Notre Dame de Paris, vista aérea. A restauração ainda continua |
Continuação do post anterior
“Deus escreve certo sobre linhas tortas”. É a única explicação para o despertar do interesse pelas catedrais góticas num século XIX já infectado pelos preconceitos positivistas.
Para ser breve, recorro uma vez mais a Irina de Chikoff,(15): Eugênio Viollet-le-Duc tinha 17 anos quando em 1831 Victor Hugo publicou Notre-Dame de Paris, verdadeiro manifesto a favor da arquitetura medieval desprezada durante séculos.
É surpreendente, pois Victor Hugo é o revolucionário que escreveu também Quatrevingt-treize.
Recém-casado, Viollet-le-Duc visitou Chartres e o Monte Saint-Michel em 1835. Foi para ele uma revelação, deixando-o convencido de que a arquitetura medieval era o estilo que melhor se adaptava ao gênio de seu país.
Pouco depois ele aceitava o convite de um amigo para fazer o levantamento dos principais monumentos medievais da França.
Tratava-se de Prosper Merimée, nomeado secretário da Comissão dos monumentos históricos pelo rei Luís Filipe.
Merimée confiou-lhe inicialmente a restauração da abacial de Vézelay e depois a da Sainte-Chapelle, em colaboração com Jean-Baptiste-Antoine Lassus, arquiteto e historiador de arte decorativa medieval.
Eugène Viollet le Duc, 1820-1910 |
Se Victor Hugo era fascinado pelas “duas torres formidáveis” de Notre-Dame, Viollet-le-Duc se impressionava mais com a pureza de suas linhas e com a doce luz difusa de suas rosáceas.
Seis anos antes, ele experimentara uma verdadeira emoção estética ao contemplar os vitrais da catedral.
Igualmente admirador e profundo conhecedor do estilo gótico, Jean-Baptiste Lassus transmitiu a Viollet-le-Duc grande parte de seus conhecimentos.
Arquiteto diocesano de Chartres e de Le Mans, ele projetou a nave da catedral-basílica de Moulins e restaurou várias outras igrejas, como a catedral Notre-Dame de la Treille, de Lille e a de São Pedro de Dijon. Faleceu em 1857.
Em 1859, Napoleão III inaugurou a nova e fabulosa flecha da catedral. Apesar de todas as dificuldades, principalmente a falta de verbas, em 19 anos (1845-1864) a restauração de Notre-Dame de Paris estava concluída.
Coro e altar mor de Notre Dame na Idade Média, desenho de Viollet-le-Duc |
Foi do primeiro, por exemplo, a ideia de povoar o exterior do edifício com gárgulas e figuras fantásticas.
Esse movimento restaurador das antigas jóias da Cristandade permite aos fiéis desnorteados de nossa época vislumbrar a beleza de um mundo maravilhoso que foi destruído ou abandonado.
Por isso, Notre-Dame, o Monte Saint-Michel, e em menor proporção outras catedrais francesas, encontram-se hoje entre os monumentos mais visitados da França.
A catedral é figura da Jerusalém celeste para a qual todos somos chamados.
E nela resplandece Aquela que, conforme a rezamos na Salve Rainha, é a nossa vida, doçura e esperança: a clemente e piedosa sempre Virgem Maria.
FIM
Notas:
1. Cfr. Comprendre l’art des églises, Denis R. McNamara, Dessain et Tolra/Larousse, 2012, p. 5
2. Encíclica Immortale Dei, de 1º-11-1885, Bonne Presse, Paris, vol. II, p. 39.
3. M. Aubert e S. Goubet Cathédrales et trésors gothiques de France, Arthaud, Paris, 1971, p. 7.
4. Op.cit., p. 22.
5. L’art religieux du XIIIe en France,Armand Colin, Paris, 1969.
6. Op. cit., vol. I, p. 10.
7. Cfr. Histoire de l’Art,Garamond, Paris, 1992, p. 11.
8. Ibid, pp.137 e ss.
9. Evangelho de São João que encerra a Missa tradicional. Veja-se o desenvolvimento dessas ideias na citada obra de M Aubert e S. Goubet, p. 23.
10. I. de C., La Couronne du Roi des Rois, in “Le Figaro” hors-série Notre-Dame de Paris, Janeiro/2013.
11. Idem, p. 138.
12. Em editorial para o número hors-série de “Le Figaro” de janeiro de 2013.
13. Revolução e Contra-Revolução,publicada em primeira mão por Catolicismo, Abril/1959.
14. Cfr. I. de C., Le temple de la déesse Raison, in “Le Figaro”hors-série Notre-Dame de Paris, p. 38.
15. Viollet-le-Duc, Le Néogothique,in “Le Figaro”, p. 42.
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