Pugin: o estilo gótico exprime as verdades do culto católico. Igreja de São Domingos em Londres. |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Em seu histórico ensaio “Contrastes”, o arquiteto A. W. Pugin que desenhou o Big Ben de Londres, faz um paralelismo entre os edifícios nobres da Idade Média, notadamente os religiosos, e os modernos prédios de gosto decadente que predominam hoje.
Eis alguns excertos livres:
A arquitetura influencia a fé dos fiéis que frequentam o templo. Isso é particularmente sensível nas igrejas católicas onde todos os elementos arquitetônicos são concebidos em função dos ensinamentos e da liturgia da Igreja.
Nelas a bênção da graça divina se torna como que sensível, toca os corações falando uma linguagem toda especial e como que pessoal para cada um.
Essa influencia da graça de Deus está ligada muitas e muitas vezes a esta ou aquela imagem, a este ou aquele vitral.
É porque esses elementos artísticos transmitem um mundo de imponderáveis, de valores e sentimentos inefáveis.
Foi por isso que o protestantismo logo se assanhou contra a arquitetura e a arte católica, seus templos, imagens e símbolos.
Entretanto, seria errado achar que o protestantismo foi a causa primária do apagamento da fé na Inglaterra.
Houve numa realidade anterior: o deteriorado estado da fé em toda a Europa no século XV.
Nela deve ser apontada a verdadeira origem do Renascimento dos princípios pagãos e sua consequência: a aparição de crenças protestantes.
Catedral de York, Grã-Bretanha, foto David Iliff |
Essa tendência cultural levou os homens a não gostar, e, finalmente, abandonar os princípios religiosos católicos.
Para esses dois monstros, a Renascença neopagã e o protestantismo, terem deitado raízes era preciso que a religião católica estivesse extremamente doente.
Não podemos imaginar um Santo Ambrósio ou um São Crisóstomo mandando pintar cenas de bacanais e ilustrações de fábulas de Ovídio para enfeitar suas residências episcopais, nem São Beda ou São Cutberto se tornarem calvinistas.
Se em face de Henrique VIII, que excedeu Nero na tirania e na crueldade, o espírito católico não tivesse estado numa vazante extremamente baixa, a Igreja da Inglaterra, em vez de sucumbir, teria crescido em glória e pureza, como sempre fizera por efeito da perseguição nos dias de fé viva.
É evidente que a Igreja da Inglaterra tinha miseravelmente degenerado.
A chamada Reforma protestante é agora considerada por muitos homens de instrução e de mentes sem preconceitos como um flagelo terrível, permitido pela Providência divina como castigo pela fé deteriorada.
Aqueles por quem foi praticada agora são considerados à luz da verdade de astutos saqueadores da Igreja e intrigantes políticos, em vez de santos mártires e apóstolos modernos.
Catedral de Ripon, Grã-Bretanha. |
E sem perceber que em nosso dividido e dispersado Estado, como consequência da Reforma, estamos sofrendo severamente pelos pecados de nossos pais.
Essa é a única visão realmente consistente que se pode formar a respeito do assunto.
A Igreja da Inglaterra não foi atacada e derrubada por um inimigo estrangeiro.
Ela foi consumida pela decadência interna.
Seus privilégios e suas abadias foram entregues por liquefação e compromisso dos eclesiásticos nominalmente católicos. Suas receitas e seus gloriosos ornamentos foram despojados e apropriados pelos assim chamados nobres católicos.
Ambos, o protestantismo e o paganismo renascentista foram gerados por homens indignos do nome de católicos.
O primeiro é, com efeito, uma consequência do último.
Por estranho que possa parecer, há uma grande conexão entre os jardins dos Medici, cheios de luxo pagão, e a pregação de igrejas evangélicas independentes que agora desfiguram a terra.
Ambos são totalmente opostos aos verdadeiros princípios católicos, e nenhum dos dois poderia ter existido se os princípios não tivessem decaído.
Catedral de Canterbury, Grã-Bretanha. |
E depois de retratar o terrível perigo que adviria da nova onda dos estilos clássicos e pagãos, que estavam começando a usurpar o lugar do sentimento e da arte cristã, ele exclamou:
“por vossa aplicação continuada a essas coisas, e vossa negligência das sublimes verdades da fé católica, vós envergonhareis da Cruz de Cristo, e vós vos embebereis do espírito orgulhoso de luxo e dos sentimentos de paganismo; até que, fracos na fé e nas boas obras, vós caireis em heresias, ou na própria infidelidade”.
Quem não pode ver essa terrível previsão cumprida na revolução religiosa desoladora do século XVI, à qual devemos o presente estado dividido de seitas religiosas no país?
O autor está completamente pronto para manter o princípio de contrastar excelência católica com a degeneração moderna.
Pugin, o arquiteto de Deus
Augustus Welby Northmore Pugin, nascido em Londres em 1º de Março de 1812, tinha apenas 24 anos quando publicou Contrastes.
O autor ofereceu nele todo um programa que redefiniu a arquitetura como uma força moral, imbuída de significado político e religioso.
A mensagem de Pugin era simples: se algo está errado em nossas cidades, algo está errado conosco, sendo necessárias reformas na sociedade e na arquitetura.
Em Contrastes ele defendeu um renascer da arquitetura gótica medieval, e com ela um retorno à fé e às estruturas sociais da Idade Média.
Pugin propôs-se reconstruir a Grã-Bretanha através de uma Cristandade gótica católica.
Foi uma cruzada inimaginável, mas o sucesso foi maior do que o esperado. Quando fez 30 anos, já havia construído 22 igrejas, três catedrais, três conventos, escolas e um mosteiro cisterciense.
Pugin queria reformar a sociedade levando-a de volta a uma hierarquia benigna, a um medievalismo no qual cada classe poderia olhar para a que lhe era superior e dela receber apoio, enquanto os de cima aceitavam a responsabilidade de proteger os que estavam embaixo.
Ele forneceu elementos para o projeto vencedor do Parlamento de Londres onde desenhou alguns de seus mais admirados ambientes, como o interior da Câmara dos Lordes.
Seu último projeto, feito em 1852, ficou o mais famoso: a torre do relógio do Palácio de Westminster, o celebérrimo Big Ben. Ele morreu aos 40 anos de idade.
(Autor: Rosemary Hill, autora de “Arquiteto de Deus: Pugin e construção da Grã-Bretanha romântica”, Penguin ed.)
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