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terça-feira, 30 de julho de 2019

As almas que fizeram as catedrais.
São Vaast: bispo do fogo sagrado

São Vaast expulsa o lobo da igreja.
São Vaast expulsa o lobo da igreja.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs









Quando se fala das catedrais poucas vezes o relato se detém para descrever os homens que as fizeram ou inspiraram.

Entretanto, sempre que se analisa uma obra de arte, um dos primeiros elementos a considerar é o nome do artista, a época em que viveu, os fatos ou estilos que condicionaram suas realizações.

Mas fala-se pouco dos autores ou inspiradores dessas obras supremas da arte que são as catedrais, que de alguma maneira resumem em si todas as outras artes.

Pode se alegar que as catedrais demoravam muito para ser completadas – até algumas ficaram inconclusas – e portanto houve muitos propulsores.

Mas, vasculhando a história é possível identificar almas inspiradoras que pela sua grandeza lançaram os fundamentos de cada catedral e as marcaram para sempre.


A fachada da catedral de Laon lembra a antiga catedral de Arras
A fachada da catedral de Laon lembra a antiga catedral de Arras
Essas almas foram de uma tal dimensão que ainda quando as necessidades da história – crescimento do rebanho fiel, guerras ou calamidades devastadoras – forçaram a reconstruir a catedral, a lembrança daquele santo fundador ficou tal vez mais viva do que antes e guiou a nova construção ou reconstrução.

Vejamos um exemplo.

É um santo muito pouco conhecido entre nós: São Vaast, bispo de Arras, norte da França.

Ele ficou conhecido como o “bispo do fogo sagrado”. Vejamos por que.

O santo sucessor dos Apóstolos viveu até o ano 530 ou 550, não se sabendo o ano de seu nascimento.

Segundo o bem-aventurado Jacques de Voragine o nome Vast (ou Vaast) vem de ‘voeh distans’, ou ‘desgraça eterna’.

Pois São Vaast combateu sem cessar o pecado e os pecadores empedernidos.

Por isso, segundo Voragine no inferno os precitos gemem sem cessar:

“Desgraça para nós porque ofendemos a Deus!

“Desgraça porque obedecemos ao demônio! Desgraça porque não podemos mais morrer!

“Desgraça por sermos tão terrivelmente atormentados!

“Desgraça porque não sairemos mais do inferno!”

A catedral de Senlis também evoca a de Arras
São Vaast foi sagrado bispo de Arras por São Remígio, bispo de Reims que converteu o rei franco pagão Clóvis e com ele a França inteira.

São Remígio enviou o jovem Vaast à futura diocese de Arras com autoridade para velar sobre o território que depois daria a diocese de Cambrai.

Quando ele chegou à porta da cidade, encontrou dois pobres que pediam esmola.

Um era cego e o outro mancava. Então lhes disse:

– “eu não tenho nem ouro nem prata, mas aquilo que eu tenho eu vos dou”.

A continuação ele elevou uma oração e curou-os, a um e outro.

Um lobo tinha montado sua toca numa igreja abandonada e invadida pelo mato.

Vaast ordenou-lhe que saísse e não ousasse mais voltar. E assim aconteceu.

No fim de sua vida, após converter um grande número de pessoas com suas palavras e com suas obras, no quadragésimo ano de seu episcopado, ele viu uma coluna de fogo que descia do céu até sua casa.

Ele compreendeu então que seu fim se aproximava.

Pouco tempo depois, ele morreu em paz, no ano do Senhor 550.

Enquanto acontecia a translação de seu corpo, Omer, que era cego por velhice, lamentava-se não poder contemplar o corpo do santo.

Ele, então, recuperou a vista na hora, mas pouco depois, segundo seu desejo, voltou a ficar cego.

O santo inspirou a construção da primeira catedral pois ele foi o primeiro bispo da cidade.

Interior da catedral de Laon
Interior da catedral de Laon
Essa acabaria ficando pequena.

E entre 1030 e 1396 foi levantada a catedral gótica considerada a mais bela do norte da França.

Haveria de chegar a malfadada Revolução Francesa no século XVIII para destruir essa joia.

A nova catedral em estilo clássico não tinha o brilho da gótica, mas levava o nome do santo que estava na origem de tudo: São Vaast e ao qual foi agregado o nome de Nossa Senhora.

Mas, não durou muito. Foi devastada durante os ferozes combates de trincheiras e artilharia da I Guerra Mundial.

E nem a restauração resistiu algo: os bombardeios aéreos da II Guerra Mundial também a reduziram a cacos.

Hoje, a catedral clássica voltou a ser refeita, aliás, sem muita originalidade.

Mas um nome passou incólume por cima de todas essas desgraças: o de São Vlaast, associado a Nossa Senhora para dar o nome à catedral através dos milênios.

As imagens da catedral gótica de Arras que sobraram são muito pobres.

Por isso para ilustrar este post escolhemos fotos de duas catedrais que segundo os entendidos se assemelham mais à catedral medieval de Arras: as de Laon e Senlis.




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