há na cabeça dos desenhistas desses “espaços de culto”? Rose reproduz axiomas de um maître-à-penser da arquitetura eclesiástica moderna, Edward Sövik.
Este arquiteto luterano de Minnesota desenhou mais de 400 projetos para igrejas católicas e protestantes.
Dois conceitos de templo e de Igreja: aqui acima a catedral de Albi, França |
Ele forjou o conceito de não-igreja, ou casa do povo: uma estrutura que poderia não ser uma igreja e onde o povo pode ter seu culto. Portanto, um recinto o mais descaracterizado possível, sem respeitabilidade nem beleza.
Para Sövik, “se o local é reservado para a liturgia, logo vai ser interpretado como ‘casa de Deus’, vai ser visto como um lugar santo, enquanto outros locais serão vistos como profanos ou seculares” (U, 157). A santidade e a sacralidade da 'casa de Deus' é o mal a ser evitado!
... um outro conceito da religião e da igreja: conjunto paroquial ‘S. Tiago Apóstolo', Ferrara, Itália |
“Móveis e instrumentos simbólicos, pregou ainda Sövik, devem ser portáteis, variados, para serem trocados, mudados de lugar ou abandonados, na medida que o desejarem os paroquianos do futuro” (U, 157).
Tudo deve ser perecível, banal, incapaz de transmitir tradições, tidas como um mal a evitar.
continua no próximo post: Vias para uma restauração na arquitetura católica. “Feias como o pecado” ou antecâmaras do Céu? – 7
GLÓRIA CRUZADAS CASTELOS ORAÇÕES HEROIS CONTOS CIDADE SIMBOLOS
Eu nao sei porque a cultura passada de geracao em geracao nao se usa mais. Vejo o que antes era uma garagem se transforma em "casa de Deus". O que as pessoas tem na mente para fazer isso? Na biblia quando salomao construia o templo o lugar santissimo tinha de ser separado do profano; hoje em dia levam a vulgaridade e o profano para dentro da "casa do senhor". Nao sabem distinguir o santo do profano.
ResponderExcluir