A construção de uma cidade, templos religiosos e prédios públicos e privados |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
No homem medieval é preciso distinguir três categorias sociais essenciais:
1) o homem de oração e de estudo que é o clérigo.
2) o homem de luta e de ideal que é o guerreiro.
3) o homem de trabalho, na cidade ou no campo, que corresponde à plebe.
O próprio ao clérigo é um modo de considerar a pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, não como um qualquer considera, mas com uma espécie de enlevo apaixonado.
Esse é o caso do bom clérigo, evidentemente. Há também o mau clérigo, ao qual esse elogio não pode caber.
Então, o que caracteriza o bom clérigo é uma espécie de paixão por Nosso Senhor Jesus Cristo por onde, por exemplo, se ele considera a Paixão e Morte de Nosso Senhor, é propenso a se compenetrar de tal modo que até chora.
Se considera a Anunciação, ou os mistérios gozosos, ele é propenso a fazer quadros como os de Fra Angélico.
E ele assim age quando considera Nosso Senhor no Templo e em todos os episódios narrados nos Evangelhos.
Em todas essas considerações o bom clérigo é profundamente refletido, medita muito, e a meditação atinge até o fundo de sua sensibilidade.
Isto o leva, portanto, aos maiores sacrifícios e às maiores renúncias, e daí o grande número de santos entre o clero da Idade Média.
Também se nota isso na escultura e na pintura medievais. Pintura sobre tela, sobre qualquer outro material, pintura em cristal: os vitrais.
O Beau Dieu de Amiens, no pórtico central da catedral. |
Amiens é uma cidade no norte da França em cujo pórtico há uma imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Nessa imagem Ele de fato está para lá de bonito; não no nosso sentido comum da palavra bonito.
Mas nessa estátua está a alma d’Ele, o espírito d’Ele, está Ele.
Se a gente procurar quem esculpiu essa estátua, vai encontrar um homem que conhece Nosso Senhor, que pensou em Nosso Senhor, que tem Nosso Senhor na alma dele.
Quer dizer, é um homem de Deus que fez aquilo. De onde aconteceu de aquela estátua sair tão bem.
Isso vale para os vitrais, tapeçarias e tudo mais que a gente possa imaginar.
Agora, como é que uma pessoa que não viu Nosso Senhor adquire a possibilidade de representar tão bem a alma d’Ele?
Como é possível que homens como nós, que vemos essa representação séculos depois, cheguemos ao ponto de nos comovermos quase como os antigos diante daquela expressão, que há pelo menos quinhentos anos um homem pôde imaginar e representar?
Como pode ele imaginar Nosso Senhor?
Como pode representá-lo daquele jeito?
Só por meio de uma graça. Evidentemente, por meio de uma graça.
E essa graça traz como consequência o quê?
Catedral de Amiens |
É que o escultor, sem ter tido necessariamente uma visão mística extraordinária, ele teve uma intuição de Nosso Senhor Jesus Cristo por onde algo na sensibilidade dele o levou a representar uma figura parecida com a de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O que se passou nele de sobrenatural que o tornou capaz de representar o Homem-Deus encarnado que ele nunca viu?
O que houve no ponto de partida que ele de algum modo “viu” — não é por uma visão — mas viu a Deus e isto é um fenômeno místico?
Por isso são tão extraordinariamente comovedoras no seu conjunto as catedrais da Idade Média. É que todo aquele conjunto nos fala de Deus.
A fachada da igreja de Orvieto na Itália é muito bonita.
Mas ela não tem a expressão mística das outras coisas da Idade Média.
Aquela igreja de Orvieto é célebre. A alguma distância dela há a catedral de Orvieto, que é bem bonita também, mas não tem o esplendor do gênero do Beau Dieu de Amiens, que tem qualquer coisa de místico.
O que é? A gente não sabe.
A graça de Deus, quando é correspondida, não só faz funcionar bem a sociedade, mas faz a pessoa funcionar internamente bem.
Nossa Senhora de Amiens, no interior da catedral |
Por exemplo, um artista que tem dotes de escultor. Se ele utilizar adequadamente sua capacidade escultórica sai um escultor tão bom quanto o talento dele permite.
Então, um grande escultor recebendo a graça, atinge um nível que nenhum escultor conseguiria se não for animado pela graça.
Há obras-primas que podem ter sido feitas por um homem que está em estado de pecado mortal e que, portanto, não está animado pela graça.
Mas que adquiriu hábitos artísticos num ambiente onde há ou houve muita gente cheia da graça de Deus, e esse ambiente obriga o artista a fazer o bem.
Até o artista ordinário, pela ação da graça é levado a fazer coisa boa.
Essa é a razão pela qual em Veneza, mesmo nos recantos mais populares, se encontram realizações exímias de artesanato popular. Diante dessas coisas a gente não pode deixar de louvar a Deus porque fez os populares realizarem coisas que envolvem até aspectos de dimensão religiosa.
Essa consideração é profundamente diferente de certas manifestações limitadas de piedade, inclusive entre as pessoas piedosas hoje em dia.
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