Pouco mais que uma aldeia, Rocamadour surge como um sonho das neblinas do vale. Se o célebre Monte de São Miguel – le Mont St-Michel, diz-se na França – aparece como uma montanha sagrada apontando para as nuvens, Rocamadour brota das entranhas da terra e das próprias pedras em busca do céu. Não é sem razão que Rocamadour significa “o rochedo de Amadour”.
Mas, quem foi Amadour, aliás, Santo Amadour?
Segundo a tradição ou a legenda (pois os documentos são escassos), Amadour não foi outro senão Zaqueu, o publicano do Evangelho.
Se a antiga Gália, depois reino de França, tornou-se a filha primogênita da Igreja, não foi sem razão. Para o seu território migraram vários discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo, entre eles Lázaro, o ressuscitado, e suas irmãs Marta e Maria, a Madalena, os quais desembarcaram em Saintes-Maries-de-la-Mer, antigo porto perto de Marselha.
O evangelho de São Lucas é bastante claro: Zaqueu era rico, o que não o torna simpático aos demagogos da pobreza, tão em voga em nossos dias…
Depois da Paixão e Morte de Nosso Senhor, ele teria servido a Nossa Senhora. E, aconselhado por Ela, tomado o destino de outros emigrantes da Terra Santa, indo buscar refúgio na Gália.
Uma legenda diz que Zaqueu teria-se casado com a Verônica, que enxugou a Sagrada Face de Jesus durante a Paixão. E que, após a morte da esposa, teria procurado a solidão para viver como eremita em alguma caverna a meia altura das paredes rochosas de um desfiladeiro, em cujo leito corre um pequeno riacho.
Esse canyon rasga as colinas de um planalto árido e pedregoso — que os franceses chamam Causses — entre os rios Dordogne e Lot.
Sobre a vida de Zaqueu ou Amadour, entretanto, pouco se sabe, a não ser que viveu e morreu naquele lugar ermo, conforme notícia que vinha de boca a ouvido desde tempos imemoriais.
Sabia-se que o santo estava enterrado naquelas rochas, mas não se conhecia o lugar exato.
O corpo incorrupto e o culto a Nossa Senhora
No século XII, veio contudo à luz o primeiro documento sobre o assunto. O abade do Monte São Miguel, Robert de Torigny, relata numa crônica consagrada à peregrinação do rei da Inglaterra, Henrique II, o Plantageneta, que “no ano da Encarnação de 1166, um habitante do lugar, estando nos seus derradeiros momentos, mandou aos seus, sem dúvida inspirado por Deus, sepultar seu cadáver à entrada do oratório” (que existia no lugar onde hoje se encontra o santuário de Rocamadour).“Ao cavar a terra, prossegue o abade, encontrou-se o corpo bem inteiro (ou seja, incorrupto) de Amadour; ele foi colocado na igreja, junto do altar, e assim é mostrado aos peregrinos”.
Vê-se, pela crônica, que no século XII, quando o corpo foi encontrado, já havia um verdadeiro culto ao santo, que o povo ligou logo ao de Nossa Senhora, da qual ele foi fiel servidor. Com efeito, o culto à Virgem Negra de Rocamadour vem de tempos imemoriais.
A expressão deve-se à cor negra da rústica estátua da Virgem Santíssima, venerada no santuário encravado na rocha.
Alguns especialistas se perguntam se a estátua não seria pintada, como no tempo dos romanos, e se a sua aparência atual, bastante rústica, não se deve ao descoramento da camada de pintura que talvez tenha existido outrora.
A explicação não passa, entretanto, de mera conjectura. De qualquer modo, o certo é que naquele lugar insólito formou-se, durante a Idade Média, uma encantadora aldeia, que ainda em nossos dias testemunha a glória de Zaqueu ou Amadour.
“Seu corpo, sabe-se de ciência certa, está incorrupto e nunca apodreceu”, recitavam os trovadores no século XIII. “Em pele e osso como Amadour”, diz um provérbio de Liège, que por vezes ainda se ouve em nossos dias.
continua no próximo post
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