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quarta-feira, 22 de julho de 2015

Sainte Chapelle: capela do rei da França,
custódio da Coroa do Rei dos reis




continuação do post anterior: A Sainte Chapelle e a reversibilidade entre a ordem católica e a ordem monárquica



A Sainte Chapelle é ela própria um imenso relicário feito de luz e vitrais. As relíquias ficavam no altar mor em urnas de uma riqueza única.

Os melhores artistas fizeram essas peças com um refinamento e uma exibição sem igual de pedras preciosas e ouro.

Ao pé de cada coluna, doze no total, a estátua de um Apóstolo como que segura o prédio. Em poucos anos foram instalados 750 metros quadrados de vitrais formando um grandioso livro de imagens.

Há um modo especial de ler esse livro, é um discurso maravilhoso que transmite os grandes fatos da Bíblia com uma insistência particular no Antigo Testamento.

Na parte central, os vitrais pintam a Paixão de Cristo, aponta Christophe Bottineau, arquiteto chefe dos Monumentos Históricos. No lado sul, onde bate mais o sol, é apresentada a dinastia dos reis de Israel que termina na pessoa de São Luís.

Não sabemos quem concebeu este livro de imagens. Quiçá o próprio São Luis, por que não? pergunta Le Pogam.

A epopeia bíblica descrita nos vitrais reforça o paralelismo com a monarquia do povo eleito do Novo Testamento.

David rei de Israel, Salomão fundador do Templo, Moisés o legislador e Aaron, primeiro Sumo Sacerdote coroado com uma coroa que parece com a tiara do Papa, são prefiguras da ordem católica medieval.



Mas a coroa de Aarão também é semelhante à coroa usada na sagração do rei da Franca, pois o rei é ao mesmo tempo rei e sacerdote, um novo Aarão.

Essa alusão reafirma o caráter “sacerdotal” da missão real: a missão de ser a ligação entre Deus e os homens.

Os vitrais apresentam o rei da França como um rei ideal o mais próximo possível da realeza de Cristo.

Os vitrais também narram a história do mundo desde sua criação até São Luis, explica a historiadora Françoise Perrot, e prossegue até a rosácea do Apocalipse que encerra a história do mundo.

São Luis herdando a custodia da Coroa é como que um herdeiro da realeza de Cristo, e o digno sucessor dos reis de Israel.

A instalação da Santa Coroa no coração de Paris fez do povo francês um novo povo eleito, o povo com quem Deus fez um pacto selado pela Coroa de Espinhos, assim como o pacto entre Deus e os judeus foi selado pela Arca da Aliança, diz a historiadora Mercuri.

A história da monarquia francesa ficou inscrita na história da salvação. Nenhum soberano antes de São Luis fez um gesto tão audacioso.

Ele estava certo que no Fim do Mundo, Cristo em pessoa iria à Sainte Chapelle a recuperar sua Coroa, a poria sobre Sua Cabeça para julgar os vivos e os mortos e encerrar a História, explica o historiador Vauchez.

A construção demorou entre 6 e 7 anos e a capela foi consagrada em 1248. A sua construção fez parte dos preparativos para as Cruzadas. O desejo de reconquistar os Lugares Santos perpassa toda a Sainte Chapelle.

Também os documentos que provam a propriedade da Coroa sobre seus feudos eram conservados nas dependências da Sainte Chapelle, posto o caráter sagrado da propriedade e da soberania do reino.

Na parte superior ficava a Coroa de Espinhos. Na parte inferior as relíquias de São Luís e outros santos. A Coroa de Espinhos hoje é conservada na catedral Notre Dame e exposta a veneração solene todas as sextas-feiras.
Na parte superior ficava a Coroa de Espinhos.
Na parte inferior as relíquias de São Luís e outros santos.
A Coroa de Espinhos hoje é conservada na catedral Notre Dame
e exposta a veneração solene todas as sextas-feiras.
São Luis dedicou toda sua vida a rezar pedindo morrer por Cristo.

Quando ele rezava na capela alta todo o ambiente o convidava a imitar o exemplo do martírio de Cristo e de todos aqueles que deram sua vida por Ele.

São Luis morreu na Cruzada e sua cabeça acabou sendo depositada dentro de um magnífico relicário sob o ainda mais rico relicário da Coroa de Espinhos.

Os milagres se multiplicam aos pés dos relicários do rei santo. Ele foi canonizado em 1297.

O relicário da cabeça de São Luis ficava em linha reta abaixo da Coroa de Espinhos consagrando a submissão do supremo governo do reino a Cristo, e patenteando simbolicamente que Cristo é o rei da França.

São Luis ficou assim como que perpetuamente coroado alegoricamente com a Coroa de Espinhos, e todos os seus sucessores devem agir como dignos vassalos dispostos a carregar essa Coroa até o fim.

Os reis da França viravam assim imagens vivas de Cristo que deviam fazer não sua vontade, mas a vontade do Redentor.

A Sainte Chapelle está sendo restaurada em grande estilo, mas um imenso problema fica sem resolver: hoje ela é um museu do Estado. Está certo que seja assim?

Não deve ela ser restaurada em sua finalidade original de capela onde a ordem temporal e a ordem espiritual, a ordem simbólica sobrenatural e a ordem natural se osculam e se unem indissociavelmente?


Video: Sainte Chapelle: capela do rei da França, custodio da Coroa do Rei dos reis








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