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terça-feira, 20 de agosto de 2024

REIMS: a catedral da sagração dos reis da França

Catedral Notre Dame de Reims, vista interior da nave central
Catedral Notre Dame de Reims,
vista interior da nave central
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Toda civilização começa pelos padres, pelas cerimônias religiosas, pelos milagres mesmo. Nunca houve, nunca haverá, não pode haver exceção a esta regra.

Os reis da França conheceram estas leis comuns a todos os povos, quando São Remígio em Reims ordenou a Clóvis, ao sagrá-lo rei dos francos:

“Curva tua cabeça, ó sicambro, adora o que queimaste e queima o que adoraste”.

Entretanto, o poder do Rei da França vem de Deus a um outro título mais especial. Certo dia, Santa Joana d’Arc pediu ao Rei Carlos VII que lhe desse seu reino. Carlos VII ficou embaraçado, mas acedeu.

Santa Joana d’Arc fez lavrar um documento atestando o fato. Depois, em presença dos mesmos tabeliães, e como senhora da França, entregou-a a Deus, Rei do Céu.

E o Rei do Céu e Rei da França, por intermédio da mesma Joana, instituiu Carlos, como também a seus sucessores, seu procurador divino.

Católica, sabedora bastante de que era só no seio da Igreja que ela atingia sua perfeita plenitude, era assim, como procurador de Deus, que a França jubilosa aceitava e gostava de ver o seu rei.

Por isso, nada a empolgava tanto quanto o momento em que ele, na mesma catedral de Reims, ajoelhado diante do grande Pontífice, ouvia estas palavras solenes:

“Eu vos sagro Rei com este Santo Óleo, em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo”.


A cerimônia da sagração de Luís XVI começou com orações às seis horas da manhã do Domingo da Ssma. Trindade de 1775. 

Mas desde as quatro toda a nave estava cheia, e as damas, com trajes de gala, instaladas em seus lugares.

Sagração de São Luís IX.  Charles Amédée Philippe van Loo (1719 – 1795)
Sagração de São Luís IX.
Charles Amédée Philippe van Loo (1719 – 1795)
Erigira-se uma tribuna para que Maria Antonieta e as princesas pudessem ver melhor, sem se misturar com a multidão.

Na nave tinham-se colocado, pela ordem, os príncipes de sangue, os duques, os marechais de França, os pares eclesiásticos, o clero e a magistratura.

Às seis horas e meia, entrada solene dos seis príncipes, coroados e envergando seus mais suntuosos trajes de cerimônia, e representando os três mais antigos ducados e os três mais antigos condados do reino.

São eles: Monsieur, le Comte d’Artois, le Duc de Bourbon, que constituem os seis pares leigos. Os seis pares eclesiásticos trajavam vestes pontificais.

Segundo o cerimonial tradicional, o Rei esperava deitado, vestido com longa túnica de rendas de prata, no leito de Luís XIII, como se estivesse dormindo.

Os dois bispos batem à porta. Do interior, o Duque de Bouillon, camareiro-mor, pergunta:

– A quem procurais?

– Ao Rei – dizem os bispos.

– O rei dorme – replica o camareiro-mor.

– Procuramos Luís XVI, que Deus nos deu para Rei.

Abre-se então a porta, e os dois bispos abençoam o Rei. Em seguida, a entrada solene na catedral.

Enquanto os sinos repicam, o arcebispo e o clero vêm à frente do cortejo real, aberto pelo Condestável de França, representado pelo velho Marechal de Clermont-Tonnerre, portando a espada real, com a ponta para o alto.

Seguem-se cem guardas suíços com oboés, tambores, clarins, flautas e pífaros; os duques – o de Bouillon, o de Duras e o de Liancourt – e nove condes, com suas coroas, longos mantos de arminho e túnicas de ouro.

O futuro rei ficava aguardando ser chamado no Palácio do Tau,  contiguo à Catedral
O futuro rei ficava aguardando ser chamado no Palácio do Tau,
contiguo à Catedral
Depois, entre os dois bispos delegados, o Rei. Por fim os capitães das guardas, com túnicas e mantos de tecido de ouro, e todo o séquito com mantos de cetim branco.

É soberbo o espetáculo desse desfile de trajes de ouro, prata, rendas, veludo e seda, em que dominam o negro, o branco e o roxo, com alguns tons de púrpura e vermelho que realçam o todo.

Sua Majestade senta-se numa poltrona colocada sob o grande dossel erguido no meio do santuário.

O venerável arcebispo de Reims, o Cardeal de la Roche-Aymon, belo com seus mais de oitenta anos, fez questão de oficiar em pessoa, apesar da idade.

Depois do Veni Creator, o prior-mor da abadia de Saint-Rémy se apresenta à entrada da catedral, trazendo a santa âmbula, que tem origem milagrosa.

Foi trazida por uma pomba vinda do Céu, para a sagração de Clóvis. Desde então, ficou sob a guarda do prior de Saint-Rémy. Não deixa a abadia senão para a unção dos reis de França.

O prior-mor a conduz, montando um cavalo ajaezado com seda branca – como a pomba milagrosa – sob um dossel levado pelos quatro barões da santa âmbula: os Srs. de la Rochefoucauld, de Talleyrand, de la Rochechouart e de la Roche-Aymon.

Assim que o arcebispo recebe a santa âmbula e a coloca sobre o altar, o bispo-duque de Laon e o bispo-conde de Beauvais levantam Luís XVI de seu trono, para perguntar aos assistentes se o aceitam como rei.

A resposta a essa pergunta consistia num silêncio respeitoso, que substituía as aclamações de outrora.

O arcebispo se aproxima do rei e pede-lhe segurança e proteção para a Igreja, que o rei promete. Depois os dois bispos apresentam-lhe a fórmula do juramento real, que ele, sentado e de cabeça coberta, pronuncia em latim e em voz alta.

Obriga-se a manter a paz na Igreja de Deus, exterminar as heresias, defender seu povo contra as rapinas e as iniqüidades, governar com justiça e misericórdia, mantendo a ordem no reino, e morrer na Religião.
A Santa Ampoula com o óleo miraculoso com que foram sagrados todos os reis da França desde a conversão de Clóvis
A Santa Ampoula com o óleo miraculoso com que foram sagrados
todos os reis da França desde a conversão de Clóvis

Presta também os juramentos de soberano grão-mestre da Ordem do Espírito Santo e da Ordem de São Luís, e jura observar os editos sobre os duelos.

Levado até o altar e desvestido de sua veste de prata, ao seu lado se prosterna o arcebispo, e os bispos recitam as ladainhas, alternando com o coro. É a humilhação antes da exaltação.

Em seguida o arcebispo, tomando o óleo da santa âmbula, faz-lhe sete unções, dizendo:

“Eu vos sagro Rei, com este Santo Óleo, em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo”.

Sobre o altar se acham preparados a coroa de ouro, pedras preciosas e diamantes, o cetro de ouro de Carlos Magno, o bastão de justiça e o manto real.

São entregues ao rei, com estas palavras:

“Recebei este cetro, símbolo do poder real, cetro de retidão e regra de virtude, para bem conduzirdes a vós próprio, a Igreja e o povo, para vos defenderdes dos maus, corrigirdes os perversos e poderdes passar dum reino temporal a um reino eterno”.

O Rei está sagrado. A cerimônia da coroação vai começar.


terça-feira, 6 de agosto de 2024

A Luz de Cristo nas catedrais

Catedral Santo Estêvão, Viena.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
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Entrando no recinto sagrado de uma catedral, o povo exerce, sem sabê-lo, um magnífico ato coletivo de discernimento dos espíritos!

Assim como quando acabou o Dilúvio um arco-íris pousou sobre a terra, assim também, quando o aperfeiçoamento da Igreja e da obra de Nosso Senhor Jesus Cristo na terra chegou a um determinado grau, as almas humanas receberam esse discernimento.

Trata-se de um enorme discernimento coletivo. É como se uma luz do Divino Espírito Santo se tornasse sensível à mente dos homens.

E eles discernem belezas na Igreja Católica que eles traduzem nos modos maravilhosos que o estilo gótico excogitou.

Esse discernimento se manifestava não só na arte eclesiástica. Ele vivia palpitante em mil outros aspectos da vida real!

Na corporação de ofício, na aldeia de marzipã, na inocência dos camponeses que nos aparecem nas iluminuras ou nos vitrais, na paz dos gizantes com as mãos postas, numa tranquilidade desconcertante para nós, homens de hoje.

Catedral de Laon, França
Em tudo isso, Deus transparece mais e melhor.

Epifania! Nosso Senhor se mostra em Belém a todos os povos representados pelos três Reis Magos.

Naquele momento o “Lumen Christi” ‒ a “Luz de Cristo” ‒ brilhou para os pastores e para os reis.

Em Belém começou uma ação da graça cujo ápice histórico ficou sobrenaturalmente sensível na época em que o “Evangelho penetrava todas as instituições”, como S.S. Leão XIII se referiu à Idade Média.

Veio depois o trabalho maldito para tentar extirpar e ssa “Luz de Cristo”. E essa luz que resplandecia suavemente na Idade Média foi sendo extirpada ponto por ponto, de fora para dentro.

Orvieto, capela do corporal
Orvieto, capela do corporal
Primeiro foi o trabalho da Renascença, depois do Protestantismo, da Revolução Francesa e por fim do comunismo.

De início propôs aos homens as belezas do apenas clássico, do barroco, depois do romântico, com estados de espíritos e modos de ser culturais e morais, cada vez mais vazios daquela Luz de Belém.

Afinal apareceu a luz sinistra do socialismo e do comunismo bradando “morra a beleza, morra Deus”.

Mas ainda ficou ‒ em uns mais, em outros menos ‒ uma coluna de fogo dentro da alma que os torna sensíveis a esse “Lumen Christi”.

Então, nós vemos almas indiferentes ao gótico e simpáticas ao socialismo.

Porém, encontramos outras que conservam alguma grandeza e se voltam para a Luz de Cristo que emana daquelas catedrais, admiram-no, amam-no, tem saudade dele.

No fundo é uma saudade de Deus. E de Deus glorificado nesta terra.


(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, 03/01/1981. Texto sem revisão do autor).




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